quarta-feira, 19 de julho de 2017

Ratt, símbolo do glam metal



A década de 80 foi uma época dos egos inflados, dos exageros, onde deuses voltaram a andar na terra no meio de mortais. Mas também foram tempos em que muita boa música foi produzida.  A época que o rock foi até o topo da montanha russa . Parecia até que jamais iria sair de lá.  Na corrida pelo sucesso muitos caíram no meio do caminho e foram esquecidos, mas alguns chegaram lá.

O hard rock oitentista, também chamado de glam metal  - ou no Brasil pelo termo pejorativo “farofa” -  foi o estilo que estourou naqueles tempos. Dividindo as paradas de sucesso com nomes que nada tinha a ver com o rock. O momento onde o metal foi mais pop, e pop no sentido de manstream.

É fácil olhar para trás hoje em dia e pensar apenas na pose, no visual exagerado das bandas da época, especialmente as do chamado glam metal. Se olharmos além do laquê, vemos como as músicas são de qualidade. Não foi só o visual de bandas como Poison, Cinderella, Motley Crue, Dokken, Quiet Riot que conquistou o mundo naquele momento, mas sim seu som energético e cheio de carisma. Talvez toda aquela excentricidade tenha coberto o  talento que tinham.

Infelizmente algumas pessoas tratam todo o conceito de glam como algo negativo ou sentem vergonha de admitir que gostam ou fazem parte disso. Como certa banda com nome de felino que estourou nos anos 90 e renega o seu passado não tão distante, quando era, ou queria ser uma representante do estilo.

Ainda assim, existem artistas que até hoje levantam a bandeira do glam com orgulho.

Ratt é uma dessas bandas e que falaremos um pouco aqui, mais especificamente sobre seus primeiros anos. Na minha humilde opinião eles representam o que foi o glam e o hard dos 80’s e é a primeira coisa que me veem a cabeça quando penso no estilo.

Apostando num visual característico da época , um som vibrante, com os riffs de guitarra na escola do blues, vocais rasgados característicos e letras falando sobre romance e noitadas , estava feita a formula . Assim como outros, eles pegaram o que bandas como Aerosmith, Kiss, Van Halen e Led Zeppelin faziam antes – o som, o virtuosismo, os exageros e o sex appeal – e colocaram uma nova roupagem e mais energia.

A historia do Ratt começa em Hollywood, terra das oportunidades para quem queria crescer na vida com a música ou trabalhando no cinema. Firedome era a banda de Stephen Percy, futuro vocalista do Ratt. A banda acabou em 1974, Percy então montou o Crystal Pystal. O nome foi mudado depois para Buster Cherry, e então mudou para Mickey Ratt em 1976.

Outro membro futuro da banda, o guitarrista Robin Crosby durante esses anos foi membro de bandas como Metropolis, Xcalibur, Phenomenon, Secret Service.

O vai e vem de membros do Mickey Ratt foi grande, e com a formação sempre mudando eles gravaram algumas demos. Até sair em 1980 um single com “Dr. Rock / Drivin’ on E” que deu certo nome no começo da cena de shows em clubes de Los Angeles

Em 1981 o nome finalmente foi encurtado para Ratt e após algum tempo a formação se firmou com Robbin Crosby e Warren DeMartini nas guitarras, Juan Croucier no baixo, Bobby Blotzer na bateria, e Stephen Percy nos vocais.

Em 1983 eles assinam com o gravador independente Time Coast Music e lançam o EP chamado Ratt. O EP com nome da banda deu certo e chamou atenção para eles, que conseguiram um contrato com a Atlantic Records.

O processo de composição para o primeiro álbum começou imediatamente, e em março de 1984 sai Out of The Cellar. Aclamado pelo publico e critica .  debut é o exemplo de ataque hard rock perfeito e certeiro. Foi um sucesso de vendas, atingindo a marca de três milhões de copias  vendidas– platina tripla.

Produzido pelo novato Beau Hill que conseguiu tirar o melhor som da banda. Afinal, não bastaria estarem inspirados se não tivessem uma boa produção por trás não é mesmo? Porém, não foi um trabalho dos mais agradáveis, com Hill já alegando que batia de frente com a banda.

É só ouvir as faixas presentes para entender o porquê de ele ter marcado tanto e virado um símbolo do glam metal. A abertura com Wanted Man, Back For More que foi regravada do EP, o maior hit Round And Round que ganhou clipe, You’re in Trouble, Lack of Communication, uma música  boa atrás da outra.

Out Of The Cellar e o próprio nome da banda – Ratt – nos remetem a música Rats In The Cellar, do Aerosmith. Mostrando de onde vieram às influencias da banda.

A mulher na capa é a modelo Tawny Kitaen. Achou ela familiar? Pois já deve ter a visto em vários clipes do Whitesnake.

Talvez não tão famosa e com o devido reconhecimento nos dias de hoje e lotando arenas como alguns de seus parceiros da época, algo que aconteceria se o mundo fosse um lugar justo.  Mas com uma qualidade inquestionável e que atingiu um status de Cult merecido. Eles foram o tipo de banda que chegou ao topo e caíram. Brigas internas e judiciais, loucuras diversas, e a falta de interesse do publico pode ter sido alguns fatores que fizeram o Ratt não ser mais o que era antes ou o que poderia ter sido.  

Afinal, quanta coisa boa não esta no mainstream hoje em dia não é mesmo? Devemos parar com esse conceito que só o que esta fazendo sucesso é bom e deixar de lado o que não tem projeção da mídia. Pois é assim que a boa música morre, não pela falta de bons artistas, mas pela falta de apoio e interesse do publico.

Ratt é algo além de um produto de seu tempo. Algo além de uma lembrança guardada no armário que temos vergonha de colocar para fora. Algo que dizemos “foi apenas uma fase louca e tola da minha juventude”. Para quem é de verdade e sente pulsando nas veias nunca é apenas uma fase, é algo que o acompanha para a vida toda.  


O hair metal, glam, hard rock de bandas como Ratt pode ter sido algo que nunca vai estourar ou fazer sentido como foi nos anos 80. Somos transportados para aquela época de longos cabelos e roupas cheias de estilo ao ouvirmos suas músicas ou vemos em vídeo shows antigos da banda, assim como seus clipes.  Mas é mais do que olhar de volta para o passado. É perceber como a qualidade da musica falou mais alto, se transformando numa obra de arte atemporal que sobreviveu e sobrevivera enquanto houver quem estiver disposto a descobri-la. 





quinta-feira, 13 de julho de 2017

O Castlevania da Netflix




Você já jogou Castlevania? Se você gosta pelo menos um pouco de vídeo games já deve ter trombado em algum momento da vida com essa serie já trintona lançada pela Konami. E meu amigo e minha amiga que esta lendo: eu amo Castlevania! Amo seu estilo gótico, amo seus personagens e enredo, a ação e desafios, todo o conceito.

Enfim, é uma série que marcou e foi parte importante da minha infância e adolescência. Era o começo de uma fase onde eu mergulhei de fundo nos games e não saia da frente do meu velho PSone e/ou jogando emuladores de SNES no PC.



Foi uma paixão instantânea as aventuras dos Belmonts lutando contra o Drácula e seus servos das trevas em seu castelo usando o lendário chicote vampire killer. Além de serem desafiadores e divertidos, todo o background dos jogos é baseado em clássicos do horror, o que agradava em cheio um garoto já fã dos antigos filmes  de monstros da Universal e da Hammer.

Porém a serie foi mudando, e meu interesse por ela foi se perdendo.  Dito isso, meu lado de fã que adoraria ver uma adaptação de Castlevania nas telas foi mudando com o tempo. Pensava: deixa pra lá, é melhor ficar só no videogame mesmo, com tanta adaptação ruim de jogos que eu amo feitas, não quero ver mais uma.



Eis que então é lançado pela Netflix uma serie animada, meu coração jovem estava batendo mais forte de alegria, porém, minha cabeça exigente e critica estava com os dois pés atrás.

Numa madrugada sem sono, resolvi dar uma chance, assisti tudo de uma vez e digo que felizmente não passei raiva com o seriado. Gostei até e fiquei ansioso para mais, pois apenas foram disponibilizados quatro curtos episódios. Temos mais acertos do que erros, e uma promessa de algo que pode ir melhorando com o tempo.

Mas antes de chegar ao assunto primeiramente gostaria de falar um pouco sobre o comportamento de alguns fãs, ou fanboys, como quiser chamar.


Algumas pessoas se contentam apenas pela obra ser feita e fecham os olhos para a qualidade dela. Como se só a existência dela bastasse. Lembra-se dos prequels do Star Wars? Ficamos tão empolgados com o fato de existirem mais aventuras naquela galáxia muito, muito distante, mas esquecemos de pedir por bons filmes.

Adaptação de qualquer mídia é assim, os fãs molham as calças ao saber que seu livro/HQ/game será lançado em outro formado, mas esquecem de serem exigentes sobre a qualidade dela, é o fanservice falando mais alto. Nada contra isso, como diria o Erico Borgo do portal Ometele: “eu sou fã eu quero service” mas isso não é o bastante. Ver meu personagem favorito ou cenário clássico não é o bastante, eu quero é qualidade acima de tudo.  



E as adaptações de games talvez seja uma das que mais sofre com filmes e seriados ruins. Diferente das de quadrinhos e de certos livros, que conseguiram um publico forte, uma certa aceitação da critica e são rendáveis, apostar numa adaptação de game pode ser um tiro no escuro.

Só lembrar dos patéticos filmes do Street Fighter, Double Dragon, Mortal Kombat, Super Mario Bros e etc. Todos filmes muito abaixo do que poderiam ser, visto que vieram de jogos divertidíssimos e se fossem feitos por pessoas com o mínimo de capacidade e entendimento do material fonte, poderiam gerar também filmes fieis e divertidos.

Um ponto que acertaram e só foi vantajoso pra adaptação foi pela escolha de fazerem uma série animada, e não com atores de carne e osso. Isso deu mais liberdade para criar cenas de ação e efeitos mirabolantes, que se fossem feitos de “verdade” poderiam correr o risco de ficarem ridículas na tela, especialmente com um mal uso de efeitos especiais.



Sim, eu sei que hoje em dia a tecnologia de efeitos evoluiu muito e esta praticamente possível fazer qualquer coisa nas telas, mas ainda tenho um pé atrás...

Ela é baseada em Castlevania 3 Dracula’s Curse,  lançado para  o Nintendinho em 1989 e  um dos melhores da série. Nele acompanhamos a luta de Trevor Belmont contra Drácula, isso lógico, com o pouco background de enredo dos games da época, o jogador é colocado no meio da historia só sabendo que você era basicamente um homem com um chicote mandado em uma missão, apenas. Isso é algo que seria preciso ser mudado para a adaptação, e foi isso que aconteceu.



O projeto se iniciou ainda em 2007 onde seria um filme animado lançado direto para vídeo. Escrito por Warren Ellis, circunstancias fizeram o projeto ser atrasado ate virar um seriado da Netflix. Usando como base o roteiro original feito há praticamente uma década.

A animação é feita pelos estúdios Frederator e Powerhouse Animation, e dirigido por Sam Deats. Lembrando o estilo de Cowboy Bebop e ate as ilustrações feitas por Ayami Kojima para o game da serie Symphony Of The Night. É um estilo bonito e suave, com os personagens bem expressivos e em certo ponto realistas, mesmo com alguns momentos não tão bem desenhados assim.


A música foi composta por Trevor Morris, eficiente e lembra os bons momentos dos filmes de horror clássicos, mas ainda espero ouvir alguma tema clássico da serie na tela, quem sabe vampire killer, blood tears ou ate mesmo the beggining.

O primeiro episódio é basicamente a historia de como o Drácula se apaixonou por uma humana , Lisa, que foi queimada viva, injustamente acusada de bruxaria. Tomado de ódio ele jura acabar com toda a vida da região da Wallachia. Lembrando o prólogo do filme Dracula de Bram Stoker dirigido pelo Coppola e colocando uma motivação para o que vai ser o grande vilão da serie em episódios futuros.  Depois dessa primeira parte o vampirão é deixado de lado e quem toma o posto de principal antagonista são crápulas da igreja, liderados pelo bispo, uma figura nefasta que te deixara com raiva e torcendo contra.



Trevor Belmont, protagonista do seriado só é mostrado no final do episodio, num bar enchendo a cara. Nos episódios seguintes começamos a acompanhar ele e vemos que não é apenas um sujeito bonzinho e unidimensional. Ultimo membro de sua família, que foi excomungada e mal vista pelo povo que eles protegem das forças do mal. Um herói errante e malandro, que quer fugir de problemas e cuidar de sua vida, mas sabe do peso da responsabilidade que tem em suas costas.

Outros personagens importantes que conhecemos durante o programa são Sypha Belnades, possuidora de poderes mágicos e neta do líder dos Oradores, um grupo a qual Trevor ganha amizade. Sendo uma personagem feminina interessante e com personalidade forte.


O outro personagem é Alucard, filho de Drácula e que vai contra o pai nessa missão. Ele mesmo, o Alucard do famoso Symphony of The Night, talvez o jogo mais conhecido da serie. Ele aparece bem pouco, o que nos faz esperar que em episódios futuros se mostre mais do vampiro rebelde.



Dito isso, temos os três personagens jogáveis do game original, só faltando o Grant, será que ele aparecera no futuro?


Castlevania da Netflix pode não agradar a todos. Fãs e não fãs da serie de games tem motivos para gostar e/ou odiar. Eu recomendo que deem uma checada e decidam por si mesmos. E caso sintam saudades de acabar com as criaturas do mal usando um chicote, os jogos clássicos sempre estão disponíveis, pensando nisso, acho que vou instalar um emulador de nintendinho.