segunda-feira, 22 de maio de 2017

Um Lobisomem Americano em Londres


1981 foi um ano mágico para fãs de filmes de lobisomem, pois foram agraciados com três ótimos exemplares com o lançamento de Lobos e Grito de Horror, além de Um Lobisomem Americano em Londres. A perola Cult dirigida por John Landis que comentarei nesse texto.

Lançado em 21 de agosto de 1981 tanto nos EUA como no Reino Unido. Ele tem sido considerado em varias listas como um dos melhores do gênero. E é a perfeita porta de entrada para quem não gostar de terror, devido ao seu humor e momentos assustadores misturados na dose certa, ótimos efeitos e personagens carismáticos.

Começamos o filme com belas paisagens do interior da Inglaterra, enquanto os creditos são mostrados e ao fundo ouvimos a musica Blue Moon, na voz de Bobby Winton. Essa é a primeira das três vezes que essa musica é usada no filme, cada uma com um artista diferente a executando. E um detalhe: toda a trilha sonora do filme é composta de musicas com a palavra moon (lua) no titulo. A trilha sonora instrumental feita para o filme, composta por Elmer Bernstein também é ótima.

Voltando ao filme, logo somos apresentados a nossa dupla principal, David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman ( Griffin Dunne), saindo de um caminhão cheio de ovelhas, são dois amigos americanos fazendo uma viagem pela Europa no melhor estilo mochilão.  Em pouco tempo é estabelecida a relação da amizade dos dois.

Entre uma gracinha e outra, eles chegam ao pub O Cordeiro Massacrado, buscando refugio, descanso e algo para aquecer o estomago. Mas não tem a melhor recepção de todas, com as pessoas ao redor olhando desconfiadas. O caso já visto em muitos filmes da pequena comunidade que guarda um segredo de estranhos que chegam lá. Porém, David e Jack decidem ficar.

A estadia é totalmente estragada quando Jack pergunta em voz alta sobre um misterioso pentagrama na parede que o deixou curioso. Pois como ele lembra, é a marca do homem lobo no filme clássico O Lobisomem com Lon Chaney Jr. Vendo que o clima não ficou nada bom, pois eles chamaram de forma negativa a atenção de todos do local, os dois decidem sair e continuarem a caminhada. Mas sem antes receberem um conselho: Fiquem na estrada,  fiquem longe do pântano e cuidado com a lua.



É nessa cena noturna, numa caminhada no local desolado que vemos uma das melhores criações de suspense do cinema de horror. Logo o clima mais descompromissado é envolto de uma tensão angustiante. Pois os dois logo percebem que saíram da estrada, é lua cheia e algo muito perigoso esta rodeando. O som de um uivo assustador de longe faz não só os dois amigos do filme se arrepiarem, mas quem esta assistindo também.

Aparecendo de surpresa e nos dando um susto que realmente funciona, uma enorme criatura parecida com um lobo ataca os dois. Por sorte as pessoas que estavam no bar aparecem na hora certa e matam o monstro a tiros, Mas não conseguem evitar que ele mate Jack e deixe David gravemente ferido.

Esse segmento do filme nos mostra que é possível desenvolver um apreço do publico pelo personagem, fazendo a gente conhecer e se identificar pelo mesmo, apenas com diálogos e ações acontecidas em tempo real. Sem embolação, a simpatia e entrosamento dos dois atores também ajudam, nos fazendo acreditar que realmente são amigos de longa data.

David acorda em um hospital em Londres algum tempo depois. Confuso e ferido, ele descobre que Jack esta morto. Para piorar, ninguém acredita na sua versão do que aconteceu aquela noite, que um animal os atacou. Pois segundo as pessoas da comunidade que o salvaram, foi tudo obra de um maníaco.

Durante sua estadia no hospital ele tem pesadelos cada vez mais estranhos, e para piorar começa a receber visitas mal assombradas de seu amigo morto, com o rosto e pescoço destroçados devido ao ataque. Ele explica a David que na verdade foi um lobisomem que os atacou e agora ele ira se transformar no monstro na próxima lua cheia. Para evitar isso, e que a alma de Jack possa descansar em paz, David precisa se suicidar.



Duvidando de sua própria sanidade, David não acredita na aparição do amigo, mesmo ele surgindo em vários momentos do filme o avisando. Cada vez mais decomposto, é interessante ver o estado dele mudando, ate se tornar uma caveira ambulante, num ótimo efeito criado por maquiagem.

Tentando normalizar sua vida, David acaba se envolvendo com uma das enfermeiras que cuidam dele, Alex Price, interpretada pela Jenny Agutter. Indo morar com ela, eles logo criam um romance.

É claro que todos esperam que a transformação aconteça. E não somos desapontados, com talvez a cena de transformação mais bem feita da historia.  Ao som de Blue Moon por Sam Cooke, David é surpreendido com uma enorme dor e uma sensação de estar pegando fogo. Vemos todo o doloroso processo do corpo mudando nos mínimos detalhes. Sua estrutura óssea muda , sua mão se estica, os pelos crescendo, sua coluna vertebral amplia, um focinho surge em seu rosto e os olhos ficam num assustador amarelo. Logo ele esta transformado numa terrível criatura sedenta por sangue.  É tão crível que por um momento esquecemos que estamos vendo efeitos especiais e sim algo real.



Isso graças ao talento do mestre dos efeitos especiais Rick Baker, um cara diferenciado mostrando o seu melhor aqui. Tanto que inclusive ganhou o Oscar pelo trabalho aqui, sendo uma das poucas vezes que uma produção do gênero levou a estatueta pra casa. Deste a maquiagem do cada vez mais podre Jack, aos efeitos da criatura, o gore e tudo mais, é tudo feito com efeitos práticos, sem um pingo se quer de CGI, algo delicioso de se ver.

Logo David transformado em lobisomem esta a solta pelas ruas de Londres, fazendo inúmeras vitimas e deixando em perigo todos ao seu redor.

O diretor John Landis não era conhecido por fazer filmes de horror e nem cultuado como um grande nome do gênero como é hoje quando lançou essa perola. Na verdade seu nome estava associado a comedias hilárias como O Clube dos Cafajestes e os Irmãos Cara de Pau. Por isso muitas pessoas estranharam ao sair das salas de cinema da época, esperando uma comedia pura. De acordo com o próprio diretor, os financiadores consideravam seu roteiro “muito assustador para ser uma comedia e muito engraçado para um filme de horror”.

Esse background no humor certamente o ajudou na hora de produzir o longa. Pois as piadas estão bem dosadas e aparecem sempre no momento certo, não destoando dos momentos mais pesados, algo que pode estragar completamente o filme se não for feito da maneira certa. O perfeito equilíbrio entre o morrer de medo com o morrer de rir.



Em alguns momentos esquecemos que estamos vendo um filme de terror e damos risada de algum dialogo, porém, após a primeira transformação, quando os elementos de horror voltam ao filme, estamos tão bem relacionados com os personagens que não são apenas cenas sangrentas colocadas gratuitamente na tela.

É tudo tão bem escrito que mantêm o interesse de quem assiste até o fim, nos fazendo se importar com os personagens e moldando o clímax até o momento final, onde o caos total toma conta das civilizadas ruas de Londres.

O roteiro começou a ser escrito em 1969, com a ideia estabelecida e aprimorada após do diretor presenciar numa viagem de carro um enterro cigano. Todo o misticismo da situação, que envolvia alho e outras peculiaridades, deixaram Landis curioso.












Porém, apenas após conseguir fama com as comedias que ele conseguiu o orçamento necessário para filmar. Recebendo criticas na maioria positivas no seu lançamento e com o lucro acima dos gastos. O único problema foi o dito anteriormente: as pessoas vendo o nome de John Landis no cartaz esperavam uma comedia escrachada e se surpreenderam com as cenas de horror. Mas isso não atrapalhou essa obra de virar o grande clássico que é hoje.

As referencias aos clássicos do passado são constantes na película, principalmente ao O Lobisomem da Universal de 1941, mostrando que John Landis era um fã. Fazendo uma homenagem a épocas passadas do horror, com um toque moderno pra época e que continua funcionando nos dias de hoje.


Por isso indico esse filme para quem ainda não teve o prazer de assisti-lo. Seja você fã de comedia, horror, ou que gosta de uma boa mistura dos dois. Assista hoje mesmo e cuidado com a lua.


Nenhum comentário:

Postar um comentário