sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Remake não precisa ser ruim

Eu sou um grande fã de cinema em todas suas formas, mas sou principalmente fã de filmes de terror. Produções do gênero que eu assistia quando adolescente me fizeram entrar de verdade no mundo da sétima arte. Por isso, mesmo hoje em dia assistindo todo que é tipo de filme, guardo um carinho e acompanho com mais atenção filmes com monstros, assassinos, fantasmas e terror em geral.

Uma coisa que vem acontecendo hoje em dia é o grande publico ser exposto a uma grande leva de refilmagens de filmes, clássicos ou não, obscuros ou conhecidos e deixando a ousadia da novidade de lado. Bom, quem tem o mínimo conhecimento sobre as produções atuais sabe que isso não é totalmente verdade e que tem muita coisa boa e original saindo pelo mundo todo, como visto na primeira postagem desse blog.

Mas o ato de refilmar nunca esteve tão forte como hoje em dia. Falta de criatividade dos grandes estúdios? Possivelmente, o fato que isso é prejudicial para o gênero de algum modo. Pois quanto mais refilmagens surgindo que “encobrem” as produções originais, menos o publico tem acesso a elas e assim fica com a ideia de que o gênero esta estagnado.

Remake pode ser crise de criatividade hoje em dia, uma mania fácil de ganhar dinheiro aproveitando da obra original,seja muito famosa ou não. Mas antes era sinônimo de dar um “up” no original fazendo-a virar uma obra nova e própria

Abrindo um parêntese, o ato de refilmar obras conhecidas não é de hoje e nem exclusivo do gênero terror. Desde o inicio do cinema obras foram refeitas, muitas vezes pelo mesmo diretor! Lembram do clássico Os Dez Mandamentos do Cecil B. DeMile com Chalton Helston? É uma refilmagem de um filme mudo feito anos atrás pelo próprio DeMile. Por falar em Charlton Heston e épicos, Ben-Hur, famoso ganhador de onze oscars também é uma refilmagem de um filme mudo. Scarface com Al Pacino? Outra refilmagem. A lista continua até hoje, com filmes como Onze homens e um Segredo e feitos por diretores renomados como Martin Scorsesse que tem duas refilmagens na carreira, respectivamente Os Infiltrados e Cabo do Medo.

Aqui no Brasil temos exemplos como Matou a Família e foi ao Cinema, O cangaceiro entre outros.

E no gênero terror, não é de hoje que se refilmam filmes. Podemos começar, por exemplo, vendo o ciclo de filmes clássicos da Universal. O auge dessa produtora no gênero foi entre os anos 1930 e 1950. Praticamente uma fábrica de filmes clássicos e divertidos onde todos os monstros lendários da cultura popular e literatura deram as caras.

Drácula (1931) e Frankestein (1931) podem der dado aquela imagem clássica dos monstros ,a que lembramos quando ouvimos seus nomes e levado ao estrelato os atores Bela Lugosi e Boris Karloff,  mas não foram os primeiros filmes feitos baseados nessas criaturas
(imagem).

Tendo surgido na literatura graças a Bram Stoker e Mary Shelley. A mais antiga adaptação do livro Drácula conhecida é de 1921, o hoje perdido filme húngaro Drakula Halála e do romance Frankestein é de 1910, autointitulado e também perdido

O exemplo mais clássico, e considerado a mais antiga adaptação do livro de Bram Stoker existente, é o expressionista alemão Nosferatu de F.W. Murnau. Dessa obra
foi feita uma refilmagem muito eficiente dela em 1979 dirigida por Werner Herzorg.



Continuando com adaptação de monstros clássicos da cultura popular e literatura, é impossível não falar dos clássicos filmes da produtora inglesa Hammer. Talvez os melhores remakes para mim sejam as primeiras adaptações feitas por ela. Praticamente todos os personagens clássicos do horror passaram por suas mãos, entre elas o vampiro, a múmia, o monstro de Frankenstein, o lobisomem entre outros. Dando vida nova para esses clássicos personagens que estavam esquecidos visto que na época o cinema estava infestado de filmes sobre animais gigantes causados pelo medo nuclear.

Tendo seu auge entre o fim dos anos 50 e começo dos anos 70, as produções eram muito mais “hardcore” que as feitas pela Universal. Com o clássico tom gótico inglês e acrescentando mais erotismo e violência. Com um chamativo sangue, agora num vermelho bem colorido. Os destaques certamente são os primeiros filmes das série feitas para os personagens Drácula e Frankestein, respectivamente Horror of Drácula (O vampiro da Noite no Brasil) e Curse of Frankestein (A maldição de Frankestein).

Ambos estrelados pelos atros Christopher Lee e Peter Cushing, que hoje são lendas do gênero. A química da dupla é tão grande na tela que a parceria durou por vários filmes, fazendo principalmente o papel de opostos.

Mesmo parecendo filmes ingênuos hoje em dia, as produções da Hammer podiam ser consideradas pesadas naquela época. Com muito mais ousadia que as produções da Universal por exemplo.



Vamos dar um pulo no tempo agora e ir para uma das melhores décadas para filmes de horror, os anos 1980 e 1990

A Mosca (The Fly,1986) do David Cronenberg só tem do original o argumento básico, lançado aqui como A mosca da Cabeça Branca e estrelado por Vicent Price. A historia sobre um cientista, interpretado por Jeff Goldblum, que cria uma máquina de teletransporte e acaba lenta e dolorosamente se transformando num homem mosca depois de um acidente, virou um dos maiores clássicos dos anos 80 e da filmografia de um respeitado diretor. A mosca usa dos seus ótimos efeitos para criar cenas nauseantes, como a gradativa transformação do homem em mosca. Certamente uma das melhores fusões de terror com ficção cientifica.



Outro filme que segue essa linha é O enigma do outro mundo (The thing, 1982), dirigido pelo mestre John Carpenter. O filme é um colírio nos olhos de quem gosta de ver bons efeitos práticos e uma aula de como se criar suspense e tensão. Quem não se lembra da famosa cena do teste de sangue? Além desse, o diretor tem outra refilmagem na sua carreira, o A cidade dos amaldiçoados de 1995.


Tom Savini alem de cuidar dos efeitos especiais de filmes (ele que fez a maquiagem no primeiro e quarto Sexta-feira 13,  no filme slasher Quem matou Rosemary?, Creepshow e Dia dos Mortos por exemplo) também se arrisca como ator e diretor. Como ator você deve lembrar dele no filme Um drink no inferno e como o motoqueiro no final do Despertar dos Mortos.

Como diretor, fez um dos melhores remakes já produzidos. Estou falando da refilmagem do A noite dos Mortos Vivos de 1968, clássico em preto e branco do George Romero que iniciou o gênero de filmes de zumbi moderno.

A refilmagem de A noite dos Mortos Vivos, lançada em 1990, agora com cores e efeitos melhores é um filme ágil na sua ação e construção dos personagens. Com algumas diferenças que fazer o filme ser uma surpresa para quem conhece o original. Um destaque é para a personagem Barbara, que no original é uma completa inútil e nessa refilmagem ganhou uma bela mudança, fazendo ficar uma verdadeira fodona nos moldes de Sarah Connor e Ripley.



Voltando para os personagens Dracula e Frankestein, nos anos 1990 foram lançados dois filmes famosos baseados nos livros. Drácula de Bram Stoker, famoso filme do Coppola que colocou pitadas de romance na obra. E Frankestein de Mary Shelley' dirigido e atuado por Kenneth Branagh. Um filme muito criticado ,  mas que confesso gostar muito.

Refilmagens também foram muito importantes para o publico ocidental começar a conhecer as pequenas pérolas vindas do oriente. Tudo isso graças ao filme O chamado, lançado em 2002. Mas isso vai ser assunto para outro post.

O filme que pode ser considerado o grande culpado dessa nova leva de refilmagens que assola o cinema americano é O Massacre da Serra Elétrica lançado em 2003. Um filme divertido, com boa violência e uma atuação memorável de Ronald Lee Ermey que rouba a cena. Mas apesar disso tudo, está longe de ter a crueza, crueldade e tom macabro do original, que perturbava em não mostrar a violência, mas em apenas sugeri-la, sem contar a fotografia em tom documental que o deixa mais realista.



Por um lado o ato de refilmar filmes pode ser bom para uma coisa: fazer o original ser (re)descoberto por uma geração que nunca ouviu falar dele. Assim, clássicos não tão populares como Quadrilha de Sádicos, A vingança de Jennifer, O maníaco, entre outros, apresentaram um tipo de terror que pode não ser tão popular como Freddy’s e Jason’s da vida, mas que valem a pena.

Lógico que, na prática, nem sempre isso acontece, muita da geração nova não aguenta ver “filme velho”, por melhor que ele seja. Mas sempre bom ter esperança sobre o futuro.

Concluindo o pensamento, nem sempre uma refilmagem precisa ser ruim. É possível fazer uma obra nova, original, de qualidade que respeite o original e até á supere. Para isso vale muito a mão e potencial de quem está envolvido. Quanto ao grande número de refilmagens de baixa qualidade que estão saindo nos últimos cinco anos. O critério de ver fica para você, mas saiba que o gênero não se resume a elas.



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