terça-feira, 30 de setembro de 2014

Eu Odeio o Orkut



Eu Odeio o Orkut

O Orkut foi criado em 24 de janeiro de 2004 por Orkut Büyükkökten, engenheiro turco do Google. E chegou ao seu fim hoje, terça feira, dia 30 de setembro de 2014. Mesmo com protestos para que não acabasse, ele chegou ao seu triste fim e vamos agora brindar aos momentos bons, ruins, mas principalmente inesquecíveis que passamos neles.

Mesmo não sendo uma criação nacional, ninguém usou o Orkut como nos brasileiros. Fomos o país que mais o aproveitou e fez com que ele tenha se tornado um verdadeiro antro das mais curiosas formas de vida. Essa rede social que, até o advento do Facebook, era o grande ponto de encontro da internet, foi para muitos de nós um segundo lar, um lugar de encontrar amigos, discutir seus gostos, arrumar paqueras e muito mais.

Quem nunca deu uma stalkeada no perfil alheio e ficou com vergonha ao descobrir que a “vitima” poderia ver quem visitou seu perfil? Quem nunca mandou um depoimento para gatinha que estava afim e levou um fora depois? Quem nunca ficou colecionando scraps para depois apagar tudo? Quem nunca se divertiu e foi vitima de um perfil fake? Ou quem nunca entrou num debate acalorado numa comunidade e acabou criando amigos e inimigos?

O Orkut ficou na memória, antes mesmo do seu fim ele já andava esquecido e, agora, será uma página virada na longa e gloriosa história da internet, principalmente na história das nossas vidas, virtuais ou pessoais. E para relembrar essa rede social que tantas glórias e problemas (principalmente problemas) causaram para seus usuários, falaremos agora sobre uma comedia nacional em que o Orkut é o foco.

Todos sabem como nosso país não tem uma grande tradição de comédias de qualidade, e quando é lançado uma que valha a pena dar uma espiada, acredite, vale a pena mesmo. Não falo apenas de comédias, mas o fato de produzirem hoje em dia algum cinema de gênero, principalmente independente, no Brasil é um ato a ser apoiado. Uma pena que só ser um filme “diferente” do habitual não é motivo para ser de qualidade, mas que é um diferencial positivo, isso é.  

Eu Odeio o Orkut é um filme nacional independente lançado em 2011, época em que essa rede social ainda era bem usada, mas estava chegando ao fim da sua grande popularidade. Dirigido por Evandro Berseli e Rodrigo Castelhano, o filme é baseado no livro homônimo do próprio Evandro.  Foi bancado pelos próprios diretores e atores, algo a ser admirado.

A história gira em torno de Jader Bertola (Marcos Kligman), um cara amargo no passado que, viciado em Orkut, foi internado numa clínica de reabilitação para viciados em internet. Lá ele divide quarto com figuras muito estranhas, como o sujeito que perdeu os braços, acredite se quiser, de tanto digitar.

Muito debilitado ele resolve contar num livro sobre como ele chegou ao que chama de “offline do poço” para que um de seus colegas de tratamento o escreva, tarefa a cargo do próprio diretor do filme e autor do livro, Evandro Berseli, encarnando um sujeito mal humorado, sarcástico e aproveitador.

Jader Bertola, como contado nos flashbacks que narram sua historia, é um total fracassado no amor e na vida pessoal; um verdadeiro Zé Mané. O ator que faz ele tem uma cara de coitado de dar dó que deixa tudo engraçado, mesmo que o motivo da risada seja algo trágico. Pontos para a atuação que mesmo não sendo genial, é marcante e divertida.

Jader é tão azarado que quando finalmente consegue arranjar um namoro que parece que irá durar, acaba estragando tudo graças aos males causados pela famosa rede social em que o filme gira em torno. Afinal, esse filme não se chama Eu Odeio o Orkut por nada. Confesso que já vi pessoalmente casos parecidos como o dele acontecerem de verdade. Aqui vemos o personagem de Marcos Kligman ir do fundo do poço para a “offline do poço”. Totalmente trágico, se não tivesse certo humor nisso tudo.

Quando se tem pouca renda para filmar, deve saber utilizar bem e de forma eficiente os recursos disponíveis, o que o filme consegue fazer bem. Se focando principalmente nos diálogos e atuações dos personagens, mas usando também alguns truques que deixam o filme mais dinâmico e interessante de assistir, como, por exemplo, letreiros que aparecem na tela apresentando personagens ou explicando certas coisas.

Uma coisa legal sobre o filme é que ele é bem regional também: confesso que fiquei sem entender muitas do que é falado pelos personagens, principalmente as gírias. Mas isso é proposital, pois Eu Odeio o Orkut faz parte de um projeto para realizar filmes de baixo orçamento com equipe, atores e trilha sonora inteiramente vinda da cidade de Alvorada, no Rio Grande do Sul.  Quem é dessa região ou por perto deve ter se familiarizado com certos pontos do filme.

O filme talvez não seja tão engraçado para quem nunca conviveu com as bizarrices do Orkut. Ele cita abertamente muitas palavras e situações que só ficam engraçadas se você de fato vivenciou algo parecido com elas.

Sendo justo, não sei se Eu Odeio o Orkut funcionaria muito como uma comédia normal. Sem o tema que ele gira em torno, talvez ficasse um filme sem graça e não tão marcante. Mas como utiliza de uma abordagem única, acaba criando um mundinho próprio que é muito próximo daquele que nos já vimos.


Por fim, como eu disse, se você não é totalmente familiarizado com os assuntos abordados nesse filme, pode não achá-lo tão engraçado assim. Mas se você, de alguma forma, vivenciou todos os problemas e coisas boas que o saudoso Orkut nos proporcionou, pode achar nesse filme uma verdadeira pérola e retrato da sua época. Assista com o fator nostalgia ligado e divirta-se.

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