segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Lady Snowblood - Vingança na Neve




Lady Snowblood – Vingança na Neve (Shurayukihime, 1973)



Vingança é um prato saboroso e que se come quente. Pelo menos é isso que vemos no cinema, onde filmes sobre vingança e seus desafortunados envolvidos costumam fazer sucesso e criar obras cult. Quem não gosta de uma boa história onde uma pessoa faz justiça com as próprias mãos?! Um exemplo muito famoso são os dois volumes da serie Kill Bill, realizados por Quentin Tarantino que se inspirou muito no filme tratado aqui, mas isso falaremos em breve.

Lady Snowblood – Vingança na Neve é um filme cult de vingança, que permanecia inédito no Brasil. Até agora, sendo lançando pela ótima distribuidora Versátil Home Vídeo, que esta sempre lançando  títulos em apresentação de qualidade. O filme foi lançado num belo digistack com sua sequência, e nos extras temos o trailer e uma análise sobre a obra.

Baseado no mangá conhecido como Yuki – Vingança na Neve escrito por  Kezuo Koike, (mesmo criador do Lobo Solitário), e ilustrado por Kazuo Kamimura, Lady Snowblood foi lançado nos cinemas em 1973, distribuído pela Toho. Época que o cinema estava mudando no mundo todo e o chamado gênero exploitation estava começando a dar seus maiores passos. Aqui temos uma mistura de chambara (filmes de samurai japoneses) e o cinema exagerado e apelativo feito durante o período que a película foi lançada.

O filme se passa durante o Período Meji no Japão, após 300 anos do shogunato de Tokugawa. Uma era de forte transição de sua cultura feudal para a revolução cultural e social. Os ideais europeus de progresso social começaram a serem aceitos. Uma época de varias mudanças, onde o país começou a ficar economicamente e tecnologicamente estável.

Começando com o nascimento da personagem principal numa prisão, Yuki Kashima, que, desde seus primeiros momentos, é marcada com algo que seria o objetivo da sua vida: vingança pelas próprias mãos. Nascida vitima de um estupro e com sua família praticamente morta, sua história é marcada pelo forte senso de buscar justiça. Isso é contada de forma não linear durante o filme. Com idas e vidas no tempo que mostram, por exemplo, seu duro treinamento quando criança (destaque para a atriz mirim nesses momentos), ou ela mais velha e pronta, indo em busca dos causadores daquilo tudo.



A personagem Yuki Kashima já adulta, interpretada por Meiko Kaji, é apresentada logo no começo. E o filme não enrola para nos colocar dentro da ação. Sem demora, logo nos primeiros minutos de filme vemos uma curta cena de luta que nos dá o clima da produção. Se você não esta acostumado ao jeito “exagerado” que os orientais filmam suas cenas, principalmente as de ação (grandes espirros de sangue que parecem irreais,  forte dramaticidade nas atuações, o uso diferenciado da entonação de voz, violência forte mas quase cartunesca) aqui é bom começo para se introduzir ao gênero.

Os créditos iniciais são apresentados tendo ao fundo a bela música “Shura No Hana"”, cantada pela própria Meiko, que, além de atriz, é uma famosa cantora no Japão.
A música fica na cabeça, assim como toda a trilha do filme, composta por Masaki Tamura, que possui, em alguns momentos, um tom de tristeza bem peculiar.

A fotografia de Masatoshi Tamura e direção de arte de Kazuo Satsuya utilizam bem as cores e cenários apresentados. Com destaque para o sangue vermelho em contraste com a branca neve. As cores aqui são muito vivas, algo que dá gosto de assistir. Com cenas de extrema beleza contrastando com sua violência quase poética. Algo que seria copiado muitas vezes depois, inclusive em produções ocidentais.

 A direção de Toshiya Fujita, que possui vários creditos na sua carreira, é bastante eficaz e ágil. Se utilizando de diversas formas para conta a sua historia. Mantendo o clima de tensão durante todo o filme e não devendo nada para as produções de ação atuais. Ele também se utiliza muito de planos longos e belos, sabendo mover a câmera quando necessário.



Seu clímax é uma aula de como criar suspense e mostrar boas cenas de ação. Com a personagem principal finalmente indo cumprir o que foi designada desde o nascimento. Seu final é melancólico e direto, terminando na hora certa.

Não é de se estranhar que esse filme tenha virado cult e referência para muitos outros. Como falei antes, aqui temos formas diferentes de como contar a história apresentada, deixando a obra dinâmica e bem atual. Como idas e vidas no tempo, uma sequência de animação, a tela “pausando” para introduzir o nome de certos personagens através de letreiros, narração off em cima de fotos ou cenas, divisão por capítulos, entre outras coisas.

Meiko Kaji, nascida em 1947 como Masako Ota, virou cult dentro e fora do Japão.Com uma longa carreira na musica, televisão e cinema. Entre seus papeis marcantes estão a série Female Convict Scorpion..  Sua atuação nesse filme é fria e direta, sem muitas palavras e com uma forte carga emocional guardada. Mas não é algo que compromete a trama, pois sua personagem pedia uma interpretação assim.

Os dois  Kill Bill de Quentin Tarantino, principalmente no primeiro volume se inspiram em muito nesse filme. Temos semelhanças entre personagens (a vilã de Lucy Liu é claramente baseada na personagem de Meiko Kaji), a divisão por capítulos, cenários (como a luta no jardim na neve), cenas e ângulos de câmera, diálogos e ate mesmo a utilização da mesma trilha sonora .






Lady Snowblood – Uma Canção de Amor e Vingança  (Shurayukihime: Urami Renga, 1974)



Também presente no lançamento nacional em DVD está disponível sua sequência. Lady Snoblood – Uma Canção de Amor e vingança.

Lançada um ano após e com novamente Toshiya Fujita na direção e Meiko Kaji no papel principal. Comentando apenas sobre os dois, podemos ver que eles melhoraram seus papeis entre uma produção e outra, pois Meiko Kaji está mais à vontade como Lady Snowblood, assim como Toshiya Fujita tem uma direção mais fluída que no primeiro filme.

Temos aqui uma sequência que, mesmo não superando o original, mantém seu padrão e qualidade, e nos dá um bom entretenimento. Com um enredo com muito mais intrigas e ação na hora certa, continuando assim como seu antecessor um filme bastante atual.

Como no primeiro filme, aqui ele não enrola para nos colocar dentro da ação. Logo antes dos créditos, onde somos presenteados com um longo e belo plano sequência, a personagem principal dá cabo de alguns inimigos. A cena de ação é bem fluída, lembrando inclusive aqueles videogames de luta. Algo semelhante foi feito atualmente no Sul Coreano Oldboy.

Os créditos iniciais são um dos melhores que já vi. Onde temos uma melancólica música tanto o tom para uma longa cena de luta numa praia, em que a personagem principal enfrenta homens que querem prendê-la.



Assim como o primeiro filme, as cenas de ação não devem nada às atuais, inclusive considero melhores que muitos filmes contemporâneos. Você consegue realmente entender e ver o que está acontecendo, além de visualmente e violentamente belas, são bem coreografadas.

O filme não poupa a violência, sempre com o sangue em vermelho vivido. Inclusive com cruéis cenas de tortura. Mas, assim como no primeiro filme, mesmo as cenas sendo fortes, carregam uma beleza fria e quase poética. Por isso podemos perceber que a violência é algo deplorável na vida real. Mas no cinema e outros meios de arte, se for bem utilizada, pode ajudar em muito a trama e deixar a obra mais forte..

Sempre digo que cada país tem seu jeito peculiar, ou, diríamos, estilo de fazer cinema. Por isso, podemos ver que poucas obras ocidentais que tentaram emular o cinema vindo do oriente deram certo. Enquanto não acertam a mão por aqui, melhor continuar vendo as obras originais vindas do povo de olhos puxados. Pois de lá vieram realmente grandes obras primas. Por isso, perca um pouco o preconceito com obras vindas do oriente e dê uma chance para esses dois filmes tratados aqui. Garanto que vai se surpreender.


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