domingo, 9 de novembro de 2014

A Meia Noite Levarei Sua Alma




Minha introdução pelo mundo do cinema de horror do cultuado diretor brasileiro José Mojica Marins (lembrando que estou falando apenas dos filmes de terror dele, não das pavorosas investidas pornográficas que ele fez nos tempos de vacas magras dos anos 80) foi no começo por simples curiosidade de saber que existia sim cinema de horror no Brasil.

Curiosidade básica de quem nasceu em tempos errados e costuma engolir em todo lugar que não existiu e nem existe cinema de gênero nacional. Papo manjado de critico e publico que após a retomada tentam fazer um crime pior que a pedofilia o ato de querer fazer filmes de ação, fantasia, ficção ou no caso aqui, terror no Brasil.

Um pensamento totalmente errado, que não afeta somente os realizadores desse tipo de produção nacional, mas o publico. É como colocar uma venda nos olhos que só deixa a pessoa ver o que querem que ela veja. O publico deve ser livre para querer ver o que quer, e alem de tudo, os realizadores devem ser livres para fazerem o que quiserem.

Cinema é uma religião para esse que vos escreve e para muitos, assim como foi e é para Mojica.  Uma pessoa a frente do seu tempo que juntou sua paixão pela coisa e suas qualidades como cineasta para realizar verdadeiras obras primas.

À Meia Noite Levarei Sua Alma é o filme em foco aqui, primeiro longa de terror do diretor e considerado também o primeiro filme de terror brasileiro. Um fato importante para a cinegrafia brasileira, mas que infelizmente não deixa de chegar com atraso, visto a longa tradição de cinema fantástico estrangeiro, vindo deste o cinema mudo.

Hoje pode parecer estranho, mas esse filme que tratamos aqui foi um sucesso de publico, que ficou vários meses em cartaz. Imagine hoje em dia um filme de horror nacional fazer bilheteria? Só lembrando que a ultima investida de Mojica, Encarnação Do Demônio, foi um fracasso no sentido financeiro.

Logo no começo, temos o próprio Zé do Caixão, interpretado por Mojica de frente para câmera citando um texto que mostra sua filosofia:

O que é a vida?
É o princípio da morte.
O que é a morte?
É o fim da vida.
O que é a existência?
É a continuidade do sangue.
O que é o sangue?
É a razão da existência.

Podemos ver que o personagem encarnado por Mojica é muito mais que um simples vilão de filmes de terror. Podemos ver também que não estamos vendo um simples filme de terror barato.

E por favor, chamar isso de trash é uma heresia. Não confundam trash com filmes de horror de baixo orçamento, principalmente esse feito na raça e com muita paixão. O filme é barato? Sim, É mal produzido? Definitivamente não, alias, ouso dizer que esse é um dos filmes de horror mais dinâmicos que já vi para sua época.

A trama mostra uma cidade do interior onde vive o coveiro Josefel Zanatas (Zé do Caixão), com uma maldade e descrença em dogmas na alma que ultrapassa qualquer limite de moralidade. Seu objetivo maior é criar o filho perfeito, continuação de seu sangue, e para isso, precisa da mulher ideal.

A personificação física de Zé do Caixão é fácil de reconhecer ate para quem nunca viu um filme dele: capa preta, cartola, e longas unhas. Uma imagem que ficou certamente marcada no imaginário popular.

Temido pelos habitantes locais, algo que vemos claramente durante a primeira cena do bar, onde Josefel corta os dedos de um homem que recusa a pagar uma divida de jogo. Uma cena gore antes de George Romero popularizar o estilo com seu Night of the Living Dead.

Por isso, logo nos primeiros minutos, o efeito de filme barato e bobo que ele passa no começo muda e ele se torna uma obra ultrajante, violenta e corajosa, de blasfêmias não só da religião, mas de uma sociedade atrasada pelo tempo e dogmas. Não só pelo personagem de José Mojica ser um filho da mãe violento e amoral que não insiste em violentar e matar quem passa pelo seu caminho, deixando ícones modernos do horror gringo como Freddy Kruger e Jason parecerem menininhas. Ele acredita fielmente no que faz e sua convicção pelos atos horríveis que comete em frete a câmera é tão forte que acaba sendo justificada.

A fotografia em preto e branco realça ainda mais o clima de filme clássico da longa, apesar de que sua violência o deixe atual para a época e ainda para os dias de hoje. Comer carne durante um feriado religioso pode parecer ingênuo hoje em dia, mas na época era o mais extremo que um filme, não apenas nacional, poderia chegar.

A Meia Noite Levarei sua Alma é um filme feito por um cara do povo para o povão que gosta de horror. Mas se engana quem pensa que aqui temos um produto passageiro. Como eu disse, Mojica estava e ainda esta a frente do seu tempo. Esta para nascer uma pessoa no Brasil que traga tantos elementos clássicos e ainda sim frescos em seus filmes com tanta maestria como ele.

E apesar de ser difícil não considerar o personagem do Mojica um vilão. Ele foge do clichê por ser totalmente bem construído, e foge do clichê, pois nos vemos não somente o lado do vilão, mas as suas motivações e ponto de vista. Violentar uma mulher para gerar o filho é algo horrível e injustificável, mas ele mostra o porque dele fazer isso. Não é como um assassino de slasher bobo que apenas mata por matar. Por isso, todo ato de blasfêmia, de violência, de tirania, é gratuito, mas nunca fora do lugar, por mais que sejam absurdos os meios que os justificam.



Um dos melhores momentos é a cena em que Zé do Caixão realiza um quase monologo destilando toda sua ira e descrença pela religião. Uma cena intensa, cheia de som e fúria que demonstra e personifica toda a figura do personagem criado por Mojica. Zé do Caixão desafia não apenas os céus nesse momento, mas todos que iriam contra sua carreira ao longo dos anos.

Mojica tem o famoso caso em que a criatura é mais conhecida que o criador, Zé do Caixão é o monstro de Frankenstein dele, e sinceramente, acho que ele ficara marcado com isso por toda a vida. O personagem ficou tão marcado que é mais fácil a pessoa conhecer a figura do Zé, do que ter visto um filme de fato.

Já vi muitas pessoas recusarem ver um filme do Mojica por puro preconceito, achando que ele é a figura que fazia aparições em programas de TV trajando roupas pretas e rogando pragas, figura que o próprio Mojica personificou para não morrer de fome.

Podemos dizer que foi o próprio criador do Zé do Caixão que leva a culpa pela imagem que as pessoas têm dele hoje em dia? Certamente, não posso culpar a falta de informação do publico atual, pois essa informação é tão escassa e o primeiro contado que temos come ela é totalmente errada da sua verdadeira face. Mas mesmo assim, coloco Zé do Caixão juntos dos grandes monstros clássicos do cinema mundial. E Mojica como um dos grandes gênios do cinema da nossa era.

Uma dica de amigo: deixe o preconceito de lado e comece a descobrir a obra do Mojica por esse filme. Apesar de certos pontos profundos é um filme relativamente fácil de acompanhar e de se achar para assistir.

Zé do caixão, a personagem, não é o ser engraçadinho que aparece em festas e programas de televisão, ele é um vilão no sentido pleno, e seus filmes onde aparece são clássicos do gênero, cultuados lá fora por muitas pessoas, onde é chamado de Coffin Joe.  Parece que gringo esta sempre na frente não? Pois é, dessa vez passaram a perna na gente mesmo.


José Mojica, a pessoa, um cineasta maldito, pode não ser considerado um gênio por muitos, mas certamente é um batalhador do nosso cinema nacional. Um verdadeiro anti herói e alguém cujos filmes sempre me lembrarei. Não me canso de dizer que ele estava a frente do seu tempo (a terceira vez que cito isso no texto), mas digo sem nenhuma culpa que isso é um fato. 


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

5 filmes que mostram que o horror esta vivo, e muito bem!

Mais uma lista para o blog. E aos moldes da nossa primeira postagem aponto mais alguns filmes de horror imperdíveis para se divertir e ver que o gênero ainda tem muita lenha para queimar e sangue para derramar.
Dessa vez irei listar menos filmes, mas são todos altamente recomendáveis, assista, divirta-se e bons sustos.



1– Deixa-ela Entrar (Låt den rätte komma in, 2008 )



Vampiros sempre estiveram presentes no imaginário popular, e filmes sobre o tema podem trazer grandes obras primas ou fracassos irrecuperáveis. Por sorte esse filme sueco esta na primeira categoria, e com louvor. Mais do que um filme de horror sangrento e perturbador, é uma historia sobre a infância e fim da inocência, onde a maldição do vampirismo é vista aos olhos de criança. Mais adulto que muito vampiro brilhante por aí, um filme excelente. Existe uma refilmagem americana lançada em 2010.

2 – Terror Em Silent Hill (Silent Hill, 2006)



Adaptação de games de sucesso costumam dar dinheiro, mas ao mesmo tempo acabam gerando filmes horríveis que do produto original só tem o nome, Resident Evil que o diga. Por sorte a adaptação do que pra mim é o melhor survival horror já feito é digna de nota. Com diferenças aqui e ali em comparação ao game, o filme mesmo com isso não deixa de homenagear seu produto de origem e ainda é um ótimo filme de terror com toques certos de drama e bons efeitos. Coloque o joystick de lado, ligue a televisão e divirta-se

3 – Possuída (Ginger Snaps 2000)



Lobisomens não poderiam faltar na nossa lista, e esse ótimo filme canadense é talvez uma das melhores produções lançadas na ultima década. A trama usa um paralelo entre a chegada da vida adulta e suas mudanças, principalmente corporais, e a maldição da licantropia. Um filme extremamente sangrento e divertido, onde o lobisomem realmente mete medo e é bem produzido. Com aquele clima moderno sem cair para o terror teen bobo e  ao mesmo tempo nostálgico aos moldes de clássicos como Grito de Horror

4 – Seres Rastejantes (Slinther, 2006)



Antes de dirigir o sucesso da Marvel, Guardiões da Galáxia. O diretor James Gunn produziu dois filmes super divertidos. Super, uma homenagem adulta aos filmes de super-heroi. E Seres Rastejantes, uma sangrenta e nojenta homenagem aos filmes B de ficção de antigamente. A trama já foi vista outras vezes (alienígenas tomam conta de corpos humanos e começam uma invasão na terra), o jeito que é produzido que torna a coisa especial. Junte os amigos, pegue sua bebida favorita, tire um pouco o cérebro e divirta-se.


5  – Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos. (2009)



Pra fechar a lista, um filme nacional, e dos bons. Às vezes uma comedia com elementos de horror, as vezes um filme de horror com elementos de comedia de humor negro, Morgue Story certamente é um filme diferente dos lançados por aí. Deve ser por isso que não recebeu o a distribuição comercial que merecia e acabou ficando apenas no circuito alternativo. Mas vale a pena procurar essa obra baseada numa peça de teatro e se divertir com suas tiradas que envolvem deste a cantora Kate Bush, Uma noite Alucinante 3 e um ótimo vilão na figura do medico necrófilo. Recomendo

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O Balconista



“Só porque eles te servem, não significa que eles gostam de você”.

Você já imaginou o que passa na vida e na cabeça de quem trabalha como balconista em lojas de conveniência ou locadoras? Eles podem estar passando por um dia horrível e os clientes chatos só aparecem lá para piorar a coisa. E se a vida for como esse filme mostra, esses dias podem ser mais recorrentes do que parece.

Mas o que esperar de um filme independente de 1994, filmado em preto em branco, tom teatral, passado inteiro numa loja de conveniência, com diálogos e situações que são verdadeiras odes ao nerdismo, e vão do tocante ao bizarro? Um filme cru e sincero sobre o começo da vida adulta? Um filme sexista cheio de palavreado de baixo calão, mas, ao mesmo tempo, que nos dá uma visão fria, porém sincera e sentimental das relações humanas.  Ora, senão é uma das melhores comedias já feitas!

Dante Hicks (Brian O’Halloran) , o personagem central O Balconista, trabalha numa loja de conveniência em Leonardo, New Jersey. Deveria ser seu dia de folga, mas um colega está doente e ele tem que cobrir o expediente, o que estragou seu jogo de hockey à tarde. .Alguém colocou chiclete na fechadura da vitrina da loja, fazendo-o colar por cima um cartaz escrito que estavam abertos e ficar com  cheiro da graxa que usou para escrever o cartaz pelo resto do dia.

No mesmo dia, Dante acaba descobrindo que sua ex-namorada irá se casar com outro, outra ex faleceu e ele ainda tem sérios problemas com a atual, pois descobre que ela só dormiu com quatro caras na vida (incluindo ele), mas fez sexo oral com trinta e oito (incluindo ele). Fora isso, ele enfrenta um dia no trabalho no qual, a cada hora que passa, encontra pessoas mais bizarras, irritantes, e que criam situações surreais e cômicas, mas que parecem ser recorrentes em sua vida.

Esse dia, de extrema má sorte é o que iremos acompanhar neste engraçado filme. Onde surgem os mais diversos personagens estranhíssimos, que vem e vão, como o maluco que faz de tudo para encontrar a dúzia perfeita nas caixas de ovos, ou o vendedor de chiclete que faz um levante antitabagista.

E talvez a cereja do bolo seja Randal Graves( Jeff Anderson), o melhor amigo de Dante e que trabalha na videolocadora ao lado. O melhor personagem do filme,é uma maquina de soltar tiradas ácidas aos fregueses chatos que aparecem. Maltratando-os de forma cruel e hilária com suas atitudes e palavreado.



O filme se movimenta muito pelos diálogos dos personagens e suas consequências.  Algo meio teatral em certos momentos. Em muitas cenas, a câmera fica parada lá, apenas deixando os atores fazerem seu trabalho e os  longos diálogos ditarem o tom da ação. E esses diálogos são certamente algo que vai do tocante ao bacanal puro, misturando relacionamentos e a vida de trabalho com um segredo obscuro no filme O retorno de Jedi, e ate pornô com hermafroditas.

 Mesmo não mostrando nenhuma nudez  ou violência, e sua única (e bizarra) cena de sexo não seja exibida on-screen, o filme não tem medo de pegar pesado na linguagem e no clima quando necessário. Apesar de que é tudo tão bizarro e circunstancial que você vai acabar rindo, como rola com Napoleon Dynamite ou Superbd.

 Aliás, O Balconista é considerado um dos grandes precursores das comédias nonsense (o chamado besteirol por aqui) que ficaram mais famosas nos anos 90, mas já eram feitas há muito tempo. A diferença é que aqui, apesar das besteiras de sempre, ainda temos um pouco de inteligência e um lado sensível (sem ser piegas) envolvendo a coisa.

Alguns atores nunca tinha atuado na vida antes, e isso é meio perceptível na tela. Mas, ao mesmo tempo, todos estão tão à vontade nos papéis que tudo soa natural. Por exemplo, a relação entre Dante e Randal, parece mesmo que eles são amigos de longa data.

O Balconista é o perfeito retrato da juventude que entrou na idade adulta sem saber o que fazer, aquela geração que tem empregos e estudo, mas que realmente parece não querer ir para lugar nenhum. Se você assiste esse filme no clima e idade certa vai se sentir estranhamente familiarizado.

E como representação da juventude ávida por drogas e sexo, temos os antológicos personagens de Jay e Silent Bob, interpredados, respectivamente, por Jay Mewes e pelo próprio diretor do filme, Kevin Smith. Os personagens, dois traficantes que ficam parados na frente da loja, ficaram famosos e participaram de outros filmes do diretor, até ganhar seu filme próprio O Império do Besteirol Contra Ataca.

Ah, bom lembrar que alguns filmes do Kevin Smith se passam no mesmo “mundinho”, o chamado  Askewniverse. Por isso é normal ver personagens ou situações sendo citadas ou aparecendo em outros filmes posteriores. Não estranhe se você ver algum personagem citando uma situação desse filme em filmes posteriores como Barrados no Shopping ou Procura-se Amy.

Esse certamente é um dos meus filmes de cabeceira, um tipo de obra que eu recomendo para todos assistirem pelo menos uma vez na vida. Eu simplesmente me apaixonei pelos seus personagens e diálogos deste a primeira vez que o assisti. Considero inclusive um dos melhores filmes americanos dos anos 90 e a obra prima do diretor.

O Balconista foi o primeiro filme de verdade do diretor americano Kevin Smith, gordinho barbudo e eterno nerd. Bancado de maneira independente e gravado na loja onde ele próprio trabalhava. Foi com esse filme que ele ficou conhecido e começou uma carreira de altos e baixos. Feito numa época que o cinema independente americano estava começando a estourar e seus realizadores estavam entrando no estrelado.




Curiosidades

Mesmo com uma mensagem contra o tabaco presente no filme, como numa das primeiras cenas em que um cliente começa um verdadeiro levante contra o fumo. Kevin Smith acabou ficando viciado em cigarros depois das filmagens.

O filme é dividido em nove partes, representando os nove círculos do inferno presentes na Divina Comedia, não é a toa que o personagem principal se chama Dante

O diretor precisou vender boa parte da coleção pessoal de quadrinhos para ter grana para gravar.

Kevin Smith originalmente iria interpretar Randal, esse é um dos motivos dele ter alguma das melhores falas do filme.

O titulo original do filme seria Inconvenience, depois foi mudado para Rude Clerks, até finalmente virar o titulo pelo qual é conhecido hoje em dia.

O Balconista ganhou uma sequencia em 2006

O filme pornô que Randal assiste existe de verdade, mas é sobre bissexuais e não hermafroditas.

O filme acaba praticamente do nada, o que pode deixar algumas pessoas nervosas já que Dante não resolveu totalmente seus problemas. Mas no final original, que chegou a ser filmado, Dante seria morto por um assaltante. 

Boa parte do orçamento foi gasto para pagar as musicas usadas durante o filme.

A palavra “fuck” é dita 91 vezes durante o filme.

Infelizmente até agora o filme só foi lançado em VHS no Brasil, mas vale a pena pegar a edição em blu-ray lançada lá fora. E o melhor de tudo: tanto o filme quanto os vários e interessantes extras estão legendados em português do Brasil!



segunda-feira, 13 de outubro de 2014

4 Comedias românticas para quem não gosta de comedia romântica

Comédia romântica é um gênero que, particularmente, não gosto muito. Seus contos de fada para solteironas à beira dos quarenta nunca me atraíram, principalmente por ser um gênero que dificilmente se arrisca a criar algo novo e sair da sua formula de sucesso já pré-estabelecida.

Mas, uma hora ou outra, surge um filme que se difere dos demais, seja pela sua qualidade, seja por seu roteiro mais realista e, mesmo assim, belo, pelas referências a cultura pop em geral, que deixa o lance todo mais divertido ou, simplesmente, por ser um bom filme ao todo.

Por isso vou listar algumas comédias românticas que você, que aprecia um bom filme, pode curtir. O gênero continua não me agradando, mas sempre que procuro um bom filme para curtir um romance e dar umas risadas, assisto a esses filmes.


(500) Dias com ela ((500) Days of Summer 2009)




Talvez o mais conhecido exemplo dessa nova geração de comédias românticas que traz uma abordagem mais sincera e humana para filmes sobre relacionamentos. O filme fez sucesso entre a galera cult/cabeça mas possui uma singularidade e simplicidade palpável que faz ser agradável sua assistida por qualquer pessoa de cabeça aberta.  Joseph Gondon-Levitt e Zooey Deschanel estrelam o filme. Ele, inseguro e de coração mole. Ela, moderninha e apaixonante. Os dois carregam uma forte química juntos e há momentos que você se vê torcendo a favor ou contra o casal. E como o filme deixa parecer, sempre no final do verão você encontra o outono.


Procura-se Amy (Chasing Amy 1997)



Ben Affleck, que causou polêmica ao ser escalado para ser o próximo Batman nos cinemas, estreia e faz um papel bem competente nesse trabalho do diretor Kevin Smith, que é seu melhor filme junto com O Balconista. Ben Affleck trabalha desenhando HQ’s com amigo e parceiro de trabalho, com sérios problemas com mulheres (Jason Lee). Ele se apaixona pela bela de voz irritante interpretada por Joey Lauren Adams. O problema para conquistá-la é que ela torce pelo mesmo time que ele; isso mesmo, ele se apaixona e quer conquistar uma lésbica que está bem decidida sobre sua sexualidade. Um filme sincero sobre relacionamentos que dá uma visão singela sobre problemas que casais podem passar. Além de mostrar sem preconceitos diferentes formas de amar.


Encontros e Desencontros ( Lost in Translation, 2003)




Bill Murray é um dos melhores e mais engraçados atores da comédia. Mas é muito bom vê-lo comprometido a um trabalho mais sério dessa vez, trazendo uma nova abordagem para a sua atuação. Encontros e Desencontros é um filme amado e odiado por muitos. Dirigido por Sofia Coppola, o longa nos mostra como um lugar, ao mesmo tempo aconchegante e acolhedor, pode ser distante e estranho, mesmo quando estamos cercados de pessoas. Ninguém nunca vai saber o que Bill Murray disse no ouvido de Scarlett Johansson no final do filme, não importa, pois a viagem que fizemos juntos valeu mais que palavras ditas em segredo.

Alta Fidelidade (High Fidelity 2000)



Lojas de discos, relacionamentos fracassados, muita musica e top’s 5. Alta Fidelidade é um deleite para os amantes de boa musica e de um bom romance adulto. Rob Gordon (John Cusack) é dono de uma loja de discos onde trabalham dois sujeitos bem peculiares: o introvertido Dick (Todd Louiso) e o espalhafatoso Barry ( Jack Black). No meio de referências a músicas, cultura pop e dos clientes que passam pela loja, Rob encontra tempo para recortar seus antigos amores e tentar descobrir o que deu errado na sua vida, tudo isso graças à atual namorada que foi mais uma da lista das mulheres que o largaram. Um dos melhores momentos é o dialogo que John Cusack tem entre o público, quebrando totalmente a quarta parede. Um filme que colecionadores costumam ter entre seus favoritos, um posto merecido.



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mangue Negro




Desde que George Romero trouxe de volta à vida seus mortos e deu uma nova roupagem para eles no seu clássico A Noite dos Mortos Vivos, o mundo se viu invadido por uma grande leva de filmes, bons e ruins, que nunca foram tão famosos como hoje em dia. Prova disso é a popularidade crescente entre o publico, principalmente o jovem, que está disposto a consumir qualquer coisa que tenha zumbis no meio. Popularidade nunca foi sinônimo de qualidade, isso é fato. Mas é fato também que zumbis são uma das coisas mais legais que surgiram no cinema desde que o ser humano o inventou. Por isso, eu sempre me divirto assistindo e reassistindo clássicos do gênero.

Podemos dizer que esse é e sempre foi um fenômeno internacional, já que existem fãs em todas as partes do mundo e são realizadas produções em todas as partes do mundo também. Um exemplo disso é o filme que me levou a ser fã do gênero: uma produção italiana, o grande clássico Zombie  do mestre Lucio Fulci. Depois que vi aquele filme, descobri o que era um gore bem feito e entrei de cabeça nesse universo.

E aqui no Brasil também é algo popular, e também se faz filmes do gênero. O primeiro foi Zombio, de 1999, dirigido por Petter Baiestorf, que ganhou uma sequência recentemente. Outros exemplos são A capital dos Mortos, Porto dos Mortos e Desalmados, entre outros.

Mas o filme que será analisado agora é Mangue Negro, lançado em 2008 e dirigido por Rodrigo Aragão.

Já é um fato conhecido por todos que o capixaba Rodrigo Aragão virou o novo grande nome do undeground cinematográfico nacional com seus longas já lançados em vídeo e festivais nacionais e internacionais, como Mangue Negro, A Noite do Chupa-Cabras e Mar Negro. Hoje ele é sinônimo de qualidade para quem busca um bom filme de terror nacional.

Feito alguns curtas durante um tempo, o primeiro longa de Aragão foi o feroz ataque dos zumbis em Mangue Negro, que apesar de não ser o primeiro exemplo nacional sobre os monstros criados por George A. Romero, talvez seja hoje em dia, o mais famoso. Reconhecimento merecido, diga-se de passagem, já que não é apenas um filme nacional de zumbis, é um bom filme nacional de zumbis.

Com todo aquele clima e violência dos bons filmes de terror dos anos 70 e 80. Mangue Negro é uma boa pedida para quem está cansado de produções pífias ou nunca se aventurou pelo cinema de gênero no Brasil. Pode parecer estranho ver um filme de zumbis feito em nossas terras, mas acredite, o cinema nacional é muito mais que filmes de nordeste ou favela.

O filme é a clássica historia do ataque de zumbis a um grupo de azarados que tem que se virar para sobreviver num lugar cada vez mais claustrofóbico e hostil.  No caso aqui, um mangue, lugar de extrema dificuldade para filmar que é explorado de forma muito eficiente pela produção. As cenas dos zumbis putrefatos caminhando lentamente pela mata escura são de arrepiar pelo seu clima de tensão e medo. Ver zumbis caminhando por ruas de grandes cidades é legal, mas vê-los caminhando em um local afastado e desolado como esse é de causar mais pavor ainda.

A fórmula básica de um filme de horror, que mesmo sendo repetida aqui, é feita de forma que nos sentimos familiarizados com o filme e, ao mesmo tempo, surpresos pela sua qualidade. Pois mesmo vendo centenas de filmes de gênero, não é sempre que podemos ver a velha fórmula sendo realizada num ambiente cem por cento nacional.

Podemos ver isso também nos personagens, sejam eles os secundários ou principais, que são carismáticos e representam bem várias facetas do povão brasileiro. São gente como a gente mesmo, algo não típico no cinema de horror normal.

O mocinho da nossa obra é o tímido Luis, interpretado por Walderrama dos Santos; ele é apaixonado por Raquel, interpredada por Kika de Oliveira. O problema é que sempre que ele tenta se declarar algo acontece que o impede. Seja por um habitante mala do mangue, ou o ataque de um feroz zumbi.

A falta de jeito do nosso herói para se declarar para a mocinha pode deixar muitas pessoas nervosas; eu mesmo ficava puto cada vez em que ele estava prestes a falar o que sente e algo atrapalhava. Mas ao mesmo tempo, acompanhamos como ele torna-se o herói do local e vira um exímio matador de zumbis com sua machadinha.

Eu sempre gostei do personagem “loser” se tornando o herói; em outras palavras, quando o fracassado local torna-se o único que pode combater e sobreviver uma ameaça terrível. Impossível não compará-lo ao personagem Ash, de Evil Dead, interpretado por Bruce Campbell, afinal, os dois são a pessoa que você jura que morreria primeiro, mas acabam se tornando os grandes heróis dos filmes.

O interessante do herói desse filme é que, mesmo que ele se torne um exímio matador de zumbis, ainda podemos ver seu lado humano, sua coragem de enfrentar os monstros e perigos que aparecem no mangue, mas, ao mesmo tempo, com medo de perder a mulher que ama. E eu adoro ver isso, um personagem que mesmo enfrentando terríveis monstros, ainda é uma pessoa normal, que sente medo, dor, não tem jeito com as mulheres. Ou seja, o típico cara que você acaba adorando ao final do filme.

E destaque também para o melhor personagem do longa: Agenor dos Santos, interpretado de forma carismática por Markus Konká; ele que introduz o filme, e sua presença e carisma são algo muito bom de se ver na tela. Todas as partes em que ele está em cena, podemos ver é um bom ator e que merece mais espaço nas produções nacionais.

A violência gráfica, o chamado gore, é algo lindo de se ver. Quem é fã de ver um bom sangue cenográfico saindo a litros vai ficar feliz. Rodrigo Aragão, além de dirigir, fez a maquiagem e efeitos do filme, dominando as técnicas com maestria. Como fã de coisas feitas estilo old-school, digo que é muito melhor ver efeitos práticos feitos na mão, ou seja, feitos na raça. Algo que deixa a violência muito mais realista e “bonita” de se ver do que colocando toneladas de CGI.

A direção é ágil e dinâmica. Sabendo quando e onde mover a câmera, deixando as cenas de terror e ação muito bem feitas. Mas também sabe a hora que precisa respirar e retomar fôlego, com momentos mais climáticos, mas sem perder o pique. Acredite, quando o clima começa a esquentar, pode ter certeza que verá cenas de puro terror misturadas com uma ação sem exageros, algo muito bem feito.

Por último, vou falar que o trabalho que fizeram no DVD é algo maravilhoso; além de inúmeros extras, a embalagem vem com uma bonita luva, encarte e cards do filme. Agora me pergunto se uma produção nacional independente tem um acabamento profissional do jeito que colecionadores como eu procuram, o que fazem as grandes distribuidoras que nos lançam edições cada vez mais vagabundas?


Isso é tudo por hoje, o que tenho para dizer é: vá e assista! Seja pela curiosidade de ver um filme nacional de terror (um tabu para muita gente hoje em dia), ou ainda fãs de zumbis que vão descobrir que o Brasil pode dar o melhor do gênero.



terça-feira, 30 de setembro de 2014

Eu Odeio o Orkut



Eu Odeio o Orkut

O Orkut foi criado em 24 de janeiro de 2004 por Orkut Büyükkökten, engenheiro turco do Google. E chegou ao seu fim hoje, terça feira, dia 30 de setembro de 2014. Mesmo com protestos para que não acabasse, ele chegou ao seu triste fim e vamos agora brindar aos momentos bons, ruins, mas principalmente inesquecíveis que passamos neles.

Mesmo não sendo uma criação nacional, ninguém usou o Orkut como nos brasileiros. Fomos o país que mais o aproveitou e fez com que ele tenha se tornado um verdadeiro antro das mais curiosas formas de vida. Essa rede social que, até o advento do Facebook, era o grande ponto de encontro da internet, foi para muitos de nós um segundo lar, um lugar de encontrar amigos, discutir seus gostos, arrumar paqueras e muito mais.

Quem nunca deu uma stalkeada no perfil alheio e ficou com vergonha ao descobrir que a “vitima” poderia ver quem visitou seu perfil? Quem nunca mandou um depoimento para gatinha que estava afim e levou um fora depois? Quem nunca ficou colecionando scraps para depois apagar tudo? Quem nunca se divertiu e foi vitima de um perfil fake? Ou quem nunca entrou num debate acalorado numa comunidade e acabou criando amigos e inimigos?

O Orkut ficou na memória, antes mesmo do seu fim ele já andava esquecido e, agora, será uma página virada na longa e gloriosa história da internet, principalmente na história das nossas vidas, virtuais ou pessoais. E para relembrar essa rede social que tantas glórias e problemas (principalmente problemas) causaram para seus usuários, falaremos agora sobre uma comedia nacional em que o Orkut é o foco.

Todos sabem como nosso país não tem uma grande tradição de comédias de qualidade, e quando é lançado uma que valha a pena dar uma espiada, acredite, vale a pena mesmo. Não falo apenas de comédias, mas o fato de produzirem hoje em dia algum cinema de gênero, principalmente independente, no Brasil é um ato a ser apoiado. Uma pena que só ser um filme “diferente” do habitual não é motivo para ser de qualidade, mas que é um diferencial positivo, isso é.  

Eu Odeio o Orkut é um filme nacional independente lançado em 2011, época em que essa rede social ainda era bem usada, mas estava chegando ao fim da sua grande popularidade. Dirigido por Evandro Berseli e Rodrigo Castelhano, o filme é baseado no livro homônimo do próprio Evandro.  Foi bancado pelos próprios diretores e atores, algo a ser admirado.

A história gira em torno de Jader Bertola (Marcos Kligman), um cara amargo no passado que, viciado em Orkut, foi internado numa clínica de reabilitação para viciados em internet. Lá ele divide quarto com figuras muito estranhas, como o sujeito que perdeu os braços, acredite se quiser, de tanto digitar.

Muito debilitado ele resolve contar num livro sobre como ele chegou ao que chama de “offline do poço” para que um de seus colegas de tratamento o escreva, tarefa a cargo do próprio diretor do filme e autor do livro, Evandro Berseli, encarnando um sujeito mal humorado, sarcástico e aproveitador.

Jader Bertola, como contado nos flashbacks que narram sua historia, é um total fracassado no amor e na vida pessoal; um verdadeiro Zé Mané. O ator que faz ele tem uma cara de coitado de dar dó que deixa tudo engraçado, mesmo que o motivo da risada seja algo trágico. Pontos para a atuação que mesmo não sendo genial, é marcante e divertida.

Jader é tão azarado que quando finalmente consegue arranjar um namoro que parece que irá durar, acaba estragando tudo graças aos males causados pela famosa rede social em que o filme gira em torno. Afinal, esse filme não se chama Eu Odeio o Orkut por nada. Confesso que já vi pessoalmente casos parecidos como o dele acontecerem de verdade. Aqui vemos o personagem de Marcos Kligman ir do fundo do poço para a “offline do poço”. Totalmente trágico, se não tivesse certo humor nisso tudo.

Quando se tem pouca renda para filmar, deve saber utilizar bem e de forma eficiente os recursos disponíveis, o que o filme consegue fazer bem. Se focando principalmente nos diálogos e atuações dos personagens, mas usando também alguns truques que deixam o filme mais dinâmico e interessante de assistir, como, por exemplo, letreiros que aparecem na tela apresentando personagens ou explicando certas coisas.

Uma coisa legal sobre o filme é que ele é bem regional também: confesso que fiquei sem entender muitas do que é falado pelos personagens, principalmente as gírias. Mas isso é proposital, pois Eu Odeio o Orkut faz parte de um projeto para realizar filmes de baixo orçamento com equipe, atores e trilha sonora inteiramente vinda da cidade de Alvorada, no Rio Grande do Sul.  Quem é dessa região ou por perto deve ter se familiarizado com certos pontos do filme.

O filme talvez não seja tão engraçado para quem nunca conviveu com as bizarrices do Orkut. Ele cita abertamente muitas palavras e situações que só ficam engraçadas se você de fato vivenciou algo parecido com elas.

Sendo justo, não sei se Eu Odeio o Orkut funcionaria muito como uma comédia normal. Sem o tema que ele gira em torno, talvez ficasse um filme sem graça e não tão marcante. Mas como utiliza de uma abordagem única, acaba criando um mundinho próprio que é muito próximo daquele que nos já vimos.


Por fim, como eu disse, se você não é totalmente familiarizado com os assuntos abordados nesse filme, pode não achá-lo tão engraçado assim. Mas se você, de alguma forma, vivenciou todos os problemas e coisas boas que o saudoso Orkut nos proporcionou, pode achar nesse filme uma verdadeira pérola e retrato da sua época. Assista com o fator nostalgia ligado e divirta-se.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Remake não precisa ser ruim

Eu sou um grande fã de cinema em todas suas formas, mas sou principalmente fã de filmes de terror. Produções do gênero que eu assistia quando adolescente me fizeram entrar de verdade no mundo da sétima arte. Por isso, mesmo hoje em dia assistindo todo que é tipo de filme, guardo um carinho e acompanho com mais atenção filmes com monstros, assassinos, fantasmas e terror em geral.

Uma coisa que vem acontecendo hoje em dia é o grande publico ser exposto a uma grande leva de refilmagens de filmes, clássicos ou não, obscuros ou conhecidos e deixando a ousadia da novidade de lado. Bom, quem tem o mínimo conhecimento sobre as produções atuais sabe que isso não é totalmente verdade e que tem muita coisa boa e original saindo pelo mundo todo, como visto na primeira postagem desse blog.

Mas o ato de refilmar nunca esteve tão forte como hoje em dia. Falta de criatividade dos grandes estúdios? Possivelmente, o fato que isso é prejudicial para o gênero de algum modo. Pois quanto mais refilmagens surgindo que “encobrem” as produções originais, menos o publico tem acesso a elas e assim fica com a ideia de que o gênero esta estagnado.

Remake pode ser crise de criatividade hoje em dia, uma mania fácil de ganhar dinheiro aproveitando da obra original,seja muito famosa ou não. Mas antes era sinônimo de dar um “up” no original fazendo-a virar uma obra nova e própria

Abrindo um parêntese, o ato de refilmar obras conhecidas não é de hoje e nem exclusivo do gênero terror. Desde o inicio do cinema obras foram refeitas, muitas vezes pelo mesmo diretor! Lembram do clássico Os Dez Mandamentos do Cecil B. DeMile com Chalton Helston? É uma refilmagem de um filme mudo feito anos atrás pelo próprio DeMile. Por falar em Charlton Heston e épicos, Ben-Hur, famoso ganhador de onze oscars também é uma refilmagem de um filme mudo. Scarface com Al Pacino? Outra refilmagem. A lista continua até hoje, com filmes como Onze homens e um Segredo e feitos por diretores renomados como Martin Scorsesse que tem duas refilmagens na carreira, respectivamente Os Infiltrados e Cabo do Medo.

Aqui no Brasil temos exemplos como Matou a Família e foi ao Cinema, O cangaceiro entre outros.

E no gênero terror, não é de hoje que se refilmam filmes. Podemos começar, por exemplo, vendo o ciclo de filmes clássicos da Universal. O auge dessa produtora no gênero foi entre os anos 1930 e 1950. Praticamente uma fábrica de filmes clássicos e divertidos onde todos os monstros lendários da cultura popular e literatura deram as caras.

Drácula (1931) e Frankestein (1931) podem der dado aquela imagem clássica dos monstros ,a que lembramos quando ouvimos seus nomes e levado ao estrelato os atores Bela Lugosi e Boris Karloff,  mas não foram os primeiros filmes feitos baseados nessas criaturas
(imagem).

Tendo surgido na literatura graças a Bram Stoker e Mary Shelley. A mais antiga adaptação do livro Drácula conhecida é de 1921, o hoje perdido filme húngaro Drakula Halála e do romance Frankestein é de 1910, autointitulado e também perdido

O exemplo mais clássico, e considerado a mais antiga adaptação do livro de Bram Stoker existente, é o expressionista alemão Nosferatu de F.W. Murnau. Dessa obra
foi feita uma refilmagem muito eficiente dela em 1979 dirigida por Werner Herzorg.



Continuando com adaptação de monstros clássicos da cultura popular e literatura, é impossível não falar dos clássicos filmes da produtora inglesa Hammer. Talvez os melhores remakes para mim sejam as primeiras adaptações feitas por ela. Praticamente todos os personagens clássicos do horror passaram por suas mãos, entre elas o vampiro, a múmia, o monstro de Frankenstein, o lobisomem entre outros. Dando vida nova para esses clássicos personagens que estavam esquecidos visto que na época o cinema estava infestado de filmes sobre animais gigantes causados pelo medo nuclear.

Tendo seu auge entre o fim dos anos 50 e começo dos anos 70, as produções eram muito mais “hardcore” que as feitas pela Universal. Com o clássico tom gótico inglês e acrescentando mais erotismo e violência. Com um chamativo sangue, agora num vermelho bem colorido. Os destaques certamente são os primeiros filmes das série feitas para os personagens Drácula e Frankestein, respectivamente Horror of Drácula (O vampiro da Noite no Brasil) e Curse of Frankestein (A maldição de Frankestein).

Ambos estrelados pelos atros Christopher Lee e Peter Cushing, que hoje são lendas do gênero. A química da dupla é tão grande na tela que a parceria durou por vários filmes, fazendo principalmente o papel de opostos.

Mesmo parecendo filmes ingênuos hoje em dia, as produções da Hammer podiam ser consideradas pesadas naquela época. Com muito mais ousadia que as produções da Universal por exemplo.



Vamos dar um pulo no tempo agora e ir para uma das melhores décadas para filmes de horror, os anos 1980 e 1990

A Mosca (The Fly,1986) do David Cronenberg só tem do original o argumento básico, lançado aqui como A mosca da Cabeça Branca e estrelado por Vicent Price. A historia sobre um cientista, interpretado por Jeff Goldblum, que cria uma máquina de teletransporte e acaba lenta e dolorosamente se transformando num homem mosca depois de um acidente, virou um dos maiores clássicos dos anos 80 e da filmografia de um respeitado diretor. A mosca usa dos seus ótimos efeitos para criar cenas nauseantes, como a gradativa transformação do homem em mosca. Certamente uma das melhores fusões de terror com ficção cientifica.



Outro filme que segue essa linha é O enigma do outro mundo (The thing, 1982), dirigido pelo mestre John Carpenter. O filme é um colírio nos olhos de quem gosta de ver bons efeitos práticos e uma aula de como se criar suspense e tensão. Quem não se lembra da famosa cena do teste de sangue? Além desse, o diretor tem outra refilmagem na sua carreira, o A cidade dos amaldiçoados de 1995.


Tom Savini alem de cuidar dos efeitos especiais de filmes (ele que fez a maquiagem no primeiro e quarto Sexta-feira 13,  no filme slasher Quem matou Rosemary?, Creepshow e Dia dos Mortos por exemplo) também se arrisca como ator e diretor. Como ator você deve lembrar dele no filme Um drink no inferno e como o motoqueiro no final do Despertar dos Mortos.

Como diretor, fez um dos melhores remakes já produzidos. Estou falando da refilmagem do A noite dos Mortos Vivos de 1968, clássico em preto e branco do George Romero que iniciou o gênero de filmes de zumbi moderno.

A refilmagem de A noite dos Mortos Vivos, lançada em 1990, agora com cores e efeitos melhores é um filme ágil na sua ação e construção dos personagens. Com algumas diferenças que fazer o filme ser uma surpresa para quem conhece o original. Um destaque é para a personagem Barbara, que no original é uma completa inútil e nessa refilmagem ganhou uma bela mudança, fazendo ficar uma verdadeira fodona nos moldes de Sarah Connor e Ripley.



Voltando para os personagens Dracula e Frankestein, nos anos 1990 foram lançados dois filmes famosos baseados nos livros. Drácula de Bram Stoker, famoso filme do Coppola que colocou pitadas de romance na obra. E Frankestein de Mary Shelley' dirigido e atuado por Kenneth Branagh. Um filme muito criticado ,  mas que confesso gostar muito.

Refilmagens também foram muito importantes para o publico ocidental começar a conhecer as pequenas pérolas vindas do oriente. Tudo isso graças ao filme O chamado, lançado em 2002. Mas isso vai ser assunto para outro post.

O filme que pode ser considerado o grande culpado dessa nova leva de refilmagens que assola o cinema americano é O Massacre da Serra Elétrica lançado em 2003. Um filme divertido, com boa violência e uma atuação memorável de Ronald Lee Ermey que rouba a cena. Mas apesar disso tudo, está longe de ter a crueza, crueldade e tom macabro do original, que perturbava em não mostrar a violência, mas em apenas sugeri-la, sem contar a fotografia em tom documental que o deixa mais realista.



Por um lado o ato de refilmar filmes pode ser bom para uma coisa: fazer o original ser (re)descoberto por uma geração que nunca ouviu falar dele. Assim, clássicos não tão populares como Quadrilha de Sádicos, A vingança de Jennifer, O maníaco, entre outros, apresentaram um tipo de terror que pode não ser tão popular como Freddy’s e Jason’s da vida, mas que valem a pena.

Lógico que, na prática, nem sempre isso acontece, muita da geração nova não aguenta ver “filme velho”, por melhor que ele seja. Mas sempre bom ter esperança sobre o futuro.

Concluindo o pensamento, nem sempre uma refilmagem precisa ser ruim. É possível fazer uma obra nova, original, de qualidade que respeite o original e até á supere. Para isso vale muito a mão e potencial de quem está envolvido. Quanto ao grande número de refilmagens de baixa qualidade que estão saindo nos últimos cinco anos. O critério de ver fica para você, mas saiba que o gênero não se resume a elas.



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Lady Snowblood - Vingança na Neve




Lady Snowblood – Vingança na Neve (Shurayukihime, 1973)



Vingança é um prato saboroso e que se come quente. Pelo menos é isso que vemos no cinema, onde filmes sobre vingança e seus desafortunados envolvidos costumam fazer sucesso e criar obras cult. Quem não gosta de uma boa história onde uma pessoa faz justiça com as próprias mãos?! Um exemplo muito famoso são os dois volumes da serie Kill Bill, realizados por Quentin Tarantino que se inspirou muito no filme tratado aqui, mas isso falaremos em breve.

Lady Snowblood – Vingança na Neve é um filme cult de vingança, que permanecia inédito no Brasil. Até agora, sendo lançando pela ótima distribuidora Versátil Home Vídeo, que esta sempre lançando  títulos em apresentação de qualidade. O filme foi lançado num belo digistack com sua sequência, e nos extras temos o trailer e uma análise sobre a obra.

Baseado no mangá conhecido como Yuki – Vingança na Neve escrito por  Kezuo Koike, (mesmo criador do Lobo Solitário), e ilustrado por Kazuo Kamimura, Lady Snowblood foi lançado nos cinemas em 1973, distribuído pela Toho. Época que o cinema estava mudando no mundo todo e o chamado gênero exploitation estava começando a dar seus maiores passos. Aqui temos uma mistura de chambara (filmes de samurai japoneses) e o cinema exagerado e apelativo feito durante o período que a película foi lançada.

O filme se passa durante o Período Meji no Japão, após 300 anos do shogunato de Tokugawa. Uma era de forte transição de sua cultura feudal para a revolução cultural e social. Os ideais europeus de progresso social começaram a serem aceitos. Uma época de varias mudanças, onde o país começou a ficar economicamente e tecnologicamente estável.

Começando com o nascimento da personagem principal numa prisão, Yuki Kashima, que, desde seus primeiros momentos, é marcada com algo que seria o objetivo da sua vida: vingança pelas próprias mãos. Nascida vitima de um estupro e com sua família praticamente morta, sua história é marcada pelo forte senso de buscar justiça. Isso é contada de forma não linear durante o filme. Com idas e vidas no tempo que mostram, por exemplo, seu duro treinamento quando criança (destaque para a atriz mirim nesses momentos), ou ela mais velha e pronta, indo em busca dos causadores daquilo tudo.



A personagem Yuki Kashima já adulta, interpretada por Meiko Kaji, é apresentada logo no começo. E o filme não enrola para nos colocar dentro da ação. Sem demora, logo nos primeiros minutos de filme vemos uma curta cena de luta que nos dá o clima da produção. Se você não esta acostumado ao jeito “exagerado” que os orientais filmam suas cenas, principalmente as de ação (grandes espirros de sangue que parecem irreais,  forte dramaticidade nas atuações, o uso diferenciado da entonação de voz, violência forte mas quase cartunesca) aqui é bom começo para se introduzir ao gênero.

Os créditos iniciais são apresentados tendo ao fundo a bela música “Shura No Hana"”, cantada pela própria Meiko, que, além de atriz, é uma famosa cantora no Japão.
A música fica na cabeça, assim como toda a trilha do filme, composta por Masaki Tamura, que possui, em alguns momentos, um tom de tristeza bem peculiar.

A fotografia de Masatoshi Tamura e direção de arte de Kazuo Satsuya utilizam bem as cores e cenários apresentados. Com destaque para o sangue vermelho em contraste com a branca neve. As cores aqui são muito vivas, algo que dá gosto de assistir. Com cenas de extrema beleza contrastando com sua violência quase poética. Algo que seria copiado muitas vezes depois, inclusive em produções ocidentais.

 A direção de Toshiya Fujita, que possui vários creditos na sua carreira, é bastante eficaz e ágil. Se utilizando de diversas formas para conta a sua historia. Mantendo o clima de tensão durante todo o filme e não devendo nada para as produções de ação atuais. Ele também se utiliza muito de planos longos e belos, sabendo mover a câmera quando necessário.



Seu clímax é uma aula de como criar suspense e mostrar boas cenas de ação. Com a personagem principal finalmente indo cumprir o que foi designada desde o nascimento. Seu final é melancólico e direto, terminando na hora certa.

Não é de se estranhar que esse filme tenha virado cult e referência para muitos outros. Como falei antes, aqui temos formas diferentes de como contar a história apresentada, deixando a obra dinâmica e bem atual. Como idas e vidas no tempo, uma sequência de animação, a tela “pausando” para introduzir o nome de certos personagens através de letreiros, narração off em cima de fotos ou cenas, divisão por capítulos, entre outras coisas.

Meiko Kaji, nascida em 1947 como Masako Ota, virou cult dentro e fora do Japão.Com uma longa carreira na musica, televisão e cinema. Entre seus papeis marcantes estão a série Female Convict Scorpion..  Sua atuação nesse filme é fria e direta, sem muitas palavras e com uma forte carga emocional guardada. Mas não é algo que compromete a trama, pois sua personagem pedia uma interpretação assim.

Os dois  Kill Bill de Quentin Tarantino, principalmente no primeiro volume se inspiram em muito nesse filme. Temos semelhanças entre personagens (a vilã de Lucy Liu é claramente baseada na personagem de Meiko Kaji), a divisão por capítulos, cenários (como a luta no jardim na neve), cenas e ângulos de câmera, diálogos e ate mesmo a utilização da mesma trilha sonora .






Lady Snowblood – Uma Canção de Amor e Vingança  (Shurayukihime: Urami Renga, 1974)



Também presente no lançamento nacional em DVD está disponível sua sequência. Lady Snoblood – Uma Canção de Amor e vingança.

Lançada um ano após e com novamente Toshiya Fujita na direção e Meiko Kaji no papel principal. Comentando apenas sobre os dois, podemos ver que eles melhoraram seus papeis entre uma produção e outra, pois Meiko Kaji está mais à vontade como Lady Snowblood, assim como Toshiya Fujita tem uma direção mais fluída que no primeiro filme.

Temos aqui uma sequência que, mesmo não superando o original, mantém seu padrão e qualidade, e nos dá um bom entretenimento. Com um enredo com muito mais intrigas e ação na hora certa, continuando assim como seu antecessor um filme bastante atual.

Como no primeiro filme, aqui ele não enrola para nos colocar dentro da ação. Logo antes dos créditos, onde somos presenteados com um longo e belo plano sequência, a personagem principal dá cabo de alguns inimigos. A cena de ação é bem fluída, lembrando inclusive aqueles videogames de luta. Algo semelhante foi feito atualmente no Sul Coreano Oldboy.

Os créditos iniciais são um dos melhores que já vi. Onde temos uma melancólica música tanto o tom para uma longa cena de luta numa praia, em que a personagem principal enfrenta homens que querem prendê-la.



Assim como o primeiro filme, as cenas de ação não devem nada às atuais, inclusive considero melhores que muitos filmes contemporâneos. Você consegue realmente entender e ver o que está acontecendo, além de visualmente e violentamente belas, são bem coreografadas.

O filme não poupa a violência, sempre com o sangue em vermelho vivido. Inclusive com cruéis cenas de tortura. Mas, assim como no primeiro filme, mesmo as cenas sendo fortes, carregam uma beleza fria e quase poética. Por isso podemos perceber que a violência é algo deplorável na vida real. Mas no cinema e outros meios de arte, se for bem utilizada, pode ajudar em muito a trama e deixar a obra mais forte..

Sempre digo que cada país tem seu jeito peculiar, ou, diríamos, estilo de fazer cinema. Por isso, podemos ver que poucas obras ocidentais que tentaram emular o cinema vindo do oriente deram certo. Enquanto não acertam a mão por aqui, melhor continuar vendo as obras originais vindas do povo de olhos puxados. Pois de lá vieram realmente grandes obras primas. Por isso, perca um pouco o preconceito com obras vindas do oriente e dê uma chance para esses dois filmes tratados aqui. Garanto que vai se surpreender.