Claire Elise Boucher – Conhecida artisticamente como Grimes
– é um achado no mundo da musica pop atual. Se é que podemos resumir sua rica
musica simplesmente nessa palavra de três letras. Palavra que parece limitar o
artista e o publico que esperam um produto padronizado e muitas vezes sem
qualidade, culpa de embustes que provam que não é preciso exatamente de talento
musical para alcançar o sucesso.
Mas a realidade é que
o conceito de pop deveria representar um plano vasto de experimentação a qual o
artista pode usufruir sem medo. Uma musica que não tem amarras. E por estar aberta para usufruir de todo tipo
de experimentação, se torna tão especial e única. Como uma escultura inacabada
que pode ser moldada como quiser e a qualquer momento.
Mas afinal, pode o pop ser inteligente? Pode uma musica
feita para massas não ser um produto totalmente pasteurizado? A resposta é sim,
pode e muito. E o trabalho dessa mulher
é uma das provas disso
Deste que Lady Gaga surgiu no mainstream e mostrou que o
bizarro e que os esquisitos também tem espaço no mundo, uma nova maneira de ver
a musica pop surgiu e assim pessoas menos acostumadas ao estranho abraçaram a
ideia. Claro que seu som precisou de um tempo para ser lapidado e criar autonomia
total, mas ela foi um certamente ponto de virada no mundo pop quando surgiu.
Vemos isso em Grimes, e mesmo se um dia ela declarar que não
sofreu certa influencia da Gaga, sua musica e conceitos visuais que fogem do
comum certamente são a causa desse ponto de virada que te falei.
A esquisitice dela pode parecer algo muito conceitual e difícil de ser compreendida, porém
não é inacessível. Pois temos aqui uma artista que não tem medo de tentar fazer o ouvinte querer dançar com seus ritmos e se pegar imerso num mundo novo, um lugar cheio de visuais e sons que aconchegam e desafiam nossa comodidade.
Canadense e lançando
discos deste 2010, seu ultimo trabalho e foco do texto é Art Angels de 2015.
Seu som foi mudando com o tempo, indo dos tons mais negros para os mais
coloridos, porém sem abandonar sua identidade. Ela parecia ter chegado ao
limite com o álbum anterior – Visions de 2012 - mas aqui com Art Angels ela atinge a perfeição
que a experiência proporciona.
Ela compõe sua própria música, produz por conta própria seus
álbuns, assim como seus coloridos e interessantes vídeos clipes . E no palco (com a ajuda dos
vocais de apoio da também cantora Hana e duas dançarinas) é praticamente sua
própria banda. Se utilizando de samples para ajudar nas interpretações que não
são perfeitas, mas demonstram que é uma artista que quer manter o foco e
controle de sua apresentação.
Em Art Angels ela abraça um som mais dançante,
mais melódico. Influenciada e executando a sua maneira o que artistas como Kate
Bush e Bjork fizeram antes. Flesh
Without Blood e seu clipe cheio de simbolismos sobre si ou a visão vampiresca
sobre a máfia italiana Kill V. Maim mostram isso com seus refrões grudentos.
O som eletrônico de Grimes está cada vez mais orgânico e palpável,
mais pulsante. Isso com a ajuda de
violinos, guitarras, pianos e muitos outros instrumentos - todos com a sua
assinatura - fazem da música mais viva. Uma mistura da nostalgia e beleza
melancólica. Com momentos de deliciosa loucura, onde as vozes na cabeça da
artista e das nossas parecem querer gritar para serem livres. Um lugar onde o
amor salva, mas também nos deixa loucos. Isso pode ser visto em faixas como
Realiti e Butterfly, onde ela alcança nossas mais profundas emoções e as puxa
para cima. Como se fossemos obrigados a olhar num espelho e encarar quem
realmente somos.
Sua voz incomum nos convida para um passeio cheio de
revolta. Um passeio que pode não ser fácil, mas é necessário ser feito. Isso é mostrado de forma hora sutil, como em
California, hora numa porrada como Venus Fly, em parceria com Janelle Monáe.
Grimes – Ou Claire – talvez não tenha ainda o reconhecimento
que merece, mas isso deve ser mudado em breve, se é que existe justiça nesse
mundo. Amantes de boa musica, por favor, deem uma chance para o seu som único.
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