terça-feira, 30 de setembro de 2014

Eu Odeio o Orkut



Eu Odeio o Orkut

O Orkut foi criado em 24 de janeiro de 2004 por Orkut Büyükkökten, engenheiro turco do Google. E chegou ao seu fim hoje, terça feira, dia 30 de setembro de 2014. Mesmo com protestos para que não acabasse, ele chegou ao seu triste fim e vamos agora brindar aos momentos bons, ruins, mas principalmente inesquecíveis que passamos neles.

Mesmo não sendo uma criação nacional, ninguém usou o Orkut como nos brasileiros. Fomos o país que mais o aproveitou e fez com que ele tenha se tornado um verdadeiro antro das mais curiosas formas de vida. Essa rede social que, até o advento do Facebook, era o grande ponto de encontro da internet, foi para muitos de nós um segundo lar, um lugar de encontrar amigos, discutir seus gostos, arrumar paqueras e muito mais.

Quem nunca deu uma stalkeada no perfil alheio e ficou com vergonha ao descobrir que a “vitima” poderia ver quem visitou seu perfil? Quem nunca mandou um depoimento para gatinha que estava afim e levou um fora depois? Quem nunca ficou colecionando scraps para depois apagar tudo? Quem nunca se divertiu e foi vitima de um perfil fake? Ou quem nunca entrou num debate acalorado numa comunidade e acabou criando amigos e inimigos?

O Orkut ficou na memória, antes mesmo do seu fim ele já andava esquecido e, agora, será uma página virada na longa e gloriosa história da internet, principalmente na história das nossas vidas, virtuais ou pessoais. E para relembrar essa rede social que tantas glórias e problemas (principalmente problemas) causaram para seus usuários, falaremos agora sobre uma comedia nacional em que o Orkut é o foco.

Todos sabem como nosso país não tem uma grande tradição de comédias de qualidade, e quando é lançado uma que valha a pena dar uma espiada, acredite, vale a pena mesmo. Não falo apenas de comédias, mas o fato de produzirem hoje em dia algum cinema de gênero, principalmente independente, no Brasil é um ato a ser apoiado. Uma pena que só ser um filme “diferente” do habitual não é motivo para ser de qualidade, mas que é um diferencial positivo, isso é.  

Eu Odeio o Orkut é um filme nacional independente lançado em 2011, época em que essa rede social ainda era bem usada, mas estava chegando ao fim da sua grande popularidade. Dirigido por Evandro Berseli e Rodrigo Castelhano, o filme é baseado no livro homônimo do próprio Evandro.  Foi bancado pelos próprios diretores e atores, algo a ser admirado.

A história gira em torno de Jader Bertola (Marcos Kligman), um cara amargo no passado que, viciado em Orkut, foi internado numa clínica de reabilitação para viciados em internet. Lá ele divide quarto com figuras muito estranhas, como o sujeito que perdeu os braços, acredite se quiser, de tanto digitar.

Muito debilitado ele resolve contar num livro sobre como ele chegou ao que chama de “offline do poço” para que um de seus colegas de tratamento o escreva, tarefa a cargo do próprio diretor do filme e autor do livro, Evandro Berseli, encarnando um sujeito mal humorado, sarcástico e aproveitador.

Jader Bertola, como contado nos flashbacks que narram sua historia, é um total fracassado no amor e na vida pessoal; um verdadeiro Zé Mané. O ator que faz ele tem uma cara de coitado de dar dó que deixa tudo engraçado, mesmo que o motivo da risada seja algo trágico. Pontos para a atuação que mesmo não sendo genial, é marcante e divertida.

Jader é tão azarado que quando finalmente consegue arranjar um namoro que parece que irá durar, acaba estragando tudo graças aos males causados pela famosa rede social em que o filme gira em torno. Afinal, esse filme não se chama Eu Odeio o Orkut por nada. Confesso que já vi pessoalmente casos parecidos como o dele acontecerem de verdade. Aqui vemos o personagem de Marcos Kligman ir do fundo do poço para a “offline do poço”. Totalmente trágico, se não tivesse certo humor nisso tudo.

Quando se tem pouca renda para filmar, deve saber utilizar bem e de forma eficiente os recursos disponíveis, o que o filme consegue fazer bem. Se focando principalmente nos diálogos e atuações dos personagens, mas usando também alguns truques que deixam o filme mais dinâmico e interessante de assistir, como, por exemplo, letreiros que aparecem na tela apresentando personagens ou explicando certas coisas.

Uma coisa legal sobre o filme é que ele é bem regional também: confesso que fiquei sem entender muitas do que é falado pelos personagens, principalmente as gírias. Mas isso é proposital, pois Eu Odeio o Orkut faz parte de um projeto para realizar filmes de baixo orçamento com equipe, atores e trilha sonora inteiramente vinda da cidade de Alvorada, no Rio Grande do Sul.  Quem é dessa região ou por perto deve ter se familiarizado com certos pontos do filme.

O filme talvez não seja tão engraçado para quem nunca conviveu com as bizarrices do Orkut. Ele cita abertamente muitas palavras e situações que só ficam engraçadas se você de fato vivenciou algo parecido com elas.

Sendo justo, não sei se Eu Odeio o Orkut funcionaria muito como uma comédia normal. Sem o tema que ele gira em torno, talvez ficasse um filme sem graça e não tão marcante. Mas como utiliza de uma abordagem única, acaba criando um mundinho próprio que é muito próximo daquele que nos já vimos.


Por fim, como eu disse, se você não é totalmente familiarizado com os assuntos abordados nesse filme, pode não achá-lo tão engraçado assim. Mas se você, de alguma forma, vivenciou todos os problemas e coisas boas que o saudoso Orkut nos proporcionou, pode achar nesse filme uma verdadeira pérola e retrato da sua época. Assista com o fator nostalgia ligado e divirta-se.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Remake não precisa ser ruim

Eu sou um grande fã de cinema em todas suas formas, mas sou principalmente fã de filmes de terror. Produções do gênero que eu assistia quando adolescente me fizeram entrar de verdade no mundo da sétima arte. Por isso, mesmo hoje em dia assistindo todo que é tipo de filme, guardo um carinho e acompanho com mais atenção filmes com monstros, assassinos, fantasmas e terror em geral.

Uma coisa que vem acontecendo hoje em dia é o grande publico ser exposto a uma grande leva de refilmagens de filmes, clássicos ou não, obscuros ou conhecidos e deixando a ousadia da novidade de lado. Bom, quem tem o mínimo conhecimento sobre as produções atuais sabe que isso não é totalmente verdade e que tem muita coisa boa e original saindo pelo mundo todo, como visto na primeira postagem desse blog.

Mas o ato de refilmar nunca esteve tão forte como hoje em dia. Falta de criatividade dos grandes estúdios? Possivelmente, o fato que isso é prejudicial para o gênero de algum modo. Pois quanto mais refilmagens surgindo que “encobrem” as produções originais, menos o publico tem acesso a elas e assim fica com a ideia de que o gênero esta estagnado.

Remake pode ser crise de criatividade hoje em dia, uma mania fácil de ganhar dinheiro aproveitando da obra original,seja muito famosa ou não. Mas antes era sinônimo de dar um “up” no original fazendo-a virar uma obra nova e própria

Abrindo um parêntese, o ato de refilmar obras conhecidas não é de hoje e nem exclusivo do gênero terror. Desde o inicio do cinema obras foram refeitas, muitas vezes pelo mesmo diretor! Lembram do clássico Os Dez Mandamentos do Cecil B. DeMile com Chalton Helston? É uma refilmagem de um filme mudo feito anos atrás pelo próprio DeMile. Por falar em Charlton Heston e épicos, Ben-Hur, famoso ganhador de onze oscars também é uma refilmagem de um filme mudo. Scarface com Al Pacino? Outra refilmagem. A lista continua até hoje, com filmes como Onze homens e um Segredo e feitos por diretores renomados como Martin Scorsesse que tem duas refilmagens na carreira, respectivamente Os Infiltrados e Cabo do Medo.

Aqui no Brasil temos exemplos como Matou a Família e foi ao Cinema, O cangaceiro entre outros.

E no gênero terror, não é de hoje que se refilmam filmes. Podemos começar, por exemplo, vendo o ciclo de filmes clássicos da Universal. O auge dessa produtora no gênero foi entre os anos 1930 e 1950. Praticamente uma fábrica de filmes clássicos e divertidos onde todos os monstros lendários da cultura popular e literatura deram as caras.

Drácula (1931) e Frankestein (1931) podem der dado aquela imagem clássica dos monstros ,a que lembramos quando ouvimos seus nomes e levado ao estrelato os atores Bela Lugosi e Boris Karloff,  mas não foram os primeiros filmes feitos baseados nessas criaturas
(imagem).

Tendo surgido na literatura graças a Bram Stoker e Mary Shelley. A mais antiga adaptação do livro Drácula conhecida é de 1921, o hoje perdido filme húngaro Drakula Halála e do romance Frankestein é de 1910, autointitulado e também perdido

O exemplo mais clássico, e considerado a mais antiga adaptação do livro de Bram Stoker existente, é o expressionista alemão Nosferatu de F.W. Murnau. Dessa obra
foi feita uma refilmagem muito eficiente dela em 1979 dirigida por Werner Herzorg.



Continuando com adaptação de monstros clássicos da cultura popular e literatura, é impossível não falar dos clássicos filmes da produtora inglesa Hammer. Talvez os melhores remakes para mim sejam as primeiras adaptações feitas por ela. Praticamente todos os personagens clássicos do horror passaram por suas mãos, entre elas o vampiro, a múmia, o monstro de Frankenstein, o lobisomem entre outros. Dando vida nova para esses clássicos personagens que estavam esquecidos visto que na época o cinema estava infestado de filmes sobre animais gigantes causados pelo medo nuclear.

Tendo seu auge entre o fim dos anos 50 e começo dos anos 70, as produções eram muito mais “hardcore” que as feitas pela Universal. Com o clássico tom gótico inglês e acrescentando mais erotismo e violência. Com um chamativo sangue, agora num vermelho bem colorido. Os destaques certamente são os primeiros filmes das série feitas para os personagens Drácula e Frankestein, respectivamente Horror of Drácula (O vampiro da Noite no Brasil) e Curse of Frankestein (A maldição de Frankestein).

Ambos estrelados pelos atros Christopher Lee e Peter Cushing, que hoje são lendas do gênero. A química da dupla é tão grande na tela que a parceria durou por vários filmes, fazendo principalmente o papel de opostos.

Mesmo parecendo filmes ingênuos hoje em dia, as produções da Hammer podiam ser consideradas pesadas naquela época. Com muito mais ousadia que as produções da Universal por exemplo.



Vamos dar um pulo no tempo agora e ir para uma das melhores décadas para filmes de horror, os anos 1980 e 1990

A Mosca (The Fly,1986) do David Cronenberg só tem do original o argumento básico, lançado aqui como A mosca da Cabeça Branca e estrelado por Vicent Price. A historia sobre um cientista, interpretado por Jeff Goldblum, que cria uma máquina de teletransporte e acaba lenta e dolorosamente se transformando num homem mosca depois de um acidente, virou um dos maiores clássicos dos anos 80 e da filmografia de um respeitado diretor. A mosca usa dos seus ótimos efeitos para criar cenas nauseantes, como a gradativa transformação do homem em mosca. Certamente uma das melhores fusões de terror com ficção cientifica.



Outro filme que segue essa linha é O enigma do outro mundo (The thing, 1982), dirigido pelo mestre John Carpenter. O filme é um colírio nos olhos de quem gosta de ver bons efeitos práticos e uma aula de como se criar suspense e tensão. Quem não se lembra da famosa cena do teste de sangue? Além desse, o diretor tem outra refilmagem na sua carreira, o A cidade dos amaldiçoados de 1995.


Tom Savini alem de cuidar dos efeitos especiais de filmes (ele que fez a maquiagem no primeiro e quarto Sexta-feira 13,  no filme slasher Quem matou Rosemary?, Creepshow e Dia dos Mortos por exemplo) também se arrisca como ator e diretor. Como ator você deve lembrar dele no filme Um drink no inferno e como o motoqueiro no final do Despertar dos Mortos.

Como diretor, fez um dos melhores remakes já produzidos. Estou falando da refilmagem do A noite dos Mortos Vivos de 1968, clássico em preto e branco do George Romero que iniciou o gênero de filmes de zumbi moderno.

A refilmagem de A noite dos Mortos Vivos, lançada em 1990, agora com cores e efeitos melhores é um filme ágil na sua ação e construção dos personagens. Com algumas diferenças que fazer o filme ser uma surpresa para quem conhece o original. Um destaque é para a personagem Barbara, que no original é uma completa inútil e nessa refilmagem ganhou uma bela mudança, fazendo ficar uma verdadeira fodona nos moldes de Sarah Connor e Ripley.



Voltando para os personagens Dracula e Frankestein, nos anos 1990 foram lançados dois filmes famosos baseados nos livros. Drácula de Bram Stoker, famoso filme do Coppola que colocou pitadas de romance na obra. E Frankestein de Mary Shelley' dirigido e atuado por Kenneth Branagh. Um filme muito criticado ,  mas que confesso gostar muito.

Refilmagens também foram muito importantes para o publico ocidental começar a conhecer as pequenas pérolas vindas do oriente. Tudo isso graças ao filme O chamado, lançado em 2002. Mas isso vai ser assunto para outro post.

O filme que pode ser considerado o grande culpado dessa nova leva de refilmagens que assola o cinema americano é O Massacre da Serra Elétrica lançado em 2003. Um filme divertido, com boa violência e uma atuação memorável de Ronald Lee Ermey que rouba a cena. Mas apesar disso tudo, está longe de ter a crueza, crueldade e tom macabro do original, que perturbava em não mostrar a violência, mas em apenas sugeri-la, sem contar a fotografia em tom documental que o deixa mais realista.



Por um lado o ato de refilmar filmes pode ser bom para uma coisa: fazer o original ser (re)descoberto por uma geração que nunca ouviu falar dele. Assim, clássicos não tão populares como Quadrilha de Sádicos, A vingança de Jennifer, O maníaco, entre outros, apresentaram um tipo de terror que pode não ser tão popular como Freddy’s e Jason’s da vida, mas que valem a pena.

Lógico que, na prática, nem sempre isso acontece, muita da geração nova não aguenta ver “filme velho”, por melhor que ele seja. Mas sempre bom ter esperança sobre o futuro.

Concluindo o pensamento, nem sempre uma refilmagem precisa ser ruim. É possível fazer uma obra nova, original, de qualidade que respeite o original e até á supere. Para isso vale muito a mão e potencial de quem está envolvido. Quanto ao grande número de refilmagens de baixa qualidade que estão saindo nos últimos cinco anos. O critério de ver fica para você, mas saiba que o gênero não se resume a elas.



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Lady Snowblood - Vingança na Neve




Lady Snowblood – Vingança na Neve (Shurayukihime, 1973)



Vingança é um prato saboroso e que se come quente. Pelo menos é isso que vemos no cinema, onde filmes sobre vingança e seus desafortunados envolvidos costumam fazer sucesso e criar obras cult. Quem não gosta de uma boa história onde uma pessoa faz justiça com as próprias mãos?! Um exemplo muito famoso são os dois volumes da serie Kill Bill, realizados por Quentin Tarantino que se inspirou muito no filme tratado aqui, mas isso falaremos em breve.

Lady Snowblood – Vingança na Neve é um filme cult de vingança, que permanecia inédito no Brasil. Até agora, sendo lançando pela ótima distribuidora Versátil Home Vídeo, que esta sempre lançando  títulos em apresentação de qualidade. O filme foi lançado num belo digistack com sua sequência, e nos extras temos o trailer e uma análise sobre a obra.

Baseado no mangá conhecido como Yuki – Vingança na Neve escrito por  Kezuo Koike, (mesmo criador do Lobo Solitário), e ilustrado por Kazuo Kamimura, Lady Snowblood foi lançado nos cinemas em 1973, distribuído pela Toho. Época que o cinema estava mudando no mundo todo e o chamado gênero exploitation estava começando a dar seus maiores passos. Aqui temos uma mistura de chambara (filmes de samurai japoneses) e o cinema exagerado e apelativo feito durante o período que a película foi lançada.

O filme se passa durante o Período Meji no Japão, após 300 anos do shogunato de Tokugawa. Uma era de forte transição de sua cultura feudal para a revolução cultural e social. Os ideais europeus de progresso social começaram a serem aceitos. Uma época de varias mudanças, onde o país começou a ficar economicamente e tecnologicamente estável.

Começando com o nascimento da personagem principal numa prisão, Yuki Kashima, que, desde seus primeiros momentos, é marcada com algo que seria o objetivo da sua vida: vingança pelas próprias mãos. Nascida vitima de um estupro e com sua família praticamente morta, sua história é marcada pelo forte senso de buscar justiça. Isso é contada de forma não linear durante o filme. Com idas e vidas no tempo que mostram, por exemplo, seu duro treinamento quando criança (destaque para a atriz mirim nesses momentos), ou ela mais velha e pronta, indo em busca dos causadores daquilo tudo.



A personagem Yuki Kashima já adulta, interpretada por Meiko Kaji, é apresentada logo no começo. E o filme não enrola para nos colocar dentro da ação. Sem demora, logo nos primeiros minutos de filme vemos uma curta cena de luta que nos dá o clima da produção. Se você não esta acostumado ao jeito “exagerado” que os orientais filmam suas cenas, principalmente as de ação (grandes espirros de sangue que parecem irreais,  forte dramaticidade nas atuações, o uso diferenciado da entonação de voz, violência forte mas quase cartunesca) aqui é bom começo para se introduzir ao gênero.

Os créditos iniciais são apresentados tendo ao fundo a bela música “Shura No Hana"”, cantada pela própria Meiko, que, além de atriz, é uma famosa cantora no Japão.
A música fica na cabeça, assim como toda a trilha do filme, composta por Masaki Tamura, que possui, em alguns momentos, um tom de tristeza bem peculiar.

A fotografia de Masatoshi Tamura e direção de arte de Kazuo Satsuya utilizam bem as cores e cenários apresentados. Com destaque para o sangue vermelho em contraste com a branca neve. As cores aqui são muito vivas, algo que dá gosto de assistir. Com cenas de extrema beleza contrastando com sua violência quase poética. Algo que seria copiado muitas vezes depois, inclusive em produções ocidentais.

 A direção de Toshiya Fujita, que possui vários creditos na sua carreira, é bastante eficaz e ágil. Se utilizando de diversas formas para conta a sua historia. Mantendo o clima de tensão durante todo o filme e não devendo nada para as produções de ação atuais. Ele também se utiliza muito de planos longos e belos, sabendo mover a câmera quando necessário.



Seu clímax é uma aula de como criar suspense e mostrar boas cenas de ação. Com a personagem principal finalmente indo cumprir o que foi designada desde o nascimento. Seu final é melancólico e direto, terminando na hora certa.

Não é de se estranhar que esse filme tenha virado cult e referência para muitos outros. Como falei antes, aqui temos formas diferentes de como contar a história apresentada, deixando a obra dinâmica e bem atual. Como idas e vidas no tempo, uma sequência de animação, a tela “pausando” para introduzir o nome de certos personagens através de letreiros, narração off em cima de fotos ou cenas, divisão por capítulos, entre outras coisas.

Meiko Kaji, nascida em 1947 como Masako Ota, virou cult dentro e fora do Japão.Com uma longa carreira na musica, televisão e cinema. Entre seus papeis marcantes estão a série Female Convict Scorpion..  Sua atuação nesse filme é fria e direta, sem muitas palavras e com uma forte carga emocional guardada. Mas não é algo que compromete a trama, pois sua personagem pedia uma interpretação assim.

Os dois  Kill Bill de Quentin Tarantino, principalmente no primeiro volume se inspiram em muito nesse filme. Temos semelhanças entre personagens (a vilã de Lucy Liu é claramente baseada na personagem de Meiko Kaji), a divisão por capítulos, cenários (como a luta no jardim na neve), cenas e ângulos de câmera, diálogos e ate mesmo a utilização da mesma trilha sonora .






Lady Snowblood – Uma Canção de Amor e Vingança  (Shurayukihime: Urami Renga, 1974)



Também presente no lançamento nacional em DVD está disponível sua sequência. Lady Snoblood – Uma Canção de Amor e vingança.

Lançada um ano após e com novamente Toshiya Fujita na direção e Meiko Kaji no papel principal. Comentando apenas sobre os dois, podemos ver que eles melhoraram seus papeis entre uma produção e outra, pois Meiko Kaji está mais à vontade como Lady Snowblood, assim como Toshiya Fujita tem uma direção mais fluída que no primeiro filme.

Temos aqui uma sequência que, mesmo não superando o original, mantém seu padrão e qualidade, e nos dá um bom entretenimento. Com um enredo com muito mais intrigas e ação na hora certa, continuando assim como seu antecessor um filme bastante atual.

Como no primeiro filme, aqui ele não enrola para nos colocar dentro da ação. Logo antes dos créditos, onde somos presenteados com um longo e belo plano sequência, a personagem principal dá cabo de alguns inimigos. A cena de ação é bem fluída, lembrando inclusive aqueles videogames de luta. Algo semelhante foi feito atualmente no Sul Coreano Oldboy.

Os créditos iniciais são um dos melhores que já vi. Onde temos uma melancólica música tanto o tom para uma longa cena de luta numa praia, em que a personagem principal enfrenta homens que querem prendê-la.



Assim como o primeiro filme, as cenas de ação não devem nada às atuais, inclusive considero melhores que muitos filmes contemporâneos. Você consegue realmente entender e ver o que está acontecendo, além de visualmente e violentamente belas, são bem coreografadas.

O filme não poupa a violência, sempre com o sangue em vermelho vivido. Inclusive com cruéis cenas de tortura. Mas, assim como no primeiro filme, mesmo as cenas sendo fortes, carregam uma beleza fria e quase poética. Por isso podemos perceber que a violência é algo deplorável na vida real. Mas no cinema e outros meios de arte, se for bem utilizada, pode ajudar em muito a trama e deixar a obra mais forte..

Sempre digo que cada país tem seu jeito peculiar, ou, diríamos, estilo de fazer cinema. Por isso, podemos ver que poucas obras ocidentais que tentaram emular o cinema vindo do oriente deram certo. Enquanto não acertam a mão por aqui, melhor continuar vendo as obras originais vindas do povo de olhos puxados. Pois de lá vieram realmente grandes obras primas. Por isso, perca um pouco o preconceito com obras vindas do oriente e dê uma chance para esses dois filmes tratados aqui. Garanto que vai se surpreender.


sábado, 20 de setembro de 2014

12 filmes que mostram que o horror esta vivo - e bem!


Dizem que não se fazem filmes de horror como antigamente. Pode ser verdade, mas não podemos ignorar que tem coisa boa saindo, coisa tão boa quanto os velhos clássicos. Por isso fiz uma lista de filmes que vocês deveriam assistir. Estão sem ordem de preferência, são apenas obras que tem tudo para virar novos clássicos, e é claro, estão entre meus favoritos.


1 – Todo Mundo quase Morto (Shaun of the Dead, 2004)



  Esqueça o horrível titulo nacional que parece vinculado com a terrível série Todo mundo quase morto. Shaun of the Dead é um ótimo filme de zumbis que sabe explorar bem tanto o elemento comédia como o elemento terror do filme. Há cenas realmente engraçadas com o típico humor inglês e cenas realmente tensas e claustrofóbicas, como o ataque de zumbis no final. É um filme ágil, dinâmico e bem dirigido por Edgar Wright, que sabe usar bem o material que tem em mão. Destaque também para uma das melhores duplas já vistas no cinema: Nick Frost e Simon Pegg

2 – Martyrs (Martyrs, 2008)



Um soco na mente que me deixou sem reação. Foi isso o que senti ao terminar de ver o perturbador filme francês Martyrs. Da frança estão vindo grandes filmes de terror. Obras corajosas que podem fazer sua cabeça explodir. Martyrs é extremo na violência e tensão. Foram poucos os filmes que me deixaram tão presos como esse, e, ao final da sessão, eu estava sem palavras para o que eu tinha visto. Não é um filme para todos os gostos, é claro. O desfecho pode decepcionar alguns, mas garanto que se você estiver no clima certo pode começar a considerar ele um novo clássico. É, não é só de nouvelle vague que vive a França.

3 – Invocação do Mal (The Conjuring, 2013)



Clichês, quando bem utilizados, podem deixar o filme muito legal, e isso é bem mostrado aqui. O diretor James Wan (que realizou o primeiro Jogos Mortais e Sobrenatural) tem um material interessante em mãos que poderia não resultar em algo tão bom nas mãos de outra pessoa. A história real de uma família em apuros e o casal de investigadores do paranormal que os ajuda foi um dos grandes hits do ano passado. O filme nada traz de novo: é a velha historia de casa mal-assombrada de sempre, mas ele usa esses elementos bem, com várias cenas realmente assustadoras. Destaque para a curta, mas marcante, participação da sinistra boneca Annabelle, que ganhará um filme só seu este ano.

4 - O Segredo da Cabana (The Cabbin in the Woods, 2011)



Outro filme que utiliza bem os clichês, e os desconstrói de maneira criativa. Muita gente desgosta ou não gosta muito dessa obra, talvez por não entendê-la? Seu enredo não é a coisa mais complexa do mundo, é, apenas, digamos, diferente... A verdade é que O Segredo da Cabana é um filme muito divertido, principalmente se você é fã de filmes de horror há um longo tempo. Usando de uma ideia que parece simples no começo, mas que a cada minuto novas surpresas vão surgindo, o filme é um verdadeiro presente para os adoradores do gênero.

5 – Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006)



Se for preciso colocar um remake na lista, vamos colocar um que preste pelo menos. Refilmagem do clássico, mas esquecido, Quadrilha de Sádicos, de Wes Craven (o mesmo de A Hora do Pesadelo e Pânico). Aqui, Alexandre Aja, do ótimo Alta Tensão, apresenta um filme que duplica a violência do original e utiliza bem os efeitos especiais. Temos uma aula de como uma refilmagem deve ser, ainda mais feita nos dias de hoje. Afinal, ele respeita o original, mas dá uma nova roupagem. Analisando como filme solo, vai muito bem também, com cenas realmente impactantes. Um resultado final totalmente aprovado.

6 – Tucker e Dale Contra o Mal (Tucker and Dale VS Evil, 2010)



Caipiras malvados é um mote que os filmes de horror gostam de utilizar desde sempre, como no clássico O Massacre da Serra Elétrica. Mas nesse ótimo terrir os caipiras são os heróis, e muito azarados. Aqui, a dupla de amigos compra uma cabana e só quer  descansar bebendo umas cervejas. Acontece que um grupo de adolescentes burros vão parar no mesmo lugar e acabam acreditando que eles são assassinos perigosos. Assim, toda vez que tentam escapar ou enfrentam a dupla de caipiras, acabam causando mortes sangrentas, mas ao mesmo tempo engraçadas. O filme nunca se leva a sério, mesmo com as cenas violentíssimas, o que faz dele um ótimo passatempo.
                                                                                                                       
7 – Alta Tensão (Haute Tension, 2003)



Desculpe o trocadilho com o nome do filme, mas temos aqui uma verdadeira aula de como criar “alta tensão”, especialmente quando as pessoas estão cada vez mais frias para cenas de suspense. Mas, acredite: aqui há realmente muitas cenas de roer as unhas. Um slasher diferente dos demais, não menos violento, mas muito mais inteligente. Com um plot twist inesperado que realmente te deixa surpreso. O filme é mais uma produção francesa na lista, mostrando que existe vida fora dos EUA. Se você quer começar a assistir filmes desse tipo, ou quer um slasher de estimação feito na ultima década, recomendo esse!

8 – REC (REC, 2007)



Agora falaremos de uma produção vinda da Espanha, um lugar que, assim como a França, vem atraindo vários olhares de uns tempos pra cá. O gênero found-foontage, que se popularizou lá trás com A Bruxa de Blair, vem se tornando cada vez mais famoso nos dias de hoje. E esse talvez seja seu melhor exemplo. Utilizando de forma eficiente o jeito que o filme é gravado, temos um verdadeiro passeio de trem fantasma, com sustos por minuto que realmente funcionam e um final inesperado. Não se surpreenda se ao final da sessão você ficar com medo de verdade.

9 – Triangulo do Medo (Triangle ,2009)


Christopher Smith, guarde esse nome porque esse cara ainda vai lhe trazer muitas surpresas, ou pesadelos. Diretor dos divertidos Plataforma do Medo e Mutilados, dois filmes que recomendo fortemente. Aqui ele nos apresenta seu trabalho mais sério. Um verdadeiro pesadelo cheio de surpresas e reviravoltas. Um filme para ver sabendo o mínimo da história para se surpreender com as várias surpresas no caminho. Se quer um nome para acompanhar como “novo mestre do terror”, que seja Christopher Smith porque ele sabe o que faz, e faz bem.


10 – Abismo do Medo (The Descent, 2005)



Um verdadeiro passeio claustrofóbico e assustador que te deixa sem ar. É isso que essa produção inglesa nos apresenta com seu clima de desconforto e tensão. A história sobre um grupo de amigas presas numa caverna tentando sobreviver de um grupo de terríveis criaturas é uma desculpa simples para cenas de puro terror. Sabe aquele tipo de filme que você pensa “eu não queria estar nesse lugar agora”? Então, isso que acontece aqui. Com o medo do escuro e do desconhecido sendo explorado de forma eficaz. Assista e se surpreenda

11 – Rejeitados pelo Diabo (The Devils Rejects, 2005)



Eu adoro o trabalho do Rob Zombie como músico, especialmente na extinta banda White Zombie, mas nunca caí de amores pelo seu trabalho como cineasta. Mas aqui ele acerta a mão, e em cheio. Uma espécie de continuação do seu primeiro filme, A Casa dos 1000 Corpos, mas diferente e muito superior. Um road movie macabro, com personagens psicóticos mas extremamente cativantes e um clima que lembra muito os anos 70. Esqueça o pavoroso remake de Halloween feito por Rob Zombie. Esse aqui é seu verdadeiro cinema, e talvez sua grande obra prima.


12– A Noite do Chupa-Cabras (2011)



E para fechar com chave de ouro, uma produção nacional. Isso mesmo, um filme vindo do nosso querido Brasil que já pode ser considerado um novo clássico. Aqui temos a história de duas famílias em pé de guerra, uma espécie de faroeste extremamente sangrento. E, em volta disso, a figura de uma temível criatura que não aparece sempre no cinema de horror: o chupa-cabras. Dirigido pelo eficaz Rodrigo Aragão, que também fez o cultuado filme de zumbis Mangue Negro, aqui ele mostra que tem mão para dirigir cenas de muito terror e ação. Destaque para a participação da lenda do undeground nacional Petter Baiestorf, talvez a melhor coisa do filme