quarta-feira, 19 de julho de 2017

Ratt, símbolo do glam metal



A década de 80 foi uma época dos egos inflados, dos exageros, onde deuses voltaram a andar na terra no meio de mortais. Mas também foram tempos em que muita boa música foi produzida.  A época que o rock foi até o topo da montanha russa . Parecia até que jamais iria sair de lá.  Na corrida pelo sucesso muitos caíram no meio do caminho e foram esquecidos, mas alguns chegaram lá.

O hard rock oitentista, também chamado de glam metal  - ou no Brasil pelo termo pejorativo “farofa” -  foi o estilo que estourou naqueles tempos. Dividindo as paradas de sucesso com nomes que nada tinha a ver com o rock. O momento onde o metal foi mais pop, e pop no sentido de manstream.

É fácil olhar para trás hoje em dia e pensar apenas na pose, no visual exagerado das bandas da época, especialmente as do chamado glam metal. Se olharmos além do laquê, vemos como as músicas são de qualidade. Não foi só o visual de bandas como Poison, Cinderella, Motley Crue, Dokken, Quiet Riot que conquistou o mundo naquele momento, mas sim seu som energético e cheio de carisma. Talvez toda aquela excentricidade tenha coberto o  talento que tinham.

Infelizmente algumas pessoas tratam todo o conceito de glam como algo negativo ou sentem vergonha de admitir que gostam ou fazem parte disso. Como certa banda com nome de felino que estourou nos anos 90 e renega o seu passado não tão distante, quando era, ou queria ser uma representante do estilo.

Ainda assim, existem artistas que até hoje levantam a bandeira do glam com orgulho.

Ratt é uma dessas bandas e que falaremos um pouco aqui, mais especificamente sobre seus primeiros anos. Na minha humilde opinião eles representam o que foi o glam e o hard dos 80’s e é a primeira coisa que me veem a cabeça quando penso no estilo.

Apostando num visual característico da época , um som vibrante, com os riffs de guitarra na escola do blues, vocais rasgados característicos e letras falando sobre romance e noitadas , estava feita a formula . Assim como outros, eles pegaram o que bandas como Aerosmith, Kiss, Van Halen e Led Zeppelin faziam antes – o som, o virtuosismo, os exageros e o sex appeal – e colocaram uma nova roupagem e mais energia.

A historia do Ratt começa em Hollywood, terra das oportunidades para quem queria crescer na vida com a música ou trabalhando no cinema. Firedome era a banda de Stephen Percy, futuro vocalista do Ratt. A banda acabou em 1974, Percy então montou o Crystal Pystal. O nome foi mudado depois para Buster Cherry, e então mudou para Mickey Ratt em 1976.

Outro membro futuro da banda, o guitarrista Robin Crosby durante esses anos foi membro de bandas como Metropolis, Xcalibur, Phenomenon, Secret Service.

O vai e vem de membros do Mickey Ratt foi grande, e com a formação sempre mudando eles gravaram algumas demos. Até sair em 1980 um single com “Dr. Rock / Drivin’ on E” que deu certo nome no começo da cena de shows em clubes de Los Angeles

Em 1981 o nome finalmente foi encurtado para Ratt e após algum tempo a formação se firmou com Robbin Crosby e Warren DeMartini nas guitarras, Juan Croucier no baixo, Bobby Blotzer na bateria, e Stephen Percy nos vocais.

Em 1983 eles assinam com o gravador independente Time Coast Music e lançam o EP chamado Ratt. O EP com nome da banda deu certo e chamou atenção para eles, que conseguiram um contrato com a Atlantic Records.

O processo de composição para o primeiro álbum começou imediatamente, e em março de 1984 sai Out of The Cellar. Aclamado pelo publico e critica .  debut é o exemplo de ataque hard rock perfeito e certeiro. Foi um sucesso de vendas, atingindo a marca de três milhões de copias  vendidas– platina tripla.

Produzido pelo novato Beau Hill que conseguiu tirar o melhor som da banda. Afinal, não bastaria estarem inspirados se não tivessem uma boa produção por trás não é mesmo? Porém, não foi um trabalho dos mais agradáveis, com Hill já alegando que batia de frente com a banda.

É só ouvir as faixas presentes para entender o porquê de ele ter marcado tanto e virado um símbolo do glam metal. A abertura com Wanted Man, Back For More que foi regravada do EP, o maior hit Round And Round que ganhou clipe, You’re in Trouble, Lack of Communication, uma música  boa atrás da outra.

Out Of The Cellar e o próprio nome da banda – Ratt – nos remetem a música Rats In The Cellar, do Aerosmith. Mostrando de onde vieram às influencias da banda.

A mulher na capa é a modelo Tawny Kitaen. Achou ela familiar? Pois já deve ter a visto em vários clipes do Whitesnake.

Talvez não tão famosa e com o devido reconhecimento nos dias de hoje e lotando arenas como alguns de seus parceiros da época, algo que aconteceria se o mundo fosse um lugar justo.  Mas com uma qualidade inquestionável e que atingiu um status de Cult merecido. Eles foram o tipo de banda que chegou ao topo e caíram. Brigas internas e judiciais, loucuras diversas, e a falta de interesse do publico pode ter sido alguns fatores que fizeram o Ratt não ser mais o que era antes ou o que poderia ter sido.  

Afinal, quanta coisa boa não esta no mainstream hoje em dia não é mesmo? Devemos parar com esse conceito que só o que esta fazendo sucesso é bom e deixar de lado o que não tem projeção da mídia. Pois é assim que a boa música morre, não pela falta de bons artistas, mas pela falta de apoio e interesse do publico.

Ratt é algo além de um produto de seu tempo. Algo além de uma lembrança guardada no armário que temos vergonha de colocar para fora. Algo que dizemos “foi apenas uma fase louca e tola da minha juventude”. Para quem é de verdade e sente pulsando nas veias nunca é apenas uma fase, é algo que o acompanha para a vida toda.  


O hair metal, glam, hard rock de bandas como Ratt pode ter sido algo que nunca vai estourar ou fazer sentido como foi nos anos 80. Somos transportados para aquela época de longos cabelos e roupas cheias de estilo ao ouvirmos suas músicas ou vemos em vídeo shows antigos da banda, assim como seus clipes.  Mas é mais do que olhar de volta para o passado. É perceber como a qualidade da musica falou mais alto, se transformando numa obra de arte atemporal que sobreviveu e sobrevivera enquanto houver quem estiver disposto a descobri-la. 





quinta-feira, 13 de julho de 2017

O Castlevania da Netflix




Você já jogou Castlevania? Se você gosta pelo menos um pouco de vídeo games já deve ter trombado em algum momento da vida com essa serie já trintona lançada pela Konami. E meu amigo e minha amiga que esta lendo: eu amo Castlevania! Amo seu estilo gótico, amo seus personagens e enredo, a ação e desafios, todo o conceito.

Enfim, é uma série que marcou e foi parte importante da minha infância e adolescência. Era o começo de uma fase onde eu mergulhei de fundo nos games e não saia da frente do meu velho PSone e/ou jogando emuladores de SNES no PC.



Foi uma paixão instantânea as aventuras dos Belmonts lutando contra o Drácula e seus servos das trevas em seu castelo usando o lendário chicote vampire killer. Além de serem desafiadores e divertidos, todo o background dos jogos é baseado em clássicos do horror, o que agradava em cheio um garoto já fã dos antigos filmes  de monstros da Universal e da Hammer.

Porém a serie foi mudando, e meu interesse por ela foi se perdendo.  Dito isso, meu lado de fã que adoraria ver uma adaptação de Castlevania nas telas foi mudando com o tempo. Pensava: deixa pra lá, é melhor ficar só no videogame mesmo, com tanta adaptação ruim de jogos que eu amo feitas, não quero ver mais uma.



Eis que então é lançado pela Netflix uma serie animada, meu coração jovem estava batendo mais forte de alegria, porém, minha cabeça exigente e critica estava com os dois pés atrás.

Numa madrugada sem sono, resolvi dar uma chance, assisti tudo de uma vez e digo que felizmente não passei raiva com o seriado. Gostei até e fiquei ansioso para mais, pois apenas foram disponibilizados quatro curtos episódios. Temos mais acertos do que erros, e uma promessa de algo que pode ir melhorando com o tempo.

Mas antes de chegar ao assunto primeiramente gostaria de falar um pouco sobre o comportamento de alguns fãs, ou fanboys, como quiser chamar.


Algumas pessoas se contentam apenas pela obra ser feita e fecham os olhos para a qualidade dela. Como se só a existência dela bastasse. Lembra-se dos prequels do Star Wars? Ficamos tão empolgados com o fato de existirem mais aventuras naquela galáxia muito, muito distante, mas esquecemos de pedir por bons filmes.

Adaptação de qualquer mídia é assim, os fãs molham as calças ao saber que seu livro/HQ/game será lançado em outro formado, mas esquecem de serem exigentes sobre a qualidade dela, é o fanservice falando mais alto. Nada contra isso, como diria o Erico Borgo do portal Ometele: “eu sou fã eu quero service” mas isso não é o bastante. Ver meu personagem favorito ou cenário clássico não é o bastante, eu quero é qualidade acima de tudo.  



E as adaptações de games talvez seja uma das que mais sofre com filmes e seriados ruins. Diferente das de quadrinhos e de certos livros, que conseguiram um publico forte, uma certa aceitação da critica e são rendáveis, apostar numa adaptação de game pode ser um tiro no escuro.

Só lembrar dos patéticos filmes do Street Fighter, Double Dragon, Mortal Kombat, Super Mario Bros e etc. Todos filmes muito abaixo do que poderiam ser, visto que vieram de jogos divertidíssimos e se fossem feitos por pessoas com o mínimo de capacidade e entendimento do material fonte, poderiam gerar também filmes fieis e divertidos.

Um ponto que acertaram e só foi vantajoso pra adaptação foi pela escolha de fazerem uma série animada, e não com atores de carne e osso. Isso deu mais liberdade para criar cenas de ação e efeitos mirabolantes, que se fossem feitos de “verdade” poderiam correr o risco de ficarem ridículas na tela, especialmente com um mal uso de efeitos especiais.



Sim, eu sei que hoje em dia a tecnologia de efeitos evoluiu muito e esta praticamente possível fazer qualquer coisa nas telas, mas ainda tenho um pé atrás...

Ela é baseada em Castlevania 3 Dracula’s Curse,  lançado para  o Nintendinho em 1989 e  um dos melhores da série. Nele acompanhamos a luta de Trevor Belmont contra Drácula, isso lógico, com o pouco background de enredo dos games da época, o jogador é colocado no meio da historia só sabendo que você era basicamente um homem com um chicote mandado em uma missão, apenas. Isso é algo que seria preciso ser mudado para a adaptação, e foi isso que aconteceu.



O projeto se iniciou ainda em 2007 onde seria um filme animado lançado direto para vídeo. Escrito por Warren Ellis, circunstancias fizeram o projeto ser atrasado ate virar um seriado da Netflix. Usando como base o roteiro original feito há praticamente uma década.

A animação é feita pelos estúdios Frederator e Powerhouse Animation, e dirigido por Sam Deats. Lembrando o estilo de Cowboy Bebop e ate as ilustrações feitas por Ayami Kojima para o game da serie Symphony Of The Night. É um estilo bonito e suave, com os personagens bem expressivos e em certo ponto realistas, mesmo com alguns momentos não tão bem desenhados assim.


A música foi composta por Trevor Morris, eficiente e lembra os bons momentos dos filmes de horror clássicos, mas ainda espero ouvir alguma tema clássico da serie na tela, quem sabe vampire killer, blood tears ou ate mesmo the beggining.

O primeiro episódio é basicamente a historia de como o Drácula se apaixonou por uma humana , Lisa, que foi queimada viva, injustamente acusada de bruxaria. Tomado de ódio ele jura acabar com toda a vida da região da Wallachia. Lembrando o prólogo do filme Dracula de Bram Stoker dirigido pelo Coppola e colocando uma motivação para o que vai ser o grande vilão da serie em episódios futuros.  Depois dessa primeira parte o vampirão é deixado de lado e quem toma o posto de principal antagonista são crápulas da igreja, liderados pelo bispo, uma figura nefasta que te deixara com raiva e torcendo contra.



Trevor Belmont, protagonista do seriado só é mostrado no final do episodio, num bar enchendo a cara. Nos episódios seguintes começamos a acompanhar ele e vemos que não é apenas um sujeito bonzinho e unidimensional. Ultimo membro de sua família, que foi excomungada e mal vista pelo povo que eles protegem das forças do mal. Um herói errante e malandro, que quer fugir de problemas e cuidar de sua vida, mas sabe do peso da responsabilidade que tem em suas costas.

Outros personagens importantes que conhecemos durante o programa são Sypha Belnades, possuidora de poderes mágicos e neta do líder dos Oradores, um grupo a qual Trevor ganha amizade. Sendo uma personagem feminina interessante e com personalidade forte.


O outro personagem é Alucard, filho de Drácula e que vai contra o pai nessa missão. Ele mesmo, o Alucard do famoso Symphony of The Night, talvez o jogo mais conhecido da serie. Ele aparece bem pouco, o que nos faz esperar que em episódios futuros se mostre mais do vampiro rebelde.



Dito isso, temos os três personagens jogáveis do game original, só faltando o Grant, será que ele aparecera no futuro?


Castlevania da Netflix pode não agradar a todos. Fãs e não fãs da serie de games tem motivos para gostar e/ou odiar. Eu recomendo que deem uma checada e decidam por si mesmos. E caso sintam saudades de acabar com as criaturas do mal usando um chicote, os jogos clássicos sempre estão disponíveis, pensando nisso, acho que vou instalar um emulador de nintendinho.


sexta-feira, 9 de junho de 2017

This is Spinal Tap





O ano é 1984, o heavy metal e hard rock estavam a todo vapor e chegavam ao topo em paradas de sucesso no mundo todo. Jovens e velhos fãs do estilo se reuniam naqueles que foi a época de ouro para amantes do estilo. Que tempo loucos eram aqueles, onde guitarras distorcidas ditavam a ordem. E foi nessa época que um documentário sobre uma banda surgiu, um documentário que mostrava como essa vida pode não ser tão glamorosa como pensam, mas ainda assim é deveras excitante.

E se eu falar que esse documentário é de uma banda que não existia de verdade? Parece estranho não? Mas calma, mesmo sendo com uma banda falsa é um dos melhores retrados - mesmo que de forma sarcástica - dos exageros da época. Principalmente de todo egocentrismo e pretensão de grandeza que rodeava os grandes nomes do gênero.

Essa banda é o Spinal Tap, uma das mais ultrajantes e exageradas surgidas nesse negocio, e se você não sabe, foi criada exclusivamente para tirar sarro do estilo nesse falso documentário, chamado “This is Spinal Tap” ou aqui no Brasil “Isso é Spinal Tap”.




Também classificado como mocumentário, essa historia de mentirinha é sobre a banda fictícia Spinal Tap. Surgida nos anos 60 e atravessando os anos a trancos e barrancos até a época que o filme se passa.

A base do Spinal Tap é o trio David ST. Hubbins na guitarra base e vocais, Derek Smalls  no baixo e Nigel Tufnel na guitarra solo. Eles são interpretados respectivamente pelos atores Michael McKean, Harry Shearer e Christopher Guest. A atuação deles é algo que chama atenção logo de cara, pois não conseguimos ver diferença de ator e personagem na tela, fazendo a gente crer que eles são realmente os músicos que eles interpretam.  O fato deles tocarem de verdade nas filmagens ajuda também.

A banda é acompanhada durante uma turnê nos Estados Unidos em 1982 pelo diretor Marty Di Bergi, interpretado por Rob Reiner que também é o diretor de verdade do filme. Eles estão promovendo o disco Smell The Glove, que por problemas de ser considerado sexista, deve sua capa mudada para uma imagem toda negra (talvez antecipando o que o Metallica faria anos depois). 

E passam por todo tipo de problemas que você pode imaginar: que incluem se perder nos bastidores a caminho do palco. Uma replica do Stonehenge que seria usada no show e que ficou bem menor do que deveria, gerando um dos momentos mais hilários do filme. As reclamações de Nigel sobre o tamanho dos pães no camarim. A maldição dos bateristas que sempre acabam morrendo de forma estranha, como um deles que explodiu durante um show. Enfim, tudo acontece.


Alias, é Nigel que rouba a cena do filme pra mim e tem as melhores cenas. Dono de uma personalidade forte, ele protagonista momentos como a que mostra que seus amplificadores não vão até o dez, mas até o numero onze, e sua incrível coleção de guitarras, onde a mais especial não pode nunca ser tocada.
                         

Eu poderia comentar o filme cena por cena, pois cada momento merece atenção. Como a reação deles sobre as criticas em cima dos seus trabalhos, ao chamar o álbum deles Shark Sandwich de Shit Sandwich , a tarde de autógrafos onde não aparece nenhuma pessoa, ou serem escalados para tocar num parque depois de um show de marionetes. Acredite, é uma piada boa atrás da outra, e se você tem banda ou conhece/ gosta pelo menos um pouco do meio vai se identificar de cara, mesmo é claro, sendo tudo exagerado e de mentirinha.




Sendo mal compreendido na época, por pessoas que não sacaram que era uma brincadeira tirando sarro do exagero todo daquele mundo dos rockstars e dos próprios documentários sobre. O filme foi ganhando um nome cult durante os anos, sendo um sucesso maior no mercado de vídeo. Hoje se algo dá errado com alguma banda numa turnê ou apresentação, é comum usar o termo “this is so Spinal Tap” (Isso é tão Spinal Tap).

Muitos rockeiros famosos se viram retrados na tela, como Ozzy Osbourne , Dee Snider , Jimmy Page, que se identificaram  com vários momentos. Lars Urchil chegou a comentar que a turnê com o Guns N Roses em 1992 foi algo digno do Spinal Tap. E Steven Tyler ao ver o filme não achou graça nenhuma, pois se parecia muito com a realidade.



Os anos mostraram que essa ideia maluca de fazer um documentário falso sobre uma banda de mentirinha deu certo . O Spinal Tap saiu das telas e fez alguns shows, inclusive tocando em festivais famosos e o filme foi selecionado em 2002 para preservação  pelo Registro Nacional de Filmes do Estados Unidos.


Seja você um fã do rock ou não, vale a pena conferir essa perola para dar umas boas risadas. Talvez você não entenda de primeira o humor do filme, mas é uma parte da historia e da cultura rockeira e cinematográfica que merece ser visto.


terça-feira, 30 de maio de 2017

Grimes - Art Angels





Claire Elise Boucher – Conhecida artisticamente como Grimes – é um achado no mundo da musica pop atual. Se é que podemos resumir sua rica musica simplesmente nessa palavra de três letras. Palavra que parece limitar o artista e o publico que esperam um produto padronizado e muitas vezes sem qualidade, culpa de embustes que provam que não é preciso exatamente de talento musical para alcançar o sucesso.

Mas a realidade é que o conceito de pop deveria representar um plano vasto de experimentação a qual o artista pode usufruir sem medo. Uma musica que não tem amarras.  E por estar aberta para usufruir de todo tipo de experimentação, se torna tão especial e única. Como uma escultura inacabada que pode ser moldada como quiser e a qualquer momento.

Mas afinal, pode o pop ser inteligente? Pode uma musica feita para massas não ser um produto totalmente pasteurizado? A resposta é sim, pode e muito.  E o trabalho dessa mulher é uma das provas disso



Deste que Lady Gaga surgiu no mainstream e mostrou que o bizarro e que os esquisitos também tem espaço no mundo, uma nova maneira de ver a musica pop surgiu e assim pessoas menos acostumadas ao estranho abraçaram a ideia. Claro que seu som precisou de um tempo para ser lapidado e criar autonomia total, mas ela foi um certamente ponto de virada no mundo pop quando surgiu.

Vemos isso em Grimes, e mesmo se um dia ela declarar que não sofreu certa influencia da Gaga, sua musica e conceitos visuais que fogem do comum certamente são a causa desse ponto de virada que te falei.



A esquisitice dela pode parecer algo muito conceitual e difícil de ser compreendida, porém não é inacessível. Pois temos aqui uma artista que não tem medo de tentar  fazer o ouvinte querer dançar com seus ritmos e se pegar imerso num mundo novo, um lugar cheio de visuais e sons que aconchegam e desafiam nossa comodidade.

Canadense e lançando discos deste 2010, seu ultimo trabalho e foco do texto é Art Angels de 2015. Seu som foi mudando com o tempo, indo dos tons mais negros para os mais coloridos, porém sem abandonar sua identidade. Ela parecia ter chegado ao limite com o álbum anterior – Visions de 2012 -  mas aqui com Art Angels ela atinge a perfeição que a experiência proporciona.

Ela compõe sua própria música, produz por conta própria seus álbuns, assim como seus coloridos e interessantes vídeos clipes . E no palco (com a ajuda dos vocais de apoio da também cantora Hana e duas dançarinas) é praticamente sua própria banda. Se utilizando de samples para ajudar nas interpretações que não são perfeitas, mas demonstram que é uma artista que quer manter o foco e controle de sua apresentação.  


Em Art Angels ela abraça um som mais dançante, mais melódico. Influenciada e executando a sua maneira o que artistas como Kate Bush e Bjork fizeram antes.  Flesh Without Blood e seu clipe cheio de simbolismos sobre si ou a visão vampiresca sobre a máfia italiana Kill V. Maim mostram isso com seus refrões grudentos.

O som eletrônico de Grimes está cada vez mais orgânico e palpável, mais pulsante.  Isso com a ajuda de violinos, guitarras, pianos e muitos outros instrumentos - todos com a sua assinatura - fazem da música mais viva. Uma mistura da nostalgia e beleza melancólica. Com momentos de deliciosa loucura, onde as vozes na cabeça da artista e das nossas parecem querer gritar para serem livres. Um lugar onde o amor salva, mas também nos deixa loucos. Isso pode ser visto em faixas como Realiti e Butterfly, onde ela alcança nossas mais profundas emoções e as puxa para cima. Como se fossemos obrigados a olhar num espelho e encarar quem realmente somos.



Sua voz incomum nos convida para um passeio cheio de revolta. Um passeio que pode não ser fácil, mas é necessário ser feito.  Isso é mostrado de forma hora sutil, como em California, hora numa porrada como Venus Fly, em parceria com Janelle Monáe.


Grimes – Ou Claire – talvez não tenha ainda o reconhecimento que merece, mas isso deve ser mudado em breve, se é que existe justiça nesse mundo. Amantes de boa musica, por favor, deem uma chance para o seu som único.


segunda-feira, 22 de maio de 2017

Um Lobisomem Americano em Londres


1981 foi um ano mágico para fãs de filmes de lobisomem, pois foram agraciados com três ótimos exemplares com o lançamento de Lobos e Grito de Horror, além de Um Lobisomem Americano em Londres. A perola Cult dirigida por John Landis que comentarei nesse texto.

Lançado em 21 de agosto de 1981 tanto nos EUA como no Reino Unido. Ele tem sido considerado em varias listas como um dos melhores do gênero. E é a perfeita porta de entrada para quem não gostar de terror, devido ao seu humor e momentos assustadores misturados na dose certa, ótimos efeitos e personagens carismáticos.

Começamos o filme com belas paisagens do interior da Inglaterra, enquanto os creditos são mostrados e ao fundo ouvimos a musica Blue Moon, na voz de Bobby Winton. Essa é a primeira das três vezes que essa musica é usada no filme, cada uma com um artista diferente a executando. E um detalhe: toda a trilha sonora do filme é composta de musicas com a palavra moon (lua) no titulo. A trilha sonora instrumental feita para o filme, composta por Elmer Bernstein também é ótima.

Voltando ao filme, logo somos apresentados a nossa dupla principal, David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman ( Griffin Dunne), saindo de um caminhão cheio de ovelhas, são dois amigos americanos fazendo uma viagem pela Europa no melhor estilo mochilão.  Em pouco tempo é estabelecida a relação da amizade dos dois.

Entre uma gracinha e outra, eles chegam ao pub O Cordeiro Massacrado, buscando refugio, descanso e algo para aquecer o estomago. Mas não tem a melhor recepção de todas, com as pessoas ao redor olhando desconfiadas. O caso já visto em muitos filmes da pequena comunidade que guarda um segredo de estranhos que chegam lá. Porém, David e Jack decidem ficar.

A estadia é totalmente estragada quando Jack pergunta em voz alta sobre um misterioso pentagrama na parede que o deixou curioso. Pois como ele lembra, é a marca do homem lobo no filme clássico O Lobisomem com Lon Chaney Jr. Vendo que o clima não ficou nada bom, pois eles chamaram de forma negativa a atenção de todos do local, os dois decidem sair e continuarem a caminhada. Mas sem antes receberem um conselho: Fiquem na estrada,  fiquem longe do pântano e cuidado com a lua.



É nessa cena noturna, numa caminhada no local desolado que vemos uma das melhores criações de suspense do cinema de horror. Logo o clima mais descompromissado é envolto de uma tensão angustiante. Pois os dois logo percebem que saíram da estrada, é lua cheia e algo muito perigoso esta rodeando. O som de um uivo assustador de longe faz não só os dois amigos do filme se arrepiarem, mas quem esta assistindo também.

Aparecendo de surpresa e nos dando um susto que realmente funciona, uma enorme criatura parecida com um lobo ataca os dois. Por sorte as pessoas que estavam no bar aparecem na hora certa e matam o monstro a tiros, Mas não conseguem evitar que ele mate Jack e deixe David gravemente ferido.

Esse segmento do filme nos mostra que é possível desenvolver um apreço do publico pelo personagem, fazendo a gente conhecer e se identificar pelo mesmo, apenas com diálogos e ações acontecidas em tempo real. Sem embolação, a simpatia e entrosamento dos dois atores também ajudam, nos fazendo acreditar que realmente são amigos de longa data.

David acorda em um hospital em Londres algum tempo depois. Confuso e ferido, ele descobre que Jack esta morto. Para piorar, ninguém acredita na sua versão do que aconteceu aquela noite, que um animal os atacou. Pois segundo as pessoas da comunidade que o salvaram, foi tudo obra de um maníaco.

Durante sua estadia no hospital ele tem pesadelos cada vez mais estranhos, e para piorar começa a receber visitas mal assombradas de seu amigo morto, com o rosto e pescoço destroçados devido ao ataque. Ele explica a David que na verdade foi um lobisomem que os atacou e agora ele ira se transformar no monstro na próxima lua cheia. Para evitar isso, e que a alma de Jack possa descansar em paz, David precisa se suicidar.



Duvidando de sua própria sanidade, David não acredita na aparição do amigo, mesmo ele surgindo em vários momentos do filme o avisando. Cada vez mais decomposto, é interessante ver o estado dele mudando, ate se tornar uma caveira ambulante, num ótimo efeito criado por maquiagem.

Tentando normalizar sua vida, David acaba se envolvendo com uma das enfermeiras que cuidam dele, Alex Price, interpretada pela Jenny Agutter. Indo morar com ela, eles logo criam um romance.

É claro que todos esperam que a transformação aconteça. E não somos desapontados, com talvez a cena de transformação mais bem feita da historia.  Ao som de Blue Moon por Sam Cooke, David é surpreendido com uma enorme dor e uma sensação de estar pegando fogo. Vemos todo o doloroso processo do corpo mudando nos mínimos detalhes. Sua estrutura óssea muda , sua mão se estica, os pelos crescendo, sua coluna vertebral amplia, um focinho surge em seu rosto e os olhos ficam num assustador amarelo. Logo ele esta transformado numa terrível criatura sedenta por sangue.  É tão crível que por um momento esquecemos que estamos vendo efeitos especiais e sim algo real.



Isso graças ao talento do mestre dos efeitos especiais Rick Baker, um cara diferenciado mostrando o seu melhor aqui. Tanto que inclusive ganhou o Oscar pelo trabalho aqui, sendo uma das poucas vezes que uma produção do gênero levou a estatueta pra casa. Deste a maquiagem do cada vez mais podre Jack, aos efeitos da criatura, o gore e tudo mais, é tudo feito com efeitos práticos, sem um pingo se quer de CGI, algo delicioso de se ver.

Logo David transformado em lobisomem esta a solta pelas ruas de Londres, fazendo inúmeras vitimas e deixando em perigo todos ao seu redor.

O diretor John Landis não era conhecido por fazer filmes de horror e nem cultuado como um grande nome do gênero como é hoje quando lançou essa perola. Na verdade seu nome estava associado a comedias hilárias como O Clube dos Cafajestes e os Irmãos Cara de Pau. Por isso muitas pessoas estranharam ao sair das salas de cinema da época, esperando uma comedia pura. De acordo com o próprio diretor, os financiadores consideravam seu roteiro “muito assustador para ser uma comedia e muito engraçado para um filme de horror”.

Esse background no humor certamente o ajudou na hora de produzir o longa. Pois as piadas estão bem dosadas e aparecem sempre no momento certo, não destoando dos momentos mais pesados, algo que pode estragar completamente o filme se não for feito da maneira certa. O perfeito equilíbrio entre o morrer de medo com o morrer de rir.



Em alguns momentos esquecemos que estamos vendo um filme de terror e damos risada de algum dialogo, porém, após a primeira transformação, quando os elementos de horror voltam ao filme, estamos tão bem relacionados com os personagens que não são apenas cenas sangrentas colocadas gratuitamente na tela.

É tudo tão bem escrito que mantêm o interesse de quem assiste até o fim, nos fazendo se importar com os personagens e moldando o clímax até o momento final, onde o caos total toma conta das civilizadas ruas de Londres.

O roteiro começou a ser escrito em 1969, com a ideia estabelecida e aprimorada após do diretor presenciar numa viagem de carro um enterro cigano. Todo o misticismo da situação, que envolvia alho e outras peculiaridades, deixaram Landis curioso.












Porém, apenas após conseguir fama com as comedias que ele conseguiu o orçamento necessário para filmar. Recebendo criticas na maioria positivas no seu lançamento e com o lucro acima dos gastos. O único problema foi o dito anteriormente: as pessoas vendo o nome de John Landis no cartaz esperavam uma comedia escrachada e se surpreenderam com as cenas de horror. Mas isso não atrapalhou essa obra de virar o grande clássico que é hoje.

As referencias aos clássicos do passado são constantes na película, principalmente ao O Lobisomem da Universal de 1941, mostrando que John Landis era um fã. Fazendo uma homenagem a épocas passadas do horror, com um toque moderno pra época e que continua funcionando nos dias de hoje.


Por isso indico esse filme para quem ainda não teve o prazer de assisti-lo. Seja você fã de comedia, horror, ou que gosta de uma boa mistura dos dois. Assista hoje mesmo e cuidado com a lua.


terça-feira, 9 de maio de 2017

Satan Joker’s, os filhos do metal



Continuando nossa jornada pelo mundo através do heavy metal. O local de parada agora é a França. Terra da torre eifell, de Napoleão e da Novelle Vague . E também terra do Trust, H-Bomb,Warning, e mais recentemente do Alcest e Gojira. E principalmente da perola que será comentada a seguir, Satan Joker’s e seu clássico álbum Les Fils Du Métal

O ano é 1983 e a NWOBHM (New Wave Of Britsh Heavy Metal) esta ainda com grande força, mas pera lá, a NWOBHM é um movimento britânico e estamos falando de uma banda da França, não tem algo errado? Pera lá meu amigo, temos que levar em consideração que essa nova onda de bandas foi tão importante e influente que ultrapassou as barreiras geográficas e deu uma nova vida para o metal em diversas partes do mundo, mostrando que havia espaço para bandas do estilo depois da explosão do punk.

Depois de uma demo lançada em 1982, o debut deles saiu no ano seguinte pela gravadora Vertigo. Les Fils Du Métal conta com Renauld Hantson na bateria, Laurent Bernat (falecido em 2004) no baixo, Stéphane Bonneau na guitarra e Pierre Guiraud no vocal. E o som do Satan Joker’s é aquele heavy metal tradicional com pegadas de hard rock cheio de atitude , melodia e pegada característico dos anos 80.

Se para alguns brasileiros, até o som cantado em português soa estranho de primeira. Imagina ao ouvirem ele cantado em francês. Pense na situação de você estar ouvindo um puta riff de guitarra e quando entra a voz você tem a impressão de que o vocalista esta cantando fazendo biquinho (uma piada ruim sobre como pra falar francês você precisa falar fazendo biquinho com a boca, me perdoem).

 Esse é um grande diferencial do Satan Joker’s, o vocalista, Pierre Guiraud, canta todas suas linhas na língua nativa. Eles até tem versões de suas musicas cantadas em inglês (que por acaso constam como bônus tracks na edição do cd que eu possuo), mas fica muito mais interessante e até divertido perceber que o heavy metal é uma linguagem universal que pode ser interpretada de varias formas e se adéqua ao seu local.

Porém, quando ouvimos pela primeira vez, o choque é imediato. Afinal, não é uma língua usual de ouvirmos uma banda usar em suas musicas. Visto que a maior parte do metal/rock feito mundialmente é cantado , consumido e exportado em inglês. Após a estranheza, vemos que o som é bem feito e que a língua usada encaixou bem no instrumental, não sendo um artifício para diferenciar das outras bandas que ficou apenas na tentativa e nos distrai ao ouvirmos, mas algo que agregou ao som do Satan Joker’s. No final estamos até arriscando cantar junto, mesmo não entendendo nada do que falem. É metal pesado de qualidade e pronto, isso que importa.

E por falar em vocal, o jogo de vozes em algumas faixas é bem interessante. Fazendo um bom uso dos back vocals, a banda nos trás melodias cativantes e aqueles refrãos característicos. Ouça por exemplo a faixa Derrière Les Portes Closes onde o refrão nos remete a algo parecido com o Queen.

O instrumental também é digno de nota, com riffs precisos cobertos de alguns momentos cheios de melodia. A produção limpa ajuda também. Pode parecer simplória hoje em dia, mas para o padrão da época esta boa, deixando você ouvir com clareza todos os instrumentos.

Se quiser conferir o som dessa banda, é fácil achar musicas e ate algumas apresentações aovivo deles no youtube. Mas se você como eu gosta de ter o material físico em mãos. A label Axe Killer Records lançou ele em um box junto do segundo álbum Trop Fou Pour Toi. É meio difícil de achar, mas vale o dinheiro investido.

 O que podemos aprender ouvindo esse disco é que metal em inglês é legal, mas em português também, e em francês, japonês etc.. Escolha a língua que quiser, o importante é ser bem feito e pesado. E sim, há musica boa em todas as épocas e lugares.



O novo metal nacional: indicações.

Vivemos em tempos esquisitos pra musica em geral, não apenas para o rock e metal, porém, gosto de pensar que ainda existem exceções no emaranhado de porcarias que nos são jogadas goela abaixo.

Fala-se muito da morte do estilo e que ninguém o apoia mais. Não é verdade, podemos não ter o apoio da grande mídia e ainda ser um estilo um pouco marginalizado, mas ainda existem pessoas que acreditam no que fazem. Ainda há Bandas lançando discos que não devem nada aos clássicos do passado e que mantém a chama acessa. E é sobre isso que iremos falar aqui, mas uma pequena reflexão antes.

O rock em geral, pode estar em crise para algumas pessoas, e de fato, esta difícil arrumar lugar para tocar nas grandes cidades.  Muitas vezes a banda não tem aquele apoio do publico e dos grandes figurões que trabalham no meio que merece. Essa é a palavra chave: apoio. O apoio é essencial. Seja comparecendo aos shows, comprando o cd original, divulgando, ou até mesmo dando um maroto like nas redes sociais.

Afinal, não é porque não esta no mainstream, que signifique que o estilo não existe mais.
O fato é que estamos na época em que mais se consome musica, seja ela boa ou ruim. E com uma variedade de plataformas disponíveis para escolher. Seja por download, streaming, ou até mesmo comprando o cd/vinil, isso sim, uma atividade “arcaica” para os dias de internet de hoje e praticado por poucos.

Ou seja, há muita gente fazendo som, e há muitas oportunidades de se ter contato com esse pessoal que merece uma chance de ser conhecido e reconhecido. Não vivemos mais nos anos 80 onde era impossível arrumar um disco ou custava o olho da cara. Com apenas dois cliques no nosso computador temos facilmente toda a discografia de qualquer banda a nossa disposição.

Por isso, não fique com a bunda sentada reclamando que não existe mais nada de bom, sem ao menos correr atrás e procurar novos sons.

Mas enfim, vamos ao objetivo do texto.

Sempre gostei de indicar bandas para meus amigos, e agora vou indicar algumas pra você amigo leitor. E não são quaisquer bandas, são álbuns de bandas de metal nacional lançados atualmente que valem a pena você conhecer. Porque nacionais? Não vou entrar naqueles papos manjados de sempre de “apoiar a cena”, todo mundo sabe o quanto isso é importante. Só decidi colocar nacionais pelo meu amor ao estilo e o orgulho que tenho da cena nacional que é rica demais, e pela grande qualidade dessas bandas e álbuns.

Lembrando que essa não é uma lista definitiva e vai ficar faltando algumas bandas.  Por isso, ao invés de reclamar e me xingar nos comentários, indique mais bandas/álbuns  que você acha que merecem ser conhecidas  , vamos fazer o metal nacional forte.

Certo, vamos lá.

Primordium – Todtenbuch – 2014



De Natal, no Rio Grande do Norte, vêm essa banda de death metal que em suas letras aborta o misticismo do Egito Antigo. Como podem ver, as influencias de Nile são visíveis, mas a banda possui o seu valor e passa longe de ser uma simples copia. O Primordium nos trás toda a atitude e postura extrema que uma banda do estilo precisa. Com riffs técnicos e precisos, uma verdadeira viagem extrema pela terra dos Faraós.

Axecuter – Anthology – 2014




De um tempo pra cá o metal tradicional de raiz, oldschool, que nos remete aqueles gloriosos tempos dos anos 80, começou a ser produzido novamente. E no meio dessa nova leva de bandas surgidas no mundo inteiro o Brasil não ficou de fora, e alguns grupos se destacam. Falarei sobre alguns nesse texto e Axecuter é um deles. Com seu som poderoso e direto. O legal dessa coletânea é que ela reúne todas as musicas dos lançamentos anteriores até então, antes só disponíveis em EP’s.

Firestriker – Lion and Tiger - 2013



Com vocais poderosos e facilmente reconhecíveis da Aline Nunes, uma frontwoman cheia de carisma, nos mostrando que metal é lugar de mulher sim, no palco e no publico. Junto dela uma banda afiada que não deixa nada a dever, mandando um metal tradicional bem feito. Esse EP nos trás o começo do que pode ser uma banda forte na cena. Torço para que lancem um full logo, pois o som é animal.

Grave Desecrator – Dust to Lust - 2016


Com influencias de Venom , Bathory e Sarcófago, ou seja, aquele metal extremo sujo, blasfemo e malvado. Esse foi com certeza um dos melhores lançamentos do ano passado. Sem muitas firulas desnecessárias, só cacetada atrás de cacetada. Não indicado pra quem curte um som mais polido e limpo, pois aqui volta às raízes do som primitivo do começo do metal negro. Se você gosta dessa pegada, pode conferir sem medo.

Corpse Grinder – Perpertual Purgatory - 2015



Essa banda já esta um tempo na estrada praticando um death metal poderoso e gostaria de recomendar aqui seu ultimo álbum . Com aquele som old school que é sempre bem vindo ao estilo. Remetendo ao tempo que o death metal não era apenas uma amostra desnecessária de querer parecer mais rápido/brutal.  Ou seja, um som com felling e atitude.   

Metaltex – Spikes and Leather - 2016


Outra banda que torço que lance um full logo, pois o som que ouvi nesse EP promete.  O nome já diz tudo, mostrando que o metal é um estilo de vida que para os verdadeiros vai até o tumolo.  É  heavy metal tradicional com momentos de velocidade muito bem feito. O tipo de som que faz a gente colocar o punho fechado para o alto, banguear e pensar: que orgulho de ser headbanger.

RedRazor – Beer Revolution - 2015



Thrash metal e cerveja é uma combinação que sempre da certo,Tankard que o diga, e essa banda Catarinense mostra isso eu seu debut. Riffs e mais riffs de moer o pescoço e perfeitos para o mosh pit, pratica que deveria ser obrigatória  em shows do estilo, ainda mais com bandas legais como essa. Se você gosta do som feito na Bay Area nos anos 80, com um toque nacional e até um pouco de humor confira esse disco.

Armahda – S/T - 2013


Com letras que falam sobre a historia do Brasil e todos os conflitos que nosso país já passou. O heavy/Power metal desse grupo é muito energético. Com momentos de agressividade que chega a lembrar  thrash metal, palhetadas nervosas são constantes aqui. Vi eles abrindo para o Grave Digger em São Paulo em Março e posso afirmar que o Armadha consegue ser melhor no palco. Uma que vai alcançar voos altos em breve.

Arandu  Arakuaa – Wdê Nnâkrda - 2015



Indo na contramão de quem acha que folk metal se resume a bandas que utilizam influencias celtas/europeias no som (quando na verdade, na essência o folk é qualquer som regional do seu local de origem) temos aqui um caso de folk cem por cento nacional. Essa banda mistura metal extremo com sons indígenas e regionais brasileiros. Incluindo nas temáticas historias sobre nossas raízes. Outro grande diferencial é que as musicas são cantadas em Tupi e outros dialetos indígenas. Recomendado.

Discos que provam que o metal dos anos 90 foi legal sim!

Devido ao desgaste e os excessos criados nos malucos anos 80. O heavy metal, antes, uma musica que surpreendentemente ficou popular, entrou nos anos 90 com sérios problemas: Ele simplesmente não se encaixava mais naquela década sombria.

Onde com o surgimento do grunge, os olhos não estavam mais voltados praqueles cabeludos tocando pesado em meio a riffs épicos e exagerados.  Era o tempo de ser mais introspectivo, de olhar para si mesmo. Era proibido solo de guitarra ou ter um visual mais afetado. É claro, isso não durou tanto como esperavam. Afinal, o mundo gira, o tempo passa e novos interesses vão surgindo.

Mesmo assim é errado dizer que foram anos perdidos, um buraco na historia do metal. Houve sim grandes bandas, grandes álbuns.

Longe do mainstreem é claro. Um erro muito cometido é achar que algo só presta (ou pior, que esse algo existiu), se vende milhões, aparece na TV ou etc. O heavy metal nunca precisou de apoio da mídia para sobreviver e continua firme e forte na historia como uma musica transgressora que sobrevive pela paixão dos fãs e músicos.

Decidi colocar aqui alguns clássicos da década que valem a pena serem descobertos e redescobertos por vocês. Algumas escolhas foram inevitáveis, mas tentei fugir do obvio e colocar um pouco de tudo. Do mais extremo ao mais melódico.
Vamos lá!

Iced Earth – The Dark Saga - 1996


Jon Schaffer pode até ser um cara difícil, daqueles que não conseguem manter a mesma formação da banda de um disco para o outro. Mas é inegável sua capacidade de composição e a pegada forte que ele tem na guitarra base. Sempre guiando o Iced Earth com uma postura firme e fiel ao estilo.

A idéia de gravar um disco inteiro falando do personagem de quadrinhos Spawn pode parecer estranha. Mas a qualidade musical falou mais alto nesse caso.

Matt Barlow já tinha dado o recado no disco anterior, sua estréia no vocal com The Burnt Offerrings, mas é aqui que ele fincou seu lugar de destaque no grupo e a banda se consolidou.

Com musicas de estruturas mais simples, mas não deixando de ser trabalhadas. O Iced Earth conseguiu fazer um disco de alto nível que é fácil de ficar na cabeça.

Helloween – The Time of The Oath - 1996


Para algumas pessoas, Helloween são os dois volumes Keppers of the Seven Keys lançados nos anos 80 e nada mais. Respeito essa opinião.  Mas muitas vezes uma parte importante da historia do grupo alemão, criadores do Power metal, é ignorada e esquecida por pura preguiça e preconceito.

Tudo bem que Andi Derris, que tinha entrado na banda no álbum anterior, substituindo o marcante vocalista Michael Kiske, não tem uma voz muito característica para o Power metal, com um estilo rasgado puxando mais para o hard (ele era vocalista da banda de hard rock Pink Cream 69 antes de entrar para o Helloween). Porém, junto com composições que misturam um pouco da malicia do hard com o epico do Power metal, geraram uma formula que deu muito certo.

Escute os clássicos Power, Steel Tormentor, Before the War , a faixa titulo e ira perceber como esse álbum pode não ser conhecido como os Keepers, mas é tão bom quanto.

Paradise Lost- Draconian Times – 1995


Uma produção limpa que te deixa ouvir claramente cada movimento produzido no disco. Junto com uma execução absurdamente certeira. Envolta de musicas cativantes, com extrema qualidade e beleza. Essa foi a formula para o sucesso de Draconian Times. O álbum de mais sucesso e relevância do Paradise Lost.

O Paradise Lost foi mais uma das bandas européias, a exemplo de Amorphis e Sentenced, que começou com uma raiz death/doom metal ,  moldando seu som ate algo mais experimental e difícil de classificar, com pitadas inclusive de pop oitentista. Sendo muito mais do que uma banda de gothic metal, como é normalmente classificadam, já que é um estilo que ela ajudou a criar e difundir.

Draconian Times é um ponto no meio entre as raízes e o som que viria fazer depois. Uma espécie de mistura entre os dois. Que gerou um heavy metal pesado e atmosférico. Porém direto e que continua moderno.

Melancólico , belo, soturno e pesado. Draconian Times é um disco único.

Grave Digger – Tunes of War - 1996


Grave Digger é um dos pilares do heavy metal tradicional alemão que surgiu nos anos 80 e criaram um certo nome cult, principalmente pelo álbum Heavy Metal Breakdown (1984). Porém, foi apenas na década seguinte em que eles realmente se consolidaram e criaram fama. Colocando seu nome junto dos grandes do metal.

E esse álbum é um dos responsáveis por isso, os fazendo entrarem de pé-direito numa década que não abria muito espaço para um som mais tradicional. Porém, o talento e qualidade musical falou mais alto e o álbum teve seu sucesso merecido. Já que o heavy metal tradicional, com pitadas de Power, é algo que é recriado de maneira estupenda aqui.

unes of War é conceitual e conta a historia da guerra da independência da Escócia. Com um som mais trabalhado e épico que os álbuns anteriores. Sem abrir mão do peso e melodias marcantes.

Deste a introdução com gaitas fole, partindo pela direta Scotland United. É uma musica mais legal que a outra, não abrindo espaço para fillers.Mas se for para apontar destaques eu colocaria: William Wallace (BraveHeart), The Dark of The Sun, a bela The Ballad of Mary (Queen of Scots) e o maior hit da banda, Rebellion ( The Clans Are Marching).

The Gathering – Mandylion - 1995


Como o Paradise Lost, banda que eu citei agora pouco. O Gathering é mais uma banda européia que teve suas raízes no doom/death, ate se fincar no experimentalismo quase pop. Gerando assim um fator de divisão entre os fãs.

Alguns adoram as mudanças, outros odeiam. O fato é que bandas que não tem medo de experimentar nunca serão unanimidade. Mas passar despercebido após ouvir um álbum tão belo como esse é impossível.

Esse terceiro registro da banda é o meu favorito e também o de muitos. Após escutar faixas com a abertura Strange Machines, Leaves e as duas partes de In Motion, fica fácil entender a razão.

Um ponto de virada que ajudou o som da banda a se moldar foi a entrada da vocalista Anneke Van Giersbergen,cheia de beleza e carisma. Sua voz encaixou perfeitamente no doom “experimental” do disco. Com vocais que não exageram nos lirismos, como ficou comum e popular nas bandas de metal com uma vocalista mulher. Anneke não abre mão de linhas energéticas e sensíveis, ao mesmo tempo envoltas da certa melancolia e peso criados pelo instrumental das canções.

Carcass - Heartwork – 1993

Um dos pilares criadores do grindcore. O Carcass foi moldando seu som ate chegar no quarto álbum.  Substituindo as letras gore que parecem ter saído de livros de óbitos. Para criticas a uma sociedade decadente.  Esse disco é um daqueles marcos no death metal em que após ouvimos sabendo sobre o panorama da época, percebemos que foi um ponto de mudança.

Com um som mais técnico e harmonioso se comparando com a dos registros anteriores. O Carcass apresentou um trabalho fincando nas melodias dos riffs pesados de guitarra, que lembram algo vindo do heavy tradicional.  Algo que se firmou como uma marca do que começou a ser chamado de death metal melódico, praticado depois por bandas como At the Gates e In Flames.

A abertura com Buried Dreams já é atípica e mostra a mudança. O instrumental como dito anteriormente trás muito mais melodia que anteriormente, em contrapondo com o peso e os vocais guturais de Jeff Walker. Uma seqüência matadora segue com faixas como This Mortal Coil, Embodiment, No Love Lost e a faixa titulo. Um trabalho essencial, tanto para quem curte algo mais extremo, ou para quem quer começar a se aventurar pelo estilo.

Sarcófago – The Laws of Scourge -1991



Pioneirismo, desbravamento, coragem, blasfêmia, polemica. Esses são alguns adjetivos que podemos dar ao grande Sarcófago, um dos marcos do metal negro brasileiro.

Para alguns apenas a banda que rivalizava com o Sepultura deste a época em que tocavam no undeground de BH dos anos 80, para outros, um objeto de culto e adoração. Um dos primeiros nomes mundiais a se aventurar por sons temáticas e atitudes mais extremas. Sendo influencia para toda a cena do black metal norueguês que se instalou nos anos 90. O fato é, Sarcófago é uma banda única que nunca teve medo de ir além no que consideramos pesado, tanto lírico como musicalmente. E aqui temos seu álbum mais bem trabalhado e maduro, melodioso na metida certa. Mas mantendo as qualidades da banda e sua marca, o extremismo e a feracidade.

Ao ouvirmos musicas como Midnight Queen, Screeches From The Silence, Black Vomit ou a faixa bônus Crush, Kill, Destroy. Podemos captar toda a fúria da banda. Num festival de riffs, solos, vocais gélidos e uma técnica não vista antes, que prova que o Sarcófago é sim uma grande banda, e merece todo o reconhecimento que possui.

Fates Warning – Parallels – 1991



De apenas mais uma banda de metal como outras, até provar todo seu potencial e chegar na sua obra prima, Parallels. O Fates Warning fez historia e ajudou a criar algo novo no metal.  Infelizmente não tem o devido reconhecimento, mas gostaria de fechar o texto fazendo justiça a essa grande banda.

Vindo de álbuns com uma pegada mais Iron Maiden, que tinham lá sua qualidade, mas nada demais. O Fates Warning foi moldando seu som para algo mais intricado, sendo considerados juntos com o Queensryche , os precursores e pioneiros do prog metal.
Mas agora você me pergunta: eles influenciaram o Dream Theater? Sim, e muito. Não apenas o Dream Theater, mas todo a leva de bandas de prog que vieram depois. Todas tem uma pequena divida com o Fates Warning.

Mas o que é exatamente o Parallels? Vou resumir falando que é uma mistura de bom gosto musical, melodia e uma técnica absurda usada a favor da musica. Todas as viradas, quebradas de ritmo, riffs e solos estão lá por algum motivo, sendo usados para criar linhas instrumentais belíssimas em contrapondo com vocais certeiros e melódicos. São tão cativantes as musicas que arrisco disser possuem uma sensibilidade quase pop. Sim, é possível fazer isso no metal, com técnica, com peso, só ter competência e criatividade. E isso aqui sobra.