Lady Snowblood –
Vingança na Neve (Shurayukihime, 1973)
Vingança é um prato saboroso e que se come quente. Pelo
menos é isso que vemos no cinema, onde filmes sobre vingança e seus
desafortunados envolvidos costumam fazer sucesso e criar obras cult. Quem não
gosta de uma boa história onde uma pessoa faz justiça com as próprias mãos?! Um
exemplo muito famoso são os dois volumes da serie Kill Bill, realizados por
Quentin Tarantino que se inspirou muito no filme tratado aqui, mas isso
falaremos em breve.
Lady Snowblood –
Vingança na Neve é um filme cult de vingança, que permanecia inédito no
Brasil. Até agora, sendo lançando pela ótima distribuidora Versátil Home Vídeo,
que esta sempre lançando títulos em
apresentação de qualidade. O filme foi lançado num belo digistack com sua sequência,
e nos extras temos o trailer e uma análise sobre a obra.
Baseado no mangá conhecido como Yuki – Vingança na Neve
escrito por Kezuo Koike, (mesmo criador
do Lobo Solitário), e ilustrado por Kazuo Kamimura, Lady Snowblood foi lançado
nos cinemas em 1973, distribuído pela Toho. Época que o cinema estava mudando
no mundo todo e o chamado gênero exploitation estava começando a dar seus
maiores passos. Aqui temos uma mistura de chambara (filmes de samurai
japoneses) e o cinema exagerado e apelativo feito durante o período que a
película foi lançada.
O filme se passa durante o Período Meji no Japão, após 300
anos do shogunato de Tokugawa. Uma era de forte transição de sua cultura feudal
para a revolução cultural e social. Os ideais europeus de progresso social
começaram a serem aceitos. Uma época de varias mudanças, onde o país começou a
ficar economicamente e tecnologicamente estável.
Começando com o nascimento da personagem principal numa
prisão, Yuki Kashima, que, desde seus primeiros momentos, é marcada com algo
que seria o objetivo da sua vida: vingança pelas próprias mãos. Nascida vitima
de um estupro e com sua família praticamente morta, sua história é marcada pelo
forte senso de buscar justiça. Isso é contada de forma não linear durante o
filme. Com idas e vidas no tempo que mostram, por exemplo, seu duro treinamento
quando criança (destaque para a atriz mirim nesses momentos), ou ela mais velha
e pronta, indo em busca dos causadores daquilo tudo.
A personagem Yuki Kashima já adulta, interpretada por Meiko
Kaji, é apresentada logo no começo. E o filme não enrola para nos colocar
dentro da ação. Sem demora, logo nos primeiros minutos de filme vemos uma curta
cena de luta que nos dá o clima da produção. Se você não esta acostumado ao
jeito “exagerado” que os orientais filmam suas cenas, principalmente as de ação
(grandes espirros de sangue que parecem irreais, forte dramaticidade nas atuações, o uso
diferenciado da entonação de voz, violência forte mas quase cartunesca) aqui é
bom começo para se introduzir ao gênero.
Os créditos iniciais são apresentados tendo ao fundo a bela música
“Shura No Hana"”,
cantada pela própria Meiko, que, além de atriz, é uma famosa cantora no Japão.
A música fica na cabeça, assim como toda a trilha do filme, composta
por Masaki Tamura, que possui, em alguns momentos, um tom de tristeza bem
peculiar.
A fotografia de Masatoshi Tamura e direção de arte de Kazuo
Satsuya utilizam bem as cores e cenários apresentados. Com destaque para o
sangue vermelho em contraste com a branca neve. As cores aqui são muito vivas,
algo que dá gosto de assistir. Com cenas de extrema beleza contrastando com sua
violência quase poética. Algo que seria copiado muitas vezes depois, inclusive
em produções ocidentais.
A direção de Toshiya
Fujita, que possui vários creditos na sua carreira, é bastante eficaz e ágil.
Se utilizando de diversas formas para conta a sua historia. Mantendo o clima de
tensão durante todo o filme e não devendo nada para as produções de ação atuais.
Ele também se utiliza muito de planos longos e belos, sabendo mover a câmera
quando necessário.
Seu clímax é uma aula de como criar suspense e mostrar boas
cenas de ação. Com a personagem principal finalmente indo cumprir o que foi
designada desde o nascimento. Seu final é melancólico e direto, terminando na
hora certa.
Não é de se estranhar que esse filme tenha virado cult e referência
para muitos outros. Como falei antes, aqui temos formas diferentes de como
contar a história apresentada, deixando a obra dinâmica e bem atual. Como idas
e vidas no tempo, uma sequência de animação, a tela “pausando” para introduzir
o nome de certos personagens através de letreiros, narração off em cima de
fotos ou cenas, divisão por capítulos, entre outras coisas.
Meiko Kaji, nascida em 1947 como Masako Ota, virou cult
dentro e fora do Japão.Com uma longa carreira na musica, televisão e cinema. Entre
seus papeis marcantes estão a série Female
Convict Scorpion.. Sua atuação nesse
filme é fria e direta, sem muitas palavras e com uma forte carga emocional
guardada. Mas não é algo que compromete a trama, pois sua personagem pedia uma
interpretação assim.
Os dois Kill Bill de Quentin Tarantino,
principalmente no primeiro volume se inspiram em muito nesse filme. Temos
semelhanças entre personagens (a vilã de Lucy Liu é claramente baseada na
personagem de Meiko Kaji), a divisão por capítulos, cenários (como a luta no
jardim na neve), cenas e ângulos de câmera, diálogos e ate mesmo a utilização
da mesma trilha sonora .
Lady Snowblood – Uma
Canção de Amor e Vingança (Shurayukihime:
Urami Renga, 1974)
Também presente no lançamento nacional em DVD está
disponível sua sequência. Lady Snoblood –
Uma Canção de Amor e vingança.
Lançada um ano após e com novamente Toshiya Fujita na
direção e Meiko Kaji no papel principal. Comentando apenas sobre os dois,
podemos ver que eles melhoraram seus papeis entre uma produção e outra, pois
Meiko Kaji está mais à vontade como Lady Snowblood, assim como Toshiya Fujita
tem uma direção mais fluída que no primeiro filme.
Temos aqui uma sequência que, mesmo não superando o
original, mantém seu padrão e qualidade, e nos dá um bom entretenimento. Com um
enredo com muito mais intrigas e ação na hora certa, continuando assim como seu
antecessor um filme bastante atual.
Como no primeiro filme, aqui ele não enrola para nos colocar
dentro da ação. Logo antes dos créditos, onde somos presenteados com um longo e
belo plano sequência, a personagem principal dá cabo de alguns inimigos. A cena
de ação é bem fluída, lembrando inclusive aqueles videogames de luta. Algo
semelhante foi feito atualmente no Sul Coreano Oldboy.
Os créditos iniciais são um dos melhores que já vi. Onde
temos uma melancólica música tanto o tom para uma longa cena de luta numa praia,
em que a personagem principal enfrenta homens que querem prendê-la.
Assim como o primeiro filme, as cenas de ação não devem nada
às atuais, inclusive considero melhores que muitos filmes contemporâneos. Você
consegue realmente entender e ver o que está acontecendo, além de visualmente e
violentamente belas, são bem coreografadas.
O filme não poupa a violência, sempre com o sangue em
vermelho vivido. Inclusive com cruéis cenas de tortura. Mas, assim como no primeiro
filme, mesmo as cenas sendo fortes, carregam uma beleza fria e quase poética.
Por isso podemos perceber que a violência é algo deplorável na vida real. Mas
no cinema e outros meios de arte, se for bem utilizada, pode ajudar em muito a
trama e deixar a obra mais forte..
Sempre digo que cada país tem seu jeito peculiar, ou, diríamos,
estilo de fazer cinema. Por isso, podemos ver que poucas obras ocidentais que
tentaram emular o cinema vindo do oriente deram certo. Enquanto não acertam a
mão por aqui, melhor continuar vendo as obras originais vindas do povo de olhos
puxados. Pois de lá vieram realmente grandes obras primas. Por isso, perca um
pouco o preconceito com obras vindas do oriente e dê uma chance para esses dois
filmes tratados aqui. Garanto que vai se surpreender.
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