Poucas coisas na vida são mais violentas e intensas do que
ouvir em alto volume Exodus. Seja ele nos álbuns ou nos inesquecíveis shows do
grupo. Banda que foi injustamente deixada de lado por muito tempo pela grande
mídia e fãs da musica pesada, sendo ofuscado por outros medalhões do gênero
(alguns até manjados). Mas que felizmente durante esses anos tem conquistado
seu espaço na cena.
Marcando seu nome eternamente nos corações de quem gosta de
thrash metal e mostrando que a luta e trabalho duro acima de qualquer
adversidade valem a pena, e olha que a banda, pioneira do estilo, já passou por
cada problema.
Lembrando que é sempre bom exaltar a importância do
guitarrista Gary Holt. Dono de uma técnica e felling incríveis, ele é um
verdadeiro arquiteto na arte de criar musica pesada. Único membro presente em
todas as formações do grupo, ele manteve firme a banda durante todos os anos e
finalmente esta recebendo o merecido reconhecimento de ser um dos melhores
guitarristas do metal.
Ah, ele esta tocando no Slayer também, substituindo o falecido Jeff Hanneman.
Podemos dizer que hoje em dia a banda vive seus melhores
momentos, porém nem sempre foi assim. Mesmo com a qualidade absurda de muitos
dos seus álbuns, vamos a eles:
P.S: Vou apenas falar dos álbuns de estúdio;
Bonded By Blood - 1985
Algumas bandas precisam de uma carreira inteira para se firmar
na cena, criarem um clássico ou conquistarem uma legião de fãs. Algumas bandas
precisam apenas de um álbum, mas precisamente um álbum de estréia. E esse é o
caso aqui.
Com musicas que exaltam o metal como estilo de vida, como a
faixa titulo e Metal Command. E a
mais pura violência e agressividade, algo que pode parecer ingênuo hoje em dia,
mas que possui seu charme, afinal, para época o lema “Kill the posers”,
gritando em alto som nos shows do grupo, fazia muito sentido.
E não é só na parte lírica que esse disco é extremo,
musicalmente ele é um verdadeiro soco na cara, onde o único momento leve é a
abertura da faixa No Love. Sabe
aqueles álbuns que você coloca no aparelho de som e tem vontade de sair num mosh e tudo
mais? Então..
Talvez o disco mais conhecido da banda, foi tocado na
integra muitas vezes e é celebrado por fãs e músicos em geral como um dos
melhores do estilo. Eu mesmo tenho uma relação especial com ele, já que foi o
primeiro da banda que eu ouvi e um dos primeiros álbuns de thrash metal que
tive em mãos, me levando para esse caminho sem volta.
Para ter uma noção boa da qualidade assustadora desse
registro, darei um exemplo de uma situação que pode acontecer: Se uma pessoa
não conhece nada, ou muito pouco desse estilo chamado thrash metal e quer
começar por algum lugar, mostre esse álbum, vai na minha que a pessoa na certa
vai começar a ver o estilo com outros olhos.
Vale lembrar que ele foi regravado e lançado em 2008, com o
nome Let There Be Blood, contendo a
formação da época. O resultado ficou muito bom ,mas longe de ser algo memorável
e original como o clássico
Esse foi o único álbum de estúdio com o lendário e hoje já
falecido vocalista Paul Barloff, no seguinte ele seria substituto pelo
Ex-Legacy (atual Testament) Steve “Zetro” Souza, devido aos seus problemas com
bebidas e outras substancias.
.
Pleasures Of The Flesh- 1887
E por falar em Zetro Souza, esse foi o primeiro registro
lançado por ele nos vocais. Algo que desagradou (e infelizmente continua
desagradando) muitos fãs, principalmente aqueles que seguiam Paul Barloff, que
era realmente um monstro ao vivo.
Porém, Zetro é um cara legal, sua voz combina com o estilo,
o repertorio aqui é condizente com a qualidade do grupo, com musicas mostrando
que a banda estava afiada. Então, como esse registro é tão esquecido? Ou
melhor, é tão subestimado?
Qualidade não falta aqui, inclusive com musicas que podem
facilmente entrar no setlist da banda a qualquer momento, sendo verdadeiras
porradas e uma resposta na forma de chutes na bunda para as pessoas que
pensavam que a banda iriam amaciar o som.
Musicas como a faixa
titulo, Brain Dead e Seeds Of Hate
são destaque, todas elas com ótimos riffs e andamentos, mostrando inclusive um
apuro técnico maior que do álbum de estreia.
Talvez não tenha o mesmo impacto do registro de estréia,inclusive
para a critica e para o publico, que na
época de lançamento deixou ele um pouco de lado, sem contar a péssima distribuição
que recebeu, fazendo que ele vendesse muito abaixo do esperado.
Mas no geral, ele esta com o tempo recebendo o valor que
merece. Se você costuma deixar ele de lado, considerando como um álbum menor da
fase clássica do grupo, dê uma segunda chance a ele, garanto que pode se
surpreender.
Fabulous Disaster- 1989
Nessa época o thrash metal estava vivendo uma mudança
drástica. Suas bandas ou migravam para um som mais cadenciado, puxado para o
heavy tradicional, ou se tornavam mais extremas. Podemos dizer que o Exodus
ficou no meio termo.
As melodias fáceis e pegajosas, seja nos instrumentais ou
nas linhas vocais estão mais presentes do que nunca aqui. Achou estranho eu
dizer isso num álbum de thrash metal? Pois é, mas não pense que a pancadaria
sonora foi deixada de lado, a banda continua mais nervosa do que nunca.
Só que dessa vez a técnica apurada pelos anos tocando foi
usado em prol de duas coisas: criar musica extrema e bem feita, técnica e ao
mesmo tempo de fácil assimilação. Mesmo as faixas mais longas como Like Father, Like Son , possuem essas
características, e eu te digo uma coisa meu amigo, isso não é pra qualquer um.
A verdade é que a banda estava deixado seu lado mais ingênuo
(e às vezes dito “tosco”) de lado. Incluindo nas letras, se focando mais em política
e problemas sociais.
Talvez pelo excesso de melodia, muitas pessoas desgostem
desse álbum, tachando que a banda estava começando a mudar para atrair o
mercado. Bobagem, a verdade é que o Exodus estava amadurecendo.
Além de clássicos como a faixa titulo, Corruption e The Last Act of
Defiance. O disco tem um dos maiores hits da historia da banda, sendo
tocado em praticamente todos os shows. Estou falando é claro de The Toxic Waltz.
Impact is Imminent- 1990
E eles entram na década de 90 tirando o pé do acelerador,
mas não deixando o heavy de lado. É isso
que podemos ver nesse registro: musicas mais cadenciadas, porem com um peso
incrível e aquela velha agressividade de sempre, dessa vez de certa forma mais
condensada.
Contando com uma produção ótima pra época, que deixou os
riffs bem encorpados, temos aqui como no registro anterior musicas longas e
complexas, talvez até longas e complexas demais. Um verdadeiro tiro no pé pra época, pois aqui
temos um registro totalmente não comercial, indo de contramão ao que estava
começando a se instalar no meio musical do heavy e thrash metal.
Porém, mesmo com tudo, ainda tenho problemas com esse
registro, vou tentar explicar:
Apesar de sua qualidade e de possuir seus destaques, falta algo
que o álbum anterior fazia com maestria, que era juntar a técnica e a
complexidade das musicas com a melodia e a dinâmica, fazendo com que elas sejam
pegajosas e não enjoem. É louvável que a banda tenha tido coragem de continuar
tocando o som pesado e agressivo, porem, antes esse som tinha um lado que fazia
entrar fácil na cabeça, mesmo dentro de toda violência sonora.
Ainda é um bom álbum e bastante extremo, talvez contendo
algumas das passagens mais violentas e pesadas do Exodus até o momento, porem,
só isso não é suficiente para que ele esteja acima do nível, como foram os
anteriores a ele.
Sei que muita gente o adora e isso é compreensível, eu mesmo
gosto bastante de algumas faixas dele. Porem, não se pode negar que a banda
estava entrando em um momento bem estranho da sua carreira.
Force Of Habit- 1992
Algo aconteceu para o mundo da musica pesada, e por que não, da musica mundial em 1991. E isso é o auto-intitulado quinto álbum do
Metallica, o popular álbum negro. Além de ter sido um sucesso comercial
incrível até hoje. Podemos dizer que esse registro mudou a carreira não só do
Metallica, que foram dos reis do undeground thrash para encherem arenas e irem
deixando o som cada vez mais “pop”. Mas de todas as bandas da leva que tentaram
emular não apenas o som tirado nesse álbum, mas o seu sucesso de vendas.
É claro que muitas bandas não ligaram pra isso e continuaram
até mais extremas do que antes, caso do Slayer que mantém uma integridade
musical impar. O Exodos parecia que iria seguir o mesmo caminho, mas não foi exatamente isso que aconteceu.
Porém, das bandas que tentaram repetir o sucesso do
Metallica, dentro os registros que tivemos na
época, podemos separar em dois
grupos: aqueles que falharam ao amaciar o som. E aqueles que mesmo com as
mudanças , conseguiram fazer algo digno .
Onde o Exodus estava nesse momento? Bem ,infelizmente
podemos dizer que eles entraram na onda de gravar algo que a gravadora propunha ser mais acessível as rádios, Mtv e
ao publico em geral. Como disse certa vez Gary Holt: “foi o primeiro álbum que
não fiz o que eu exatamente queria”
Felizmente, a banda entrou no grupo que conseguiu fazer algo
digno, ou pelo menos chegou perto.
Mesmo que seja diferente, e que de certa
forma falte um pouco da personalidade da banda, não podemos dizer que esse
álbum seja totalmente ruim. Os riffs e peso ainda estão lá, só que dessa vez de
uma forma diferente.
Conheço muita gente que detesta esse álbum mesmo sem ter
ouvido ele antes, apenas pela sua má fama. Meu amigo, dê mais uma chance para
ele, você pode até não gostar, mas é bem melhor não gostar de algo sabendo o
porque e conhecendo ele, do que não gostar apenas porque ouviu na internet meia
dúzia de pessoas falando mal.
Tempo Of The Damned- 2004
Como podemos ver os anos 90 não foram dos mais favoráveis a
banda, o que podemos destacar nessa época foi o retorno do vocalista original
que registrou um ótimo álbum aovivo. O Another Lesson In Violence. Fora isso, o
grupo estava praticamente morto.
Após um bom tempo sem lançar nada de estudio, o Exodus volta
com tudo, com aquele que pra mim é seu registro mais forte dos últimos anos, um
álbum tão incrível que consegue bater de frente fácil com qualquer disco
gravado por eles nos anos 80 e por qualquer outra banda.
Não é errado dizer que esse é um verdadeiro clássico do
começo dos anos 2000. Mostrando que a banda ainda estava viva, e que
principalmente, o verdadeiro thrash metal estava vivo. Vale lembrar que
estávamos num momento que o revival do estilo estava começando, com bandas
novas e antigas lançando trabalhos dignos de nota.
Estamos falando do incrível Tempo Of The Damned, de onde saíram clássicos e que espero que
nunca saiam do setlist da banda como Blacklist
e War Is My Shepherd. Essas duas
costumam ser as mais lembradas, porém o registro todo é acima da média, com
musicas como Throwing Down, Scar Spangled Banner e Foward March.
Podemos ver aqui que a banda voltou a formula que deu certo
em Fabulous Disaster. Porém, com uma
abordagem atual para época e que continua atual até hoje (não foi tanto tempo
assim, mas 2004 às vezes parecem que foram a milhões de anos atrás).
Parece que finalmente
depois de dois registros regulares, e de muitos anos depois, eles perceberam o
som que agradava tanto a critica quando o publico , além de ainda se manterem
fieis ao que eles realmente eram. Não era difícil pegar uma publicação da época,
e ver muitos elogios a Tempo, elogios
merecidos, além de continuar sendo até hoje um álbum bem aceito e amado pelos
fãs novos e de longa data.
Shovel Headed Kill Machine- 2005
Aqui temos o primeiro registro com um novo vocalista: Rob
Dukes, um cara que dividiu e continua dividindo opiniões sobre seu trabalho na
banda. Principalmente entre os fãs mais antigos, que não curtiram muito o
estilo mais hardcore/Phil Anselmo que ele tinha. Isso foi mudando com os anos,
com ele se adaptando melhor ao som da banda.
Vi dois shows com Dukes a frente dos vocais, e posso dizer
que apesar dos vocais serem discutíveis, ele sabia como fazer o publico ficar
doido,, dando uma agressividade muito bem vinda as musicas e incentivando o
mosh a todo momento, um verdadeiro frontman para uma verdadeira banda do
estilo.
O que podemos ver nesse disco é uma continuação natural
do anterior, porém sem o mesmo
charme, ainda que mantenha uma qualidade boa.
Mas isso deve ser porque considero o Tempo
..um registro acima de média para qualquer banda, ou seja, tenho um caso
especial com ele.
As musicas continuam
longas, técnicas e bem construídas, porem, a favor das canções. Algo que eu
sempre volto a dizer: Exodus é uma das bandas que melhor consegue fazer isso.
Junto com Testament, Megadeth, Kreator e
Artillery.
Podemos dizer que com a entrada do novo vocalista, e do seu
estilo vocal, temos um álbum até mais extremo que o anterior. Com passagens de pura porrada, que aliadas a
técnica da banda, formam aquela massa sonora que todos adoramos no Exodus.
No geral, temos um bom álbum, amado por alguns e
injustamente esquecido por muitos . Parece que a banda ainda podia mostrar algo
melhor, mesmo que esse registro tenha seus ótimos momentos, não é dos que
grudam na primeira ouvida, mas vale a conferida.
The Atrocity Exhibition: Exhibit A- 2007
Se o disco anterior dividiu opiniões, não exatamente pela
qualidade das musicas, mas pelo vocal. Nesse o saldo positivo de critica e
publico foi bem maior. Com as pessoas aceitando melhor o trabalho do vocalista
Rob Dukes que aqui ainda estava com seus berros, mas dessa vez melhor
encaixados nas musicas. Além de que estava bem mais entrosado com a banda nos
shows, inclusive nas musicas não gravadas originalmente por ele
Podemos ver aqui uma banda mais segura de si, mostrando
composições fortes, e sinceramente, melhores que do registro anterior.Novamente
a banda acerta a mão, ao apostar numa volta ao passado, mas com uma pegada
atual no meio.
Com isso, podemos perceber que eles pegaram o que deu certo
no álbum anterior e focaram nisso. Ou seja, musicas pesadas, técnicas,
agressivas, com uma abordagem atual, mas que você escuta e pensa logo de cara:
isso é exodus dos anos 2000.
Podemos ver aqui faixas com um tom épico e grandioso, como
na faixa titulo e no maior sucesso do álbum, a musica Children Of A Worthless God. Uma musica tão boa que merece fincar
no hall de clássicos do grupo e que é sempre muito bem vinda nas apresentações ao
vivo. Podemos notar também que aqui temos as musicas mais longas da banda.
Exhibit B: The Human Condition- 2010
Deixando de lado o tom mais épico do álbum anterior, e
partindo para algo mais direto, como um retorno as origens que o álbum Tempo.. já propunha. Exhibit
B talvez seja o álbum com Dukes com mais cara do Exodus antigo. Isso se
deve as musicas que estão com uma pegada de thrash 80’s extrema. Só que com uma
produção ótima. Alias, elogiar a produção dos álbuns do Exodus do Tempo pra cá é chover no molhado, contando
geralmente com o ótimo Andy Sneap encarregado desse trabalho.
Saudosismos baratos de lado, para uma banda como essa, isso
não é algo negativo. Claro, é sempre preciso olhar para frente, mas manter um
pé na atualidade, e outro pé respeitando o que fez no passado, pode ser algo
muito favorável para certas bandas.
A segurança que a banda tinha ganhado no registro anterior continuou aqui,
ainda maior para falar a verdade. Pois aqui, mesmo que o grupo esteja com o
jogo ganho, eles ainda se preocuparam em lançar musicas de alta qualidade. Não
é difícil pra mim considerar esse o meu registro favorito com o Rob Dukes.
O resultado no geral é uma banda que estava crescendo de
qualidade a cada novo registro, essa formação do Exodus parecia que iria durar
até o fim da banda, não foi bem isso que aconteceu...
Blood In, Blood Out- 2014
E chegamos a o ultimo álbum de estúdio do Exodus, lançado no
ano passado, ele marca o retorno (muito bem vindo) do antigo vocalista Steve
“Zetro” Souza, que estava indo bem na sua banda Hatriot, mas para felicidade
dos fãs da sua fase no Exodus, finalmente assumiu novamente os vocais.
Todo respeito a Rob Dukes , é claro, o trabalho dele no
Exodus, principalmente sua insanidade no palco será sempre lembrado.
Agora voltando a o álbum, nota-se durante varias passagens
uma banda mais descompromissada, apenas tocando o que gostam , não pensando se
algumas faixas podem virar clássicos no futuro, mas na qualidade que elas tem
sendo ouvidas hoje em dia.
Isso significa que as
musicas são ruins? Não mesmo, deixe eu explicar: Bandas como Exodus não precisam se esforçar para ficar na media
alta ou positiva, eles simplesmente lançam seu material e já esperamos a
qualidade sonora de sempre. Aqui não
temos uma banda desesperada em mostrar o que sabem fazer, eles apenas fazem, e
visto as circunstâncias do lançamento do álbum, temos uma banda novamente bem
firme em sua proposta.
Talvez inspirados pela volta do Zetro, esse álbum lembra o Tempo Of The Damned em um sentido: é
mais uma volta da banda a o som de origem, mas com uma pegada atual, algo que
já estava acontecendo no álbum anterior.
Um fator que pode ter decepcionado muita gente são os vocais,
e isso é fácil de entender. Muita gente que prefere o Dukes vai estranhar de
começo o vocal mais “Pato Donald” do Zetro, porem, eu mesmo demorei a me
acostumar com o vocal do Dukes quando comecei a ouvir a banda com ele, então...
Como podem ver é uma discografia bastante respeitável e
consistente, além desses álbuns de estúdio o Exodus tem alguns ao vivo, vale a
pena destacar um: Another Lesson In
Violence, marcando o retorno de Paul Barloff aos vocais por um curto
período de tempo.