Devido ao desgaste e os excessos criados nos malucos anos
80. O heavy metal, antes, uma musica que surpreendentemente ficou popular,
entrou nos anos 90 com sérios problemas: Ele simplesmente não se encaixava mais
naquela década sombria.
Onde com o surgimento do grunge, os olhos não estavam mais
voltados praqueles cabeludos tocando pesado em meio a riffs épicos e exagerados.
Era o tempo de ser mais introspectivo,
de olhar para si mesmo. Era proibido solo de guitarra ou ter um visual mais
afetado. É claro, isso não durou tanto como esperavam. Afinal, o mundo gira, o
tempo passa e novos interesses vão surgindo.
Mesmo assim é errado dizer que foram anos perdidos, um
buraco na historia do metal. Houve sim grandes bandas, grandes álbuns.
Longe do mainstreem é claro. Um erro muito cometido é achar
que algo só presta (ou pior, que esse algo existiu), se vende milhões, aparece
na TV ou etc. O heavy metal nunca precisou de apoio da mídia para sobreviver e
continua firme e forte na historia como uma musica transgressora que sobrevive
pela paixão dos fãs e músicos.
Decidi colocar aqui alguns clássicos da década que valem a
pena serem descobertos e redescobertos por vocês. Algumas escolhas foram
inevitáveis, mas tentei fugir do obvio e colocar um pouco de tudo. Do mais
extremo ao mais melódico.
Vamos lá!
Iced Earth – The Dark Saga - 1996
Jon Schaffer pode até ser um cara difícil, daqueles que não
conseguem manter a mesma formação da banda de um disco para o outro. Mas é
inegável sua capacidade de composição e a pegada forte que ele tem na guitarra
base. Sempre guiando o Iced Earth com uma postura firme e fiel ao estilo.
A idéia de gravar um
disco inteiro falando do personagem de quadrinhos Spawn pode parecer estranha.
Mas a qualidade musical falou mais alto nesse caso.
Matt Barlow já tinha dado o recado no disco anterior, sua
estréia no vocal com The Burnt Offerrings, mas é aqui que ele fincou seu lugar
de destaque no grupo e a banda se consolidou.
Com musicas de estruturas mais simples, mas não deixando de
ser trabalhadas. O Iced Earth conseguiu fazer um disco de alto nível que é
fácil de ficar na cabeça.
Helloween – The Time of The Oath - 1996
Para algumas pessoas, Helloween são os dois volumes Keppers
of the Seven Keys lançados nos anos 80 e nada mais. Respeito essa opinião. Mas muitas vezes uma parte importante da
historia do grupo alemão, criadores do Power metal, é ignorada e esquecida por
pura preguiça e preconceito.
Tudo bem que Andi Derris, que tinha entrado na banda no
álbum anterior, substituindo o marcante vocalista Michael Kiske, não tem uma
voz muito característica para o Power metal, com um estilo rasgado puxando mais
para o hard (ele era vocalista da banda de hard rock Pink Cream 69 antes de
entrar para o Helloween). Porém, junto com composições que misturam um pouco da
malicia do hard com o epico do Power metal, geraram uma formula que deu muito
certo.
Escute os clássicos Power, Steel Tormentor, Before the War ,
a faixa titulo e ira perceber como esse álbum pode não ser conhecido como os
Keepers, mas é tão bom quanto.
Paradise Lost- Draconian Times – 1995
Uma produção limpa que te deixa ouvir claramente cada
movimento produzido no disco. Junto com uma execução absurdamente certeira.
Envolta de musicas cativantes, com extrema qualidade e beleza. Essa foi a
formula para o sucesso de Draconian Times. O álbum de mais sucesso e relevância
do Paradise Lost.
O Paradise Lost foi mais uma das bandas européias, a exemplo
de Amorphis e Sentenced, que começou com uma raiz death/doom metal , moldando seu som ate algo mais experimental e
difícil de classificar, com pitadas inclusive de pop oitentista. Sendo muito
mais do que uma banda de gothic metal, como é normalmente classificadam, já que
é um estilo que ela ajudou a criar e difundir.
Draconian Times é um ponto no meio entre as raízes e o som
que viria fazer depois. Uma espécie de mistura entre os dois. Que gerou um
heavy metal pesado e atmosférico. Porém direto e que continua moderno.
Melancólico , belo, soturno e pesado. Draconian Times é um
disco único.
Grave Digger – Tunes of War - 1996
Grave Digger é um dos pilares do heavy metal tradicional
alemão que surgiu nos anos 80 e criaram um certo nome cult, principalmente pelo
álbum Heavy Metal Breakdown (1984). Porém, foi apenas na década seguinte em que
eles realmente se consolidaram e criaram fama. Colocando seu nome junto dos
grandes do metal.
E esse álbum é um dos responsáveis por isso, os fazendo
entrarem de pé-direito numa década que não abria muito espaço para um som mais
tradicional. Porém, o talento e qualidade musical falou mais alto e o álbum
teve seu sucesso merecido. Já que o heavy metal tradicional, com pitadas de
Power, é algo que é recriado de maneira estupenda aqui.
unes of War é conceitual e conta a historia da guerra da
independência da Escócia. Com um som mais trabalhado e épico que os álbuns
anteriores. Sem abrir mão do peso e melodias marcantes.
Deste a introdução com gaitas fole, partindo pela direta
Scotland United. É uma musica mais legal que a outra, não abrindo espaço para
fillers.Mas se for para apontar destaques eu colocaria: William Wallace
(BraveHeart), The Dark of The Sun, a bela The Ballad of Mary (Queen of Scots) e
o maior hit da banda, Rebellion ( The Clans Are Marching).
The Gathering – Mandylion - 1995
Como o Paradise Lost, banda que eu citei agora pouco. O
Gathering é mais uma banda européia que teve suas raízes no doom/death, ate se
fincar no experimentalismo quase pop. Gerando assim um fator de divisão entre
os fãs.
Alguns adoram as mudanças, outros odeiam. O fato é que
bandas que não tem medo de experimentar nunca serão unanimidade. Mas passar
despercebido após ouvir um álbum tão belo como esse é impossível.
Esse terceiro registro da banda é o meu favorito e também o
de muitos. Após escutar faixas com a abertura Strange Machines, Leaves e as
duas partes de In Motion, fica fácil entender a razão.
Um ponto de virada que ajudou o som da banda a se moldar foi
a entrada da vocalista Anneke Van Giersbergen,cheia de beleza e carisma. Sua
voz encaixou perfeitamente no doom “experimental” do disco. Com vocais que não
exageram nos lirismos, como ficou comum e popular nas bandas de metal com uma
vocalista mulher. Anneke não abre mão de linhas energéticas e sensíveis, ao
mesmo tempo envoltas da certa melancolia e peso criados pelo instrumental das
canções.
Carcass - Heartwork – 1993
Um dos pilares criadores do grindcore. O Carcass foi
moldando seu som ate chegar no quarto álbum. Substituindo as letras gore que parecem ter saído de livros de óbitos.
Para criticas a uma sociedade decadente.
Esse disco é um daqueles marcos no death metal em que após ouvimos
sabendo sobre o panorama da época, percebemos que foi um ponto de mudança.
Com um som mais técnico e harmonioso se comparando com a dos
registros anteriores. O Carcass apresentou um trabalho fincando nas melodias
dos riffs pesados de guitarra, que lembram algo vindo do heavy tradicional. Algo que se firmou como uma marca do que
começou a ser chamado de death metal melódico, praticado depois por bandas como
At the Gates e In Flames.
A abertura com Buried Dreams já é atípica e mostra a
mudança. O instrumental como dito anteriormente trás muito mais melodia que
anteriormente, em contrapondo com o peso e os vocais guturais de Jeff Walker.
Uma seqüência matadora segue com faixas como This Mortal Coil, Embodiment, No
Love Lost e a faixa titulo. Um trabalho essencial, tanto para quem curte algo
mais extremo, ou para quem quer começar a se aventurar pelo estilo.
Sarcófago – The Laws of Scourge -1991
Pioneirismo, desbravamento, coragem, blasfêmia, polemica.
Esses são alguns adjetivos que podemos dar ao grande Sarcófago, um dos marcos
do metal negro brasileiro.
Para alguns apenas a banda que rivalizava com o Sepultura
deste a época em que tocavam no undeground de BH dos anos 80, para outros, um objeto
de culto e adoração. Um dos primeiros nomes mundiais a se aventurar por sons
temáticas e atitudes mais extremas. Sendo influencia para toda a cena do black
metal norueguês que se instalou nos anos 90. O fato é, Sarcófago é uma banda
única que nunca teve medo de ir além no que consideramos pesado, tanto lírico
como musicalmente. E aqui temos seu álbum mais bem trabalhado e maduro,
melodioso na metida certa. Mas mantendo as qualidades da banda e sua marca, o
extremismo e a feracidade.
Ao ouvirmos musicas como Midnight Queen, Screeches From The
Silence, Black Vomit ou a faixa bônus Crush, Kill, Destroy. Podemos captar toda
a fúria da banda. Num festival de riffs, solos, vocais gélidos e uma técnica
não vista antes, que prova que o Sarcófago é sim uma grande banda, e merece
todo o reconhecimento que possui.
Fates Warning – Parallels – 1991
De apenas mais uma banda de metal como outras, até provar
todo seu potencial e chegar na sua obra prima, Parallels. O Fates Warning fez
historia e ajudou a criar algo novo no metal. Infelizmente não tem o devido reconhecimento,
mas gostaria de fechar o texto fazendo justiça a essa grande banda.
Vindo de álbuns com uma pegada mais Iron Maiden, que tinham
lá sua qualidade, mas nada demais. O Fates Warning foi moldando seu som para
algo mais intricado, sendo considerados juntos com o Queensryche , os
precursores e pioneiros do prog metal.
Mas agora você me pergunta: eles influenciaram o Dream
Theater? Sim, e muito. Não apenas o Dream Theater, mas todo a leva de bandas de
prog que vieram depois. Todas tem uma pequena divida com o Fates Warning.
Mas o que é exatamente o Parallels? Vou resumir falando que
é uma mistura de bom gosto musical, melodia e uma técnica absurda usada a favor
da musica. Todas as viradas, quebradas de ritmo, riffs e solos estão lá por
algum motivo, sendo usados para criar linhas instrumentais belíssimas em
contrapondo com vocais certeiros e melódicos. São tão cativantes as musicas que
arrisco disser possuem uma sensibilidade quase pop. Sim, é possível fazer isso
no metal, com técnica, com peso, só ter competência e criatividade. E isso aqui
sobra.